Retirado do Jornal Diário( Tupa) 29/08/1013 Jesus Guimarães - - TopicsExpress



          

Retirado do Jornal Diário( Tupa) 29/08/1013 Jesus Guimarães - Crônicas & Opiniões AS COISAS COMO SÃO NA VERDADE O sonho de ter um filho doutor ainda habita a alma da classe média brasileira. E dentre os doutores, o médico parece mais doutor, pois sua profissão reveste-se de certo encanto, herdado talvez dos magos e curandeiros, responsáveis por combater as doenças em tempos idos. E aquele que luta para dar um diploma de médico a um filho vai além, deseja vê-lo de branco, o quanto antes com seu consultório montado em uma boa cidade, se possível, a cidade natal. No outro lado da história está a imensidão geográfica do País e os contrastes sociais que o caracterizam. O Sul maravilha e suas adjaências e, no contraponto, o Norte ainda sofrido, com regiões interioranas subdesenvolvidas, miseráveis, carentes de tudo e de todos. Quando medidas começam a ser tomadas para direcionar profissionais da medicina a prestar assistência nas áreas inóspitas do País, seus órgãos de classe protestam. Argumentam que nessas regiões não faltam apenas médicos, mas também, e antes de tudo, instalações adequadas e equipamentos para o exercício da medicina. Entretanto, as coisas não são bem assim. A infraestrutura para o trabalho é obtenível, desde que não se pense em sofisticações e modernidades. A maior barreira está, na verdade, nas demais carências dos municípios em questão. Os jovens ávidos de sucesso e do tradicional status de doutor sequer cogitam trabalhar em tais paragens, afinal, não foram esses os objetivos que os levaram à faculdade. Também não é fácil convencer médicos a fixar residência num povoado perdido na imensidão amazônica, no Centro-Oeste ou às margens da caatinga nordestina, onde não poderão contar sequer com escolas adequadas para seus filhos. Fica, dessa forma, estabelecido o impasse: para se desenvolverem, essas regiões precisam, entre outras coisas, de mão de obra especializada, porém não conseguem atraí-la porque não são desenvolvidas. Entretanto, no caso da saúde, é fundamental que seus habitantes tenham pelo menos atenção básica. Não podem continuar enfrentando suas endemias com chás e benzeduras. Nesse momento, só o governo pode (e deve) romper o círculo vicioso negativo. Programas especiais para firmar contratos com médicos, nacionais ou estrangeiros, que aceitem as duras condições de trabalho, são uma saída emergencial. Em médio prazo, a exigência legal de prestação de serviço temporário por formandos de universidades públicas poderá criar um contingente rotativo capaz de aliviar essa carência. A revalidação de diplomas, justa por princípio, pode trazer uma consequência indesejada, pois os médicos vindos do exterior poderiam, ao final do contrato, clinicar livremente em qualquer cidade brasileira. Aqueles que protestam sabem disso, mas preferem usar o argumento a serviço de interesses imediatos. Em entrevista recente, o Dr. Adib Jatene dizia que precisamos voltar a formar “médicos especialistas em gente”, médicos que usem o estetoscópio, avaliem a pressão arterial e apalpem o abdômen de seus pacientes, que examinem seus reflexos, olhos, ouvidos e garganta e, se possível, o fundo de suas almas. A medicina ultra-especializada, os aparelhos de enésima geração, apartaram a dupla que fez tanto sucesso no século XX: médico e paciente. Esse perfil de profissional, “especialista em gente, não em pés, mãos ou unha”, seria o ideal para o projeto de assistir o Brasil invisível. Aliás, para quem não sabe, os doutores cubanos já estiveram trabalhando em estados do Norte e Nordeste brasileiros e eram endeusados pelas populações locais, justo por optarem por esse tipo de prática médica. Saíram por conta de liminares judiciais obtidas pelos Conselhos Regionais de Medicina, cujos membros assustavam-se com o êxito de tão modestos concorrentes. Felizmente somos uma nação que não vive metida em guerras. A nossa luta é pela integração nacional das vastas regiões que nos dão essa dimensão continental. Nossos filhos não nos são arrancados para sucumbir nas frentes de batalha (como nos incensados EUA, na Europa, no Oriente Médio e Ásia). O muito que se pede é que participem, a partir da próxima década e por um pequeno período de suas vidas, da honorável tarefa de socorrer seus conterrâneos necessitados. Quanto aos médicos que começam a desembarcar por aqui, não chegam para tomar o lugar de ninguém, mas para assumir em caráter de emergência a tarefa que os brasileiros não querem ou não podem cumprir. Dentre eles os que mais incomodam são os cubanos, pois têm tradição em medicina da família, são clínicos gerais e trazem consigo a experiência de trabalho em áreas de conflito no resto do mundo. Mas eles incomodam a elite preconceituosa que até do fato de serem negros em sua maioria, já reclamou; em contrapartida, para os que vão receber assistência, representarão o socorro tão esperado, o sonho que se tornou realidade. Jesus Guimarães é professor, bacharel em Direito, funcionário aposentado do BB e ex-prefeito de Tupã.
Posted on: Fri, 30 Aug 2013 10:46:41 +0000

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