SOBRE NATÁLIA CORREIA Por: FERNANDO DACOSTA “Vai ser preciso passarem duas décadas sobre o meu desaparecimento para a minha obra começar a ser compreendida!” Natália Correia No Botequim, Natália Correia exclama, poucas noites antes de morrer: “Vai ser preciso passarem duas décadas sobre o meu desaparecimento para a minha obra começar a ser compreendida!” É o que está a suceder. Este 2013 afirma-se, com efeito, um “ano Natália Correia”: cumprem-se nele 20 que ela faleceu (em 16 de Março) e 90 que nasceu, amanhã, 13 de Setembro. O mapa das celebrações desenrola--se já pujante e diversificado, em Ponta Delgada (a sua terra), em Angra do Heroísmo, na Faculdade de Letras do Porto, na Casa dos Açores do Porto e, a seguir às eleições, na Faculdade de Letras de Coimbra, em Faro, Lisboa, Setúbal, etc. Uma brisa nataliana percorre o país que a conheceu, a conviveu, descobrindo a modernidade, a originalidade, a portugalidade da singularíssima obra que nos deixou. Não hesitemos: a sua voz foi, com a de Agostinho da Silva, a mais ousada e premonitória, futurista e lúcida da segunda metade do século xx – como a de Fernando Pessoa foi na primeira metade do mesmo século. Sempre adiantada no tempo, Natália precisou que dobrassem gerações e mentalidades para ressurgir. A sua postura não era a de contadora de histórias, de casos, mas a de criadora de ideias, de futuros. Por isso inquietava. Por isso em vez de a enfrentar, os inimigos tentaram, o que é muito português, ridicularizá-la, amesquinhá-la. “Tenho perdido o meu tempo”, exclamava, “com seres que execram o que os liberta e exaltam o que os enche de imundície”. Ensaios académicos, teses universitárias, antologias poéticas, peças dramatúrgicas, narrativas memorialistas – como, passe a imodéstia, o meu (em lançamento) “Botequim da Liberdade” – irrompem nos escaparates, renascendo-a, iluminando-a, reverenciando-a Mátria da nossa ameaçada identidade. FERNANDO DACOSTA
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 22:30:02 +0000
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