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Para Carina Ribeiro LIVROS NA INTERNET, SEM PAPEL, LEITURA SEM GRAÇA João Ribeiro Junior Especialistas prevêem que o livro impresso, de papel, vai tornar-se obsoleto por causa dos sistemas eletrônicos de distribuição de texto. De fato, isso não é impossível de acontecer: hoje em dia, grande parte da comunicação escrita que circulava por cartas, jornais e revistas passou para a tela do computador e para a imensa biblioteca digital na Internet, que disponibiliza livros completos, para a leitura e até a impressão dos mesmos. Se o pior acontecer e o livro de papel seguir o mesmo caminho dos rolos de papiro e dos códices de pergaminho, pressinto que vamos sentir falta dele, por vários motivos. Eis alguns: As fileiras de livros nas estantes (e o tenho por volta de 15.000 volumes) aquecem e iluminam, metaforicamente, a sala mais escura, enquanto os volumes espalhados aqui e ali indicam processos mentais em atividade; são livros em fase de consumo, temporariamente abandonados, mas que podem ser prontamente retomados amanhã ou no ano que vem. Ao lado da poltrona, da rede, da cama e mesmo no banheiro, eles são uma promessa de libertação cômoda, imediata e silenciosa deste mundo para um outro, sem movimento além do livre e imperceptível engrenar das células do cérebro. A facilidade de acesso e a velocidade de armazenagem tornam o livro praticamente imbatível (se a luz se apaga por falta de energia elétrica, podemos usar da lanterna, ou acender velas e continuar a leitura). Por outro lado, menor que uma cesta de pão e maior que o controle remoto da TV, o livro normalmente se encaixa na mão num aconchego sedutor, um beijo de textura, quer tenha capa de pano, de papel, sobrecapa acetinada, ou em couro, marroquim ou simples napa. Seu peso repousa na mão por horas a fio sem que ela dê sinal perceptível de cansaço. O livro não provoca a L.E.R. (lesão por esforço repetitivo), nem cansa os olhos pela luminosidade da tela do computador. As letras do texto, produto de mais de cinco séculos de saber dos impressores, se deixa decifrar com uma doçura tal que raramente nos damos conta da diferença que há entre imergir num mundo imaginário e observar com atenção a mobília da sala. Seja como for, qualquer que seja a sua apresentação, um livro ainda é melhor companhia na poltrona, no sofá, no banheiro e até na cama, que um laptop, zumbindo, plugado ou não num fio, projetando luminosidade que fere a vista. Nada como a visão de camadas de volumes lidos, ou lidos pela metade, ou à espera de serem lidos. Os livros preservam, delicadamente, a fragrância da primeira leitura. Pelo menos, para mim, que sou um leitor constante, sem esse testemunho físico, minha vida seria espectral. Os livros (mais de 15 mil) desfilam nas estantes, à minha volta, e não apenas como extensão do meu passado, fincando seus alicerces em minhas anotações feitas nas margens, mas também se alçando até as nuvens das nobres intenções. Livros que aguardam para serem lidos, pesados como uvas não colhidas, almiscarados, com meses de pó que num segundo se espaira ao subitamente, serem manuseados, quando, enfim, chega o momento triunfal de serem folheados e absorvidos. Que sensação folhar um livro! É como estivéssemos junto ao autor, ouvindo-o. Os livros ainda não lidos constituem a garantia de um futuro infinito de prazer e encantamento, assim como seus irmãos já lidos, mas em grande parte esquecidos, formando uma reserva infinita de potenciais releituras, por novos ângulos e descobertas num terreno em que as marcas de nossas pegadas se desvaneceram. Os livros exteriorizam nossa mente e transformam nossas casas em corpos pensantes. Em contrapartida, todo dispositivo eletrônico de distribuição de texto carece de substância. O computador (e hoje o tablet) é uma máquina, mera máquina, um punhado de bits como velocidade (bps). Isso sem falar, da sua obsolescência. Em poucos anos tornam ultrapassados, quando não inoperantes. Os livros são eternos e trazem a alma de seus autores, deleitando a alma de seus leitores. Que máquina pode oferecer tal sensação de conforto, encantamento e prazer?
Posted on: Sat, 10 Aug 2013 22:22:31 +0000

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