Reiteradamente o Corinthians (e, sobretudo o mercado ao qual está - TopicsExpress



          

Reiteradamente o Corinthians (e, sobretudo o mercado ao qual está circunscrito) tem se constituído como importante fonte de significação social na capital da solidão, e, se é verdade que se tem visto uma mudança por parte do time na escolha de seu público alvo – não se pode negar que a “locospirose” teve maior afinidade com indivíduos de alto poder aquisitivo – é igualmente certo que seus efeitos são tão mais intensos no tradicional bando de loucos, que, impelidos por um fervor fundamentalista, reservam seus já austeros salários para os jogos, camisetas e peregrinações ao Japão. De fato, para este segundo grupo, historicamente excluído dos espaços culturais, o jogo de futebol se afigura como um dos meios em que seus integrantes podem se manifestar socialmente. Há todo um rito envolvido no ato de torcer: as canções, a roupa, o churrasco e a cerveja, o batuque. Mais que um evento semanal, é um momento de autoafirmação e afirmação ao outro. Cada gol, cada vitória é vista como uma conquista coletiva, compartilhada entre milhões de fanáticos torcedores que afirmam, a despeito das grades e dos setores, que são todos um unido bando de loucos. E os jogadores são verdadeiros ídolos, são quimeras para milhares de crianças que, violentadas por um futuro pouco promissor, sonham com a remota possibilidade de um dia ascender socialmente pelos salários exorbitantes desse meio, são referencia para a conduta e para o “modus vivendi” de seus fieis. Acredito veementemente na influencia dos símbolos e dos significados ocultos na formação de condutas e ideologias. Mais que os grandes padrões morais positivados, são as condutas cotidianas e suas pequenas nuances que influenciam o pensar contemporâneo: não é uma ação direcionada contra as mulheres que legitima o machismo, mas sim o olhar reificante no metro, o beijo forçado em uma balada, a diferença de tratamento no meio profissional. Igualmente, não é uma diferenciação formal que mantem nossa herança racista e escravista, mas a prevalência de coisas como uma universidade branca e o banheiro para funcionários. Sob essa lógica, vejo um fato de extrema relevância em termos de significado no meio futebolístico. Uma propaganda da Lupo de viés homofóbico, protagonizada pelo Neymar no começo do ano, foi rebatida ontem por uma foto de outro grande ídolo, Sheik, que desafiou os preconceitos tão legitimados no estádio – o “são paulino bambi veado” que o diga. Tem se dito que os torcedores vêm solicitando uma retratação por parte de seu deus, pela suposta profanação do sagrado espaço que ocupa o futebol. Espero que o jogador, que conquistou meu profundo respeito, mantenha a luta contra o preconceito e pelo respeito à diversidade, para que algo de bom saia do futebol brasileiro.
Posted on: Tue, 20 Aug 2013 03:30:34 +0000

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