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PROGRESSO DO MUNDO CÃO (para Eric J. Hobsbawm, autor do livro A ERA DO CAPITAL) Nunca, durante toda a vida, acordou um dia cedo, salvo o dia de hoje. O horário dele acordar, independentemente do dia da semana, é sempre entre nove a dez horas, embora tenha dias que, mesmo acordando num desses horários, ele continua na cama, espreguiçando-se de um lado e do outro, até, finalmente, levantar para tomar café, isso já quase meio dia. O que lhe levou acordar o dia de hoje cedo, foi, infelizmente, uma batida de carro num poste da rua, a poucos metros de onde João Augusto morava. O barulho que fez foi tão grande que parecia uma bomba explodindo dentro do quarto dele. Do susto que levou imaginou, inicialmente, que o prédio estava caindo, mas, assim que percebeu que veio da rua ele acabou abrindo a janela para ver o que tinha ocorrido. Eram umas seis e trinta da manhã. O sol ainda era tão fraquinho que sequer incomodou seus olhos, ao direcioná-los para a rua, para o que acontecera, ainda dando para ver aquela fumaça negra subindo, vindo dos destroços de um carro que ficou completamente destruído. Do interior dos destroços a equipe de salvamento resgatava os corpos, sem vida, e dois deles, sendo retirado como que aos pedaços. Eram, ao todo, cinco jovens dentro do carro. Todos adolescentes. O mais novo talvez não tivesse mais que dezessete anos. A violência do impacto do veículo contra o poste foi de tamanha violência, que um dos mortos foi arremessado para fora do carro a uma distância de uns quarenta metros. Quando a equipe de salvamento foi pondo as vítimas no chão, quatro, foi que uma mulher, vindo do outro lado da rua, gritava que tinha outro morto. Assim que o outro corpo foi posto ao lado dos outros, a imprensa jornalística e televisiva fazia aquele cerco em torno do ocorrido, fotografando e fazendo as primeiras entrevistas a um ou outro transeunte que por ali passava. Os comentários, lá embaixo, eram que todos estavam vindos de uma festa, que haviam consumido muito álcool e drogas. Assim que o carro do Instituto Médico Legal levou os corpos João Augusto procurou se aliviar do susto recebido procurando apreciar, à sua frente, a beleza do mar, mas tendo que, novamente, ficar estarrecido com a cena que avistou, enquanto apreciava uma mulher, tranquilamente, fazendo Cooper, com um som no ouvido que, pelo jeito, parecia ser do celular que estava preso na cintura. Um desses moleques de rua, possivelmente sob o efeito de alguma droga qualquer, correu para cima dela e, aplicando-lhe uma facada em suas costas, arrancou-lhe o aparelho que se encontrava em sua cintura. - Socorro! Socorro! Socorro! – gritava a mulher, no chão, ensanguentada. Como não apareceu ninguém para socorrê-la, embora algumas outras pessoas estivessem passando próximo dela, também fazendo Cooper. Como João Augusto percebeu que ninguém socorria a mulher, e ela parecia estar perdendo muito sangue, ele acabou ligando para o número da polícia e informando o ocorrido, já que ele, também, não queria sair da sua comodidade para arriscar sua própria vida, num horário que, por ser ainda muito cedo, havia poucas pessoas na rua, senão aquelas que ou estavam fazendo atividade física ou estavam indo para o trabalho. Voltou, novamente, da janela, a apreciar o mar, sem conseguir, em razão da sirene do carro da polícia, que, possivelmente, teria sido o socorro que ele havia solicitado, por telefone. O carro da polícia vinha a toda velocidade, o que levou João Augusto a imaginar que um pouco da mentira dita pelo telefone acabou funcionando além das suas expectativas. Quando ele ligou para a polícia havia dito que um turista alemão havia sido esfaqueado por um moleque de rua. Teve que mentir num detalhe, porque, segundo ele, se dissesse que se tratava de uma cidadã brasileira esfaqueada, bem provável que o socorro demorasse muito, podendo até não chegar. Quando a polícia saltou do carro, juntamente com uma ambulância que vinha fazendo apoio, era, talvez, quase oito horas e o sol estava bem forte. Assim que os policias ajudaram a colocar a mulher na ambulância, João Augusto suspirou aliviado, achando que a mulher seria imediatamente levada dali para algum Hospital mais próximo, mas acabou se enganando: quando a ambulância quis dar partida, foi obrigada a não sair, devido a um tiroteio que, do nada, surgiu em plena rua, quando, novamente, uma grande explosão causou-lhe novo susto, talvez dez vezes pior do que o que havia sofrido logo pela manhãzinha. Além da explosão, quase um quarteirão da rua foi tomada por uma fumaça negra e muito densa, que chegou invadir seu quarto. Assim que a explosão fez subir pelos ares muitos estilhaços, os policiais que estavam socorrendo a jovem esfaqueada, tiveram que abandonar a jovem e se juntar a outros policiais que estavam, naquelas mediações, combatendo a um assalto, a bomba, numa agência bancária. A rua parecia uma praça de guerra, tomada pela fumaceira, destroços de objetos caindo pelo chão, causando barulhos estranhos e diferentes, enquanto, no meio daquela fumaça toda, o som de balas vindo de todos os lados. Uma dessas balas, infelizmente, acabou atingindo uma criança que estava sendo levada pela mãe para a escola, deixando a mãe em estado de pânico, desesperadamente gritando por socorro. Desta vez João Augusto fez menção de pegar o elevador ou descer as escadas do prédio para socorrer a pobre mãe, mas, felizmente, um motorista de ônibus resolveu parar o veículo em plena rua e, abandonando-o na rua, tomou a iniciativa de pegar um táxi e, junto com a pobre senhora, pegar o rumo de alguma Clínica ou Hospital mais próximo, embora não sabendo que a criança já estava morta, nos braços dela, da mãe. Com receio dos tiros, João Augusto encostou mais a janela e, pela greta, ficou observando se, afinal, a mulher que fora esfaqueada havia sido socorrida ou não. Ele fez um esforço levantando a cabeça para ver se avistava a ambulância no local e não conseguiu, devido ao barulho de tiros que foram aumentando e parecendo cada vez mais próximo da janela. Até que o barulho acabou se misturando aos gritos de “queima!”, “queima!”, “queima!”. Quando ele virou em direção de onde os gritos estavam vindo, foi que, subindo pelos ares, uma enorme labareda de fogo: passageiros e populares, possivelmente, tinham incendiado o ônibus, revoltados por ter o motorista deixando ali, para socorrer uma vida. Quando tudo, finalmente parecia calmo, a ambulância já havia levado a mulher, que acabou morrendo a caminho do Hospital, quando os policiais conseguiram matar dois dos nove bandidos que explodiram o Banco, quando os corpos dos adolescentes já haviam sido levados para os exames cadavéricos necessários foi que João Alberto, imaginando que fosse respirar aliviado, tentando olhar a beleza do mar, foi que, bem abaixo da janela onde ele estava, uma mulher recebia de dois homens uma soma alta em dinheiro, enquanto ela passava um embrulho enorme, com quase um metro de tamanho, todo enrolado, como se fosse uma caixa contendo algo dentro, ou, quem sabe lá, a vida de algum bebê sendo comercializado. Quis ligar, novamente para a polícia, mas, já era tarde: a mulher pegou imediatamente um táxi, enquanto os dois homens entravam num carro de luxo, misturando-se ao trânsito da cidade. Quando João Augusto acordou, estava todo suado. - Que sonho mais doido – disse ele, deitado, na cama, parecendo um bebê no berço, quando: Não era nem sete horas, quando, pela primeira vez na vida, João Augusto acordou cedo, devido a um estrondo acontecido a poucos metros do seu prédio. Tomou um susto tão grande que pensou que fosse dentro do seu próprio quarto. Quando abriu a janela foi que viu um carro completamente destruído e um poste caído. - Tem outro morto aqui – gritava uma mulher, vindo do outro lado da rua, desesperada. Salvador, 18.11.2013 Guina de Guina
Posted on: Mon, 18 Nov 2013 19:04:38 +0000

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