Quando me principiei na tentativa de entender algo mais da política brasileira, por volta de 1989, na primeira eleição direta para presidente desde 1960, havia duas opções à esquerda que eram mais influentes : o PT de Lula e o PDT de Brizola. Achei que o PT era mais resolutamente de esquerda, a figura do operário de barba era muito persuasiva, mas não só, havia toda uma intelectualidade progressista , a primeira prefeita mulher e nordestina da maior cidade da América do Sul, um pé no ativismo católico, braços dados com a mobilização camponesa e até a luta pela defesa da Amazônia, na figura do inesquecível Chico Mendes. Já o PDT , além da emblemática figura de seu líder, de épica trajetória na política brasileira, tendo enfrentado, enquanto governador gaúcho, o enclave golpista ainda em 1961, quando da renúncia de Jânio e da tentativa de obstar a volta de Jango ( o vice-presidente que estava na China quando da enigmática renúncia ), e depois passado quase 20 anos no exílio, trocando, na volta, seu domicílio eleitoral pelo Rio de Janeiro e se tornando o único político brasileiro a governar dois estados diferentes, o PDT parecia pouco mais do que um partido de um homem só. Pior, tendo sido vítima de uma chicana grosseira dos herdeiros de Vargas, que lhe tomaram o nome PTB , o trabalhismo brasileiro parecia já velho e carcomido em 1989. É verdade que tinha a seu lado um dos maiores intelectuais nacionalistas do Brasil, o inesquecível Darcy Ribeiro. Também era inegável a consistência de seu discurso e sua inteligência, mas eu ainda era muito imaturo, com meros 13 anos, para vislumbrar seu profundo conhecimento da sociedade e da política brasileiras àquela altura. Mas já percebia um brilho determinado no seu olhar, uma força estranha, como diria Caetano. Seu primeiro governo no Rio foi uma queda de braço com a Globo desde o primeiro instante, dado que a televisão do regime militar se envolveu numa tentativa de fraude eleitoral tão abjeta que mereceria , já em 1982, perder a concessão pública. Mas ele conseguiu criar uma marca ligada à educação que foram os CIEPS. ( Meus amigos cariocas com certeza poderiam me informar o que resta daquelas escolas em tempo integral idealizadas por Darcy) . Dentro dessa pendenga incessante contra o maior monopólio de comunicação do continente, em sua sede, é difícil avaliar objetivamente certos e erros de sua administração. Mas continuou uma referência nacional incontornável . Logo depois de 1989, quando ele não foi para o segundo turno por um tris ( a avaliação corrente é que ele destruiria o Collor ) justamente pela ascenção do Lula, em 90 ele se reelegeu governador fluminense. Esse video aqui é de 1994, e é inescapável a sensação de premonição do gaúcho Leonel ao comparar Lula e FHC. Nenhum dos dois tinha sido eleito ainda . youtube/watch?v=K-gVK84Rpic
Posted on: Thu, 14 Nov 2013 10:03:19 +0000
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