Quando eu trabalhei na Rodrimar eu tive um amigo que se chamava - TopicsExpress



          

Quando eu trabalhei na Rodrimar eu tive um amigo que se chamava Reginaldo. Mas eu chamava ele de Robinho. Porque ele parecia o Robinho do Santos. O Robinho é um daqueles caras do povão. Que compensa a falta de dinheiro e diploma. Com abundância de bondade e honestidade. O Robinho me ensinou algumas coisas que eu vou levar pra vida inteira. O Robinho é corinthiano fanático como eu. Mas durante uma partida do Corinthians, ele sofre muito mais do que eu. Me lembro de assistir um jogo com ele. E eu estava com mais dó do sofrimento dele do que do meu. Minha sala na Rodrimar era infestada de santistas e são-paulinos. Era meio que um castigo de Deus pra mim. Por eu sempre fazer questão de ser um dos corinthianos mais chatos com esses dois tipos de torcedores. E eu merecia mesmo! Deus tinha razão. Em 2009, o Corinthians do Fenômeno atropelou o São Paulo e o Santos. Eu, claro, tripudiei tudo o que podia. Gastei todo arsenal possível e imaginável de piadas com os meus colegas de escritório. Até porque, se os resultados fossem inversos. Eles é que estariam gastando no sarro da minha cara. Como eles sempre fizeram. Mas o Robinho não. Acabou aquele campeonato que o Ronaldo havia bagunçado. E o Robinho não zuou ninguém. Não brincou com ninguém.Não falou com ninguém sobre o jogo. Ninguém ali era corinthiano. Por isso ele não via motivo. Depois de eu me esbaldar de tirar sarro, eu fui pra cozinha pegar um café. E lá estava o Robinho. Fui na direção dele e perguntei: "Robinho, vamos lá zuar com a cara desses caras, desses manés, o Ronaldão zuou com esses otários, fez até gol de cobertura vamos lá causar..." O Robinho virou pra mim e disse:" Não Gabriel. Eu não tiro sarro de ninguém sobre futebol. Eu sou Corinthiano fanático. Eu odeio que alguém fale mal do meu time. Quando eu vejo alguém falando alguma coisa do meu time, eu fico com vontade de dar um soco na cara da pessoa. Eu arrumo briga. Por isso desde moleque eu me acostumei a nunca tirar sarro do time de ninguém. Eu não falo mal do time de ninguém. Porque se alguém um dia falar do meu Corinthians pra mim, pode ter certeza que eu vou brigar." Eu fiquei olhando meio assutado. Pensando o que qualquer um iria pensar. "Nossa! É só futebol. Que bobagem!" Voltei pro escritório e continuei a zueira com os antis que curtiam da zuera. Quando o Robinho saiu da sala, perguntei pro Alex, o encarregado do escritório, um dos santistas mais chatos que já tive o orgulho de conhecer na vida: "O Robinho não fala de futebol né?". E o Alex me respondeu:" Não! Com ele aqui ninguém brinca. Ninguém tira sarro. Porque ele fica nervoso e não aguenta. Eu estou aqui há quase uma década e a gente sempre assistiu os programas de futebol da hora do almoço juntos. E eu nunca vi esse cara fala um "a" sobre Santos, São Paulo ou Palmeiras. Nem mal nem bem. Ele só fala sobre Corinthians. Eu nunca vi ele fazer uma crítica sequer pra outro time que não seja o time dele." - Fiquei com aquela história estranha na cabeça. E a vida continuou. Mais de um ano já tinha se passado. E veio a tão gloriosa Toliminação pro Tolima. Os caras do escritório, claro, não iam me poupar. Como não pouparam. E como não deveriam. Nem precisavam. Eu aguentei uma zuera homérica. Com direito a me aconselharem a falar pra uma garota que eu iria amar ela até o Corinthians ganhar uma Libertadores. Porque as minas piram em amor eterno! E mais uma dúzia de milhões de outras piadas. Eram 10 zuando. Contra eu sozinho, desolado! Tadinho de mim! kkk Até que o Robinho entrou pela porta. De repente, o estoque de piadas se acabou totalmente. Ninguém falou absolutamente mais nada. Ficou um silêncio. Na minha cabeça, surgiu instantaneamente um pensamento de dizer "zoa agora, o Robinho está aqui pra me defender!" Mas quando eu olhei pra cara do Robinho. Ele parecia que tinha vindo de um enterro. Seus olhos estavam marejados. Ele virava a cara tentando disfarçar. Mas ainda sim. Pegou sua água. E saiu fora. Era nítido que de algum modo ele deveria ter escutado o monte de piadas denegrindo o Coringão que se falava dentro do escritório. Que eram todas para mim. E só para mim. Por isso, mesmo escutando o monte de anedotas que o magoava. Ele respeitou as pessoas que ali estavam. E entrou mudo. E saiu calado. Sem falar absolutamente nada. E ninguém também se atreveu a falar nada. Enquanto ali ele se encontrava. Depois que ele saiu da sala. A zuera continuou. Eu merecia ser muito zuado, a zuera não poderia acabar. Eu mereço muito ser zuado por futebol. Porque eu sempre fui (e sempre vou ser) muito chato e folgado. Eu mereço! E adoro. Tanto zuar como ser zuado. Depois que a graça foi-se perdendo. E eu estava saindo fora do trampo. Vi o Robinho sentado em um canto. Fui até ele e falei : "Fica assim não Robinho. Mais cedo ou mais tarde nosso timão vai ganhar esse campeonato de merda. Até a LDU e Once Caldas ganharam. A gente vai ganhar e vai ser mais rápido do que a gente pensa." O Robinho soltou um sorriso. E disse pra mim" Se eu tivesse naquele escritório eu tinha batido em todo mundo. Não sei como tu aguenta." Eu dei risada e respondi "eu aguento, eu sou sarrudo. Acho que é porque talvez eu seja menos corinthiano que você, vai saber." Saí andando pra pegar o meu rumo quando o Robinho me chamou mais uma vez " Gabriel!" Voltei. "A hora que você falou que por causa do Tolima os santistas iriam ser obrigados a assistir jogo de Libertadores na TV Santa Cecília foi legal! Eu ri!" Disse o Robinho soltando uma risadinha contida. Me virei pra ele e falei. "Fica tranquilo Robinho! Dessa eu não vou contar pra ninguém. Quando tiver só comigo, desce o porrete nesses times de merdas que é tudo nosso!" E depois rimos juntos mais um pouco. E a vida continuou. E o Robinho continuou sem nunca brincar com ninguém sobre futebol. Na mesma. E eu continuei sendo o corinthiano chato e folgado com todo não corinthiano que é chato e folgado. E o que o Robinho me ensinou? Duas coisas. A nunca brincar com quem não brincar comigo. O que nunca fiz e não faço. E a entender que não ganhamos respeito pelo que falamos. Mas sim pelo que fazemos. O Robinho ganhou respeito fazendo. Não mentindo. Por isso, nunca respeitei quem me pede pra não rir da sua cara. Mas ri das dos outros. Só respeito, quem eu vejo respeitando. Não respeito quem pensa que é esperto. Eu tenho costume de avisar as pessoas. Que mentir pra mim, é perda de tempo. Malandragem pra mim, é ser transparente. Verdadeiro. Tendo ou não tendo razão. Os meus bons são aqueles que assumem suas fraquezas. Não os que as escondem. Às custas de violar os outros. Por malandragem ou esperteza. E o que eu ganhei dando tanto valor pro Robinho? Um cara pobre sem estudo que trabalhava como peão no cais? Não muita coisa. Quando virei para o Robinho e perguntei "Posso ti chamar de Robinho?" Ele me respondeu "Pow Gabriel Robinho é idolo do Santos,assim você me quebra! Mas beleza, você é sangue bom, você pode!" Pra mim, escutar isso foi uma honra! Poucas vezes me senti alguém tão importante. Faz anos que não vejo o Robinho. Tenho saudade de nossos papos sobre o Coringão. Ele é uma daquelas pessoas que mesmo que passe pouco pela nossa vida. São capazes de deixarem sua marca. O que ele me deu nosso mundo não tem costume de valorizar muito. Nunca ganhei um centavo com o Robinho. Ele só me deu algo que é uma das coisas que eu mais valorizo nas pessoas que vou conhecendo ao longo dessa minha breve existência. Aprendizado! O Robinho me ajudou a me tornar um ser-humano melhor pra mim mesmo. Ninguém com nenhum cheque assinado é capaz de substituir isso. Sem diploma do colegial, Robinho deu uma aula de humanidade para um cara que já está na segunda faculdade. Que é conhecido por sempre se achar soberbo e mais inteligente do que todo mundo. Que adora cutucar pseudo-sabichões. Mas que sempre se esforça pra se manter atento. Ao que os considerados ignorantes ou analfabetos. São capazes de lhe ensinar...
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 20:12:32 +0000

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