SOBRE A EXPERIÊNCIA meu texto na madrugada do dia do SE I, duas - TopicsExpress



          

SOBRE A EXPERIÊNCIA meu texto na madrugada do dia do SE I, duas horas depois de terminado, refletindo a respeito da iniciativa e a participação de cada artista. Hoje, é uma caneta de azul profundo. Fulguras ó Brasyl, florão da América. Temos que esperar para fazer o que queremos fazer. Quando tudo se encaixa, você verbaliza, reage e realiza. Trabalhamos muito para fazer acontecer o encontro, o Sarau Eletrônico I, que trouxe oxigênio - OXI - GÊNIO - ao meu espírito. Appresentei-me de camisola mas agressiva e energicamente. Não sei se fui boa mas li na consumada entrega. Um texto irônico, fundíssimo, humilhante de certa forma, por me expor. Ponto. Teve gente que não quis expor. Teve nova amiga que possibilitou que fosse servida uma bela mesa e teve velha amiga que foi viajar e que não se conecta com nada disso mas que não deixa de me querer bem. Teve um bando de admiradores de penúltima hora aos quais quero agradar porque sei que pensam uma outra cidade na qual esta jamais se transformará. Dizem e disseram que a cidade precisa de gente como eu. E tem que ter CORAGWM. W e M, de cabeça pra cima, de cabeça pra baixo, numa yoga intensa de dilúvios e sóis. A sós com meu caderno. Falhas, eu não as vi. Um pouco de inveja em olhares menos treinados para dissimular, mas isso é perdoável porque há os que reclamam sua contribuição mas implicitamente, há o espaço e o convite para que deem suas contribuições. Só que... será que elas existem, mesmo? Eu quis unir quem pensa e até quem pensa que pensa. O caseiro e o íntimo, a fruição de arte num espaço doméstico domestica as pessoas e elas circulam com menos pompa e mais abertura. Juntam-se e dispersam-se numa velocidade de bailado ensaiado. Orquestrada velocidade contemplativa de um sábado atemporal nos espaços que imaginei por anos e que projetei e que concretizei. Especialmente para a circulação de ideias, emoções e pessoas. E o que dizer da engenhosidade do som de Cuenca, um sensível costureiro de climas, um artífice de ambientes caleidoscópicos que foi clássico, tribal, marroquino, futurista, tenso e calmo? Sua parafernália no chão era mágica e ele manuseava todos os botões (mais que apertava) como este músico do século presente, fazendo concerto com polegares e indicadores, pausando e abrindo sonoridades. Ninguém sabe mais se é um show ou um DJ ou uma viagem franqueada aos visitantes curiosos ou uma poesia dita no infinito. Não exagero. Acho que Cuenca se ausentou de si, ardilosamente, e deixou que sua sinfonia ou paisagem sonora falasse por si. E falou... lonjuras, planícies, delicados cercados. Deixou que ecoasse e desse ânima ao ambiente. E as pessoas foram transitando e parando para ouvir e suavemente foram doando seus ouvidos ao espaço que reverberava dentro do espaço da casa. Era uma casa mas era um palco. O palco onde eu escolho qual realidade quero viver. Pedro, genial. Artista visual de primeira. É muito devoto do pop mas penetra outras camadas mais secretas. Seu filme melancólico e sujo de passeios por dentro, com gente que não descansa os olhos, Adassa e Rey, espectadores de uma Ipanema 2012 improvável em Super 8, deslocalizada no espaço-tempo, com janelas, bonecas japonesas e ondas que parecem pertencer ao mesmo areal de quando não havia ocupação pelo capital porque não há exibições em Ondas, há contemplações. E com a música de Márcio Pizzi, discretamente pós-rock remetendo aos anos 2000, com uma guitarra perseguidora de um fio que se perde, mergulhando a plateia dentro do filme em suas angústias e incertezas inconfessas, apenas observadas por uma câmera muda que as mimetiza, trazendo um gosto de sal do mar à boca como num afundar lento e generoso. A encenação da projeção dupla e a montagem diante de um público ansioso que tomou todos os centímetros da sala, Daniel e Patrick tendo que usar furadeira às 11 da noite para fazer furos que segurassem o telão, foram parte do processo escarnado, uma revelação de filme ao vivo para voyeurs consentidos. Um poema-processo no Sarau Eletrônico. Uma construção que dá a ver que nada é tão pronto assim, mesmo nos tempos pós-industriais transfinanceiros. Dei pulos de felicidade como eu dava quando era criança ou nos meus sonhos dos quais sequer consigo lembrar. Estava feliz. Depois de ver todos entendendo minha proposta de responder à pobreza do Rio de Janeiro com um soco de beleza, me senti dentro do que nasci para fazer que é apresentar e congregar. Acho que ser anfitriã e performar foi demais. Minha boca ficou seca no meio da leitura encenada e eu quis parar (havia caído na desgraça de fumar vorazmente quando me trocava com Bianca dentro do quarto-camarim). Mas fui em frente porque eu só pude ser o que era possível. Depois do depois, aplausos e olhares gulosos para Bianca, que me acompanhou no tour pela cabeça de uma esposa atormentada, tirando a roupa e sustentando com os seios em pé, mas sem qualquer falso bojo, uma leitura amarga e nervosa e urgente e eu pude ver nos rostos de todos aqueles bonitos exemplares de cariocas que ofereci uma noite de recreação inteligente numa cidade perdida no terceiroimundo, tentando elaborar uma saída do conto de fadas das empreiteiras e dos políticos que fecharam negociatas tão grandes, tão internacionais e interfeudais e interinfernais, ultimamente, que a riqueza usurpada de nós tomou uma face ainda mais escabrosa que a violência marginal de pretos e brancos fodidos de tempos atrás, que estes doutos ladrões de hoje fingem ter eliminado com UPPs e gritos de ordem em choques anunciados. Se a cidade está perigosa, se a vida lá fora está perigosa, que a porta de casa se abra para quem acredita que estar vivo é bem mais que andar numa nauseabunda escada rolante entre chaveiros de plástico e fechaduras de aço. Como boa anfitriã que fui educada para ser, não me demorei nas rodas, não me engajei nas conversas, fui apenas de círculo em círculo espiar seus universos expandindo e contraindo. Acho que Bianca foi o vídeo vivo e eu, a narração. Mas ela não interpretava a protagonista, ela era a imagem de um discurso magoado que eu pretendo abandonar ao tomar o meu lugar na vida social. Marcelo foi o eixo plástico e supriu a demanda por conceituação. Sua Cloaca exposta em um banheiro de dimensões generosas, que tampada a pia, era uma instalação de ladrilhos hidráulicos, azulejos-pixel e cimento queimado/concreto, tornou-se gloriosa filial do concretismo que Rafael Saraiva e eu desenhamos para este apartamento. A Cloaca amalgamou-se ao cômodo e ainda conseguiu embalar o concreto com seu plástico parangolizado COCA COLA. As curvas douradas de um despejo sanitário foram as vírgulas atonais do Eletrônico do Sarau. Acho que a sala de banho foi bem visitada e bem absorvida. Seu papel foi higiênico e de cimento. Ali, as pessoas foram provocadas a tocarem o cimento das coisas e a admitir a cristalização do papel. Interessante contraponto ao programa em folhas batidas à máquina. Seu papel foi preto e branco, numa casa de muitas cores que ouvi dizer que confundiu as pessoas, que ficaram sem saber o que era da casa e o que era galeria do Sarau. É tudo a mesma coisa. Se a casa é uma utopia de segurança e descanso e proteção, que seja também onde o perigo da arte se deita na maciez. Aqui, foi seguro o bastante para todas essas coragens. À realização, sem dúvida. E, que fome! Leïlah Accioly, 3 e 32 da manhã de 4 de agosto de 2013.
Posted on: Fri, 22 Nov 2013 02:19:10 +0000

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