Quando comecei a escrever este texto, ontem à noite, já - TopicsExpress



          

Quando comecei a escrever este texto, ontem à noite, já começava a me emocionar. Agora lendo, nem sei se vou conseguir. É um momento muito difícil. Sei que não apenas para mim, mas para todas as pessoas que tiveram ou terão o privilégio de passar para reserva. Nós, militares, somos Highlander: o Guerreiro Imortal. Apesar da despedida, nunca vamos deixar de sê-lo. O militarismo está no sangue. Há mais ou menos 27 anos, lá na Base Aérea de Santa Cruz, servindo como soldado no Primeiro Grupamento de Caça da Força Aérea Brasileira, eu tinha, entre tantas funções atribuídas a mim, as quais exercia com muito orgulho, a tarefa de acender os alvos do estande de tiro, que iriam servir de balizamento aos pilotos de caça durante os exercícios operacionais. Esses exercícios, sempre aconteciam após o término do expediente: à noitinha. A minha missão era pegar uns dez galões, cheio de estopas, misturadas com óleo queimado, levá-los numa Kombi, até a área de tiro. Colocava meu bute (cuturno) e me embrenhava no mangue de Sepetiba, para distribuir os dez galões, numa linha imaginária, em dez e dez passos; depois voltava acendendo os galões. Dez anos depois, já em Brasília, no Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, encontrei um dos pilotos, contemporâneo do Primeiro Grupamento de Caça. Certo dia, contei a história dos alvos para ele; e tive que perguntar: Chefe, eu corria algum risco de ser atingido por um tiro, ou pisar numa bomba? A resposta veio na lata: risco total. Por que você acha que a gente mandava soldado? *** Sei que muitos que estão aqui tem ou terão, pelo menos um momento marcante na carreira pra contar, pois além de guerreiros imortais, somo solidários, irmãos de arma. Quando deixei o Rio de Janeiro, em 1989, tinha apenas 23 anos. Desde então, vivo em Brasília, onde edifiquei meu lar, minha família. Queria que eles estivessem aqui agora. Mas por circunstâncias, não puderam. A caserna é nossa segunda família. Passamos mais tempo com nossos colegas de trabalho, do que com os nossos próprios familiares. Juntos, vivenciamos experiências: durante o expediente, no serviço, nas missões. Compartilhamos dificuldades e, quase sempre juntos, encontramos a solução. Agradeço a Força Aérea Brasileira por ter me proporcionado uma vida. Agradeço a Deus, por ter salvado a minha vida. E ao meu incondicional amigo, e irmão, Márcio Bernardo, por ter me socorrido há tempo ao hospital. Agradeço meu saudoso pai, que foi uma das poucas pessoas que sempre acreditou e investiu em mim. A minha saudosa mãe, de quem herdei o poder da humildade e resiliência. Minha esposa amada, meus queridos filhos, irmãos, minha família: meus tesouros, meu porto seguro. Agradeço a todos os meus amigos: os displicentes, os frequentes e os intensos. Aos meus colegas de trabalho, com os quais pude compartilhar momentos inesquecíveis e impublicáveis. Agradeço também a todos os chefes que tive. Graças a eles, do mais rude ao mais amigo, sempre pude aprender alguma coisa. *** No dia 14 de setembro deste ano, faria 27 anos de serviço. Há pouco mais de um ano, estou aqui na Presidência: meu último local de trabalho. Apesar de possuir grande identificação e carinho pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, unidade para a qual servi por mais de 10 anos, é aqui na SPR, onde encerro o serviço ativo nas Forças Armadas. Obrigado pelo acolhimento de todos. Desculpe-me se não correspondi às expectativas. Saio, não por vontade própria, mas por determinação superior; mas saio com a consciência do dever cumprido. “Um filósofo já dizia: Um ser humano só cumpre o seu dever quando tenta aperfeiçoar os dotes que a natureza lhe deu.” Minha vida sempre foi pautada por esse princípio. Estou sempre buscando me aprimorar. Não apenas profissionalmente, mas também como pessoa e, sobretudo, no engrandecimento da alma. *** Quero dizer também que, apesar da minha condição limitadora, ainda não estou vendo anjos, como afirmam alguns amigos. Minha luta continua. Não mais nas fileiras das Forças Armadas, mas, com certeza, em algum lugar, tentando sempre fazer o melhor. *** Enfim, eu tive o privilégio de ser um Highlander, como muitos de vocês o são. Mas sou também um Bravehearth. Um Coração Valente. Portanto, deixo aqui meu exemplo de vida. Não esperem o coração adoecer para mostrar do que ele é capaz. Sejam valentes agora! Obrigado. Brasília. 16 de Agosto de 2013.
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 15:04:45 +0000

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