Quando o papai me liga feliz - e eu até posso ver o seus olhinhos sumindo em um sorriso - o que sinto é inexplicável. Posso até achar que a razão da minha vida é viajar o mundo, ser repórter de guerra e dar voz aos que não a tem; mas tudo isso sempre se resumiu em uma única coisa: poder sentir aqueles olhinhos sorrindo do outro lado do telefone. Não importa se, por minha causa, ele já teve de acobertar fugitivos, ou se, por mim, ele já ficou noites sem dormir. Não importa se quase o mato do coração quando vou à Tahrir Square, ou se o deixo locou por fazê-lo ir até São Paulo para me encontrar chorando e dizendo que vou me mudar para o Egito. Não importa se o deixo chocado quando ligo e digo que enviei uma carta de motivação para bolsa de estudos em Cairo. Não importa se já perdi vários ônibus e ele teve que me buscar em diversas cidades. Não importa se quase o mato de medo quando conversamos sobre política, ou quando digo que vou a Cuba e voltarei com a tatuagem da foice e do martelo. Não importa se o deixo louco ao ligar dizendo que vou abrigar uma colombiana e um egípcio no meu apartamento. Não importa. Depois de tantos "você é muito impulsiva, Mariana", nada vale mais do que esse "tenho muito orgulho de você". Nada. Sei que minhas loucuras o preocupam, mas papai é e sempre será a única pessoa no mundo realmente comprometida com a minha felicidade. Mal sabe ele que a minha maior felicidade está no sorriso daqueles olhinhos.
Posted on: Thu, 25 Jul 2013 04:51:14 +0000
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