Resposta à coluna de Rodrigo Constantino, em - TopicsExpress



          

Resposta à coluna de Rodrigo Constantino, em veja.abril.br/blog/rodrigo-constantino/saude/fiocruz-sepe-e-black-bloc-o-trio-vermelho/ A coluna de Rodrigo Constantino intitulada “Fiocruz, SEPE e Black Bloc: o trio vermelho” comete uma sequência de erros analíticos. Não sabemos se tais erros são fruto de ingenuidade teórica, ignorância acerca daquilo que se critica ou cinismo ideológico. Independentemente da origem, tais equívocos merecem uma análise. O texto se articula – superficialmente, pois as relações propostas pelo autor exigiriam um artigo mais denso – em torno de três pontos, quais sejam: a instrumentalização do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) por partidos de esquerda; A FIOCRUZ como “antro de proselitismo” comunista e; a classificação do Black Bloc como “anarcofascistas (...) vândalos e criminosos”. Historicamente, os sindicatos são formadores que quadros para os partidos de esquerda. Isto se deve às pautas comuns de defesa dos interesses dos trabalhadores que acompanham tanto os partidos de esquerda quanto sindicatos (excluídos aqui os sindicatos patronais). A instrumentalização dos sindicatos por partidos políticos é fatual – a direção daqueles sendo mesmo disputada por estes. No entanto, Rodrigo Constantino demonstra ignorância sobre o fato novo gerado nesta greve: a categoria, por várias vezes, venceu o desejo da direção do SEPE (suspender a greve) em assembleias gerais. Em outras palavras, o SEPE tem atuado nesta greve, de fato, como representante dos anseios da categoria. O autor atribui caráter político-ideológico-partidário aos atos dos profissionais da educação no Rio de Janeiro em tom pejorativo. Aqui, temos uma demonstração de ingenuidade teórica, já que confunde o conceito de ideologia e de esquerda política. Trata-se, na verdade, de uma vulgarização do conceito de ideologia (termo que, a propósito, surgiu na filosofia liberal, defendida pelo próprio autor). O segundo ponto debatido por Rodrigo Constantino ataca a FIOCRUZ, a partir da citação da “Nota de Apoio aos Professores e Repúdio à Violência do Estado”. O primeiro equívoco está em tomar o todo pela parte. A referida nota parte da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), e não da presidência da FIOCRUZ. O autor, ao reduzir a Escola a mero centro de divulgação de propaganda ideológica, ignora o fato de a instituição ser um dos parcos exemplos de iniciativa pública em educação de excelência. O ataque de Rodrigo Constantino se dá em função a inspiração gramsciana da escola. O conceito de politecnia envolve a formação do profissional pleno, fugindo à “robotização” do ser humano apregoada nos cursos técnicos convencionais. Liberais como ele não aprovam a formação de profissionais críticos, que possuam lucidez para avaliar as condições em que estão inseridos e, por ventura, combatê-las (segue um vídeo produzido por alunos da EPSJV que demonstra o nível de esclarecimento que alunos do ensino médio alcançam nesta escola: youtube/watch?v=ICafxzZuyZE&hd=1). Além disso, deve incomodar o autor o fato de os profissionais da FIOCRUZ defenderem veementemente o SUS. De acordo com o liberalismo defendido por Rodrigo Constantino, o papel de ofertar serviços públicos à população cabe aos empresários. Aqueles que não podem pagar por serviços saúde estariam apenas pagando por sua incompetência profissional ou por serem vagabundos mesmo. Finalmente, o autor, ao abordar a questão do Black Bloc, segue o senso comum e fica mesmo apenas no preconceito conservador, ao taxar seus membros de “criminosos”. No entanto, nem mesmo mantendo-se no nível do preconceito, Rodrigo Constantino escapa do equívoco. Ele atribui contornos de movimento político a uma tática anarquista de manifestações. A diferença? Movimentos políticos divergentes podem utilizar a mesma tática, que consiste em retaliar a violência com que a Polícia reprime tais atos. O Black Bloc é acusado ainda depredar a propriedade privada. Ao que parece, o autor preferiria tê-los acusado de heresia: o liberalismo defendido por Rodrigo Constantino diviniza a propriedade privada, como se esta fosse valor universal. O Black Bloc é composto por membros de movimentos anarquistas que, na essência, contestam a primazia da propriedade privada, em detrimento das pessoas. Analisar as depredações que simbolicamente, contestam a propriedade privada (tal qual no filme “Edukators”), usando para tanto valores liberais é o resultado de uma visão romântica de mundo, que reduz a dinâmica social a uma luta entre bem e mal. Em outubro de 2012, A Associação Nacional de História (ANPUH), em resposta à infeliz biografia de VEJA em por ocasião do falecimento de Eric Hobsbawm, declarou, sobre o periódico: “Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada”. Os adjetivos que a associação atribui a Veja são absolutamente pertinentes. Por extensão, fazemos a mesma avaliação da coluna de Rodrigo Constantino. Porém, em uma democracia, muitas vezes evocada tato por oprimidos quanto por opressores, até as mais superficiais avaliações merecem análise e, sobretudo, resposta. Allan de Freitas Costa, professor da rede municipal de educação da Cidade do Rio de Janeiro.
Posted on: Sun, 06 Oct 2013 01:28:32 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015