"SOU CONTRA A TERCEIRA IDADE!!!" Mais especificamente, sou contra grupos para a terceira idade, aliás, sou contra grupos de jovens e sou contra qualquer grupo de delimite artificialmente o espaço social, segundo critérios arbitrários. Penso que isso é discriminação. E em uma de suas formas mais sutis: aquela que "parece" ser para o "bem" e ninguém vê o preconceito que encerra. Ou não se vê o preconceito porque justamente é um pensamento encarado como "natural"... Tão natural como era escravizar povos diferentes do nosso. Sou contra guetos de qualquer espécie para confinar pessoas separadas, distantes de outras pessoas, por serem incluídas em um certo "tipo" de gente, segundo critérios de outras pessoas. Não tanta diferença ideológica entre os guetos de Varsóvia e um grupo de jovens, ou uma atividade para a terceira idade, se vc pensar bem, no ato em si de separar pessoas (obviamente o Gueto de Varsóvia era mais insalubre e os propósitos eram de extermínio... mas, o fato de se separar gente arbitrariamente não é diferente!). O preconceito com a idade, seja para mais ou para menos, é um dos mais sutis e menos comentados (e, por isso mesmo, dos mais perigosos), de nossa sociedade atual. E é um assunto que precisamos pensar e re-pensar com seriedade, porque o mundo moderno ou pós-moderno tem intensificado suas atividades (tanto para mais cedo, como até para muito mais tarde na vida), uma vez que as pessoas têm-se desenvolvido cada vez mais precocemente e a expectativa de vida está cada vez mais elástica. Se sou contra os grupos de idade, sou a favor dos grupos de interesse! Obviamente, alguns interesses são mais comumente encontrados em certas faixar etárias. Certos tipos de problemas são compartilhados por pessoas com idade parecida. Por exemplo: pessoas às voltas com seu primeiro casamento vão compartilhar dificuldades e esperanças e necessidades mais ou menos parecidas. Essa pessoas formam um "grupo de interesse", conforme entendo aqui. É mais ou menos lógico que a maioria das pessoas nesse grupo tenha uma idade relativamente próxima, mas, não há critério cronológico para se estabelecer isso!! Até porque ele muda com o tempo: há alguns anos a média de idade das pessoas que se casava pela primeira vez era bem mais baixa, assim como a idade das pessoas às voltas com o seu primeiro filho agora é bem mais alta. Por outro lado - esse é o ponto - nada impede uma pessoa mais velho ou mais nova do que a média de idade desse grupo estar se casando pela primeira vez ou tendo um primeiro filho! Se você anuncia o grupo como para uma "idade específica", como "jovens casais", você, de saída, excluí pessoas que, já não sendo jovenzinhas, estão se casando pela primeira vez!!! E nesse mundo pós-moderno, insisto, já não há padrão!!! E assim vai: dança de salão... vai quem gosta! Não importa a idade! Tipo de música, balada, teatro... é tudo questão de interesse, não de idade! Não existe "dança para a terceira idade", não existe excursão para "jovens"... Existe dança e existe excursão, existem tipos de dança e diferentes lugares. Vai quem quer, vai quem gosta, quem aprecia as mesmas coisas que se enturme! O critério é o interesse e não a idade!!!! O que se consegue com essa história toda de "terceira idade", "melhor idadae", "grupo de jovens", "atividades infantis", etc-etc... é fazer com que as pessoas se sintam deslocadas se têm certos interesses, se sintam "invadindo" espaços sociais aos quais "não pertencem", indo a lugares onde não serão bem vindas e que serão discriminadas: mal estar e desadaptação, é o que conseguimos!!! É claro que, como disse, se juntamos pessoas da mesma faixa etária em um gueto, é provável que elas tenham alguns interesses em comum e vão encontrar amigos e haverá troca nesse grupo. Mas, se o critério é o interesse, porque não ir direto ao tema? Encontro de Casais, ponto! Não de "jovens casais" ou de "maturidade no casamento"... quem quer discutir a profissão, deve pode se reunir com quem quer discutir a profissão, não importa a idade! No mundo moderno - insisto, as coisas estão mudando! - a idade das pessoas em sala de aula está ficando cada vez mais diversifica (embora os mais velhos tenham algo de heroísmo, ao ouvir comentários do tipo: "puxa, que bonito, NA SUA IDADE... AINDA pensar em fazer faculdade!!"). Há pouco tempo fui ver um show de uma banda de rock cujos integrantes tinham mais de 70 anos e a platéia tinha gente de todas as idades e tendências.. Isso é um exemplo: a banda Yes, um grupo inglês de rock progressivo, é um grupo altamente profissional e atraí pessoas com cultura e educação musical. Logo, o grupo é cronologicamente heterogêneo. Mas, pense quanta gente não começa a estudar música por "estar velho prá isso..." por se sentirem constrangidos a fazer algo considerado "inadequado" à sua idade. Quem tem o direito de definir isso? Ainda mais nos dias atuais, onde a expectatitva de vida, a precocidade da educação e a ausência de modelos de comportamento únicos geram grande diversidade de estilos e modos de viver!!! Quem tem o direito de designar espaços sociais onde as pessoas devem ficar e outros em que algumas pessoas não devem ir...? Sim, há guetos ainda em nossa sociedade... muitos!!! Sou contra todos eles! Sou a favor da convivência, da não-discriminação e ampla troca social de experiências e convivências. Me. Psic. João Paulo Correia Lima coordenador do NESDA - Núcleo de Estudos de Stress e Doenças de Adaptação Diretor da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática- Nacional Membro do SuCor - Laboratório de Psicossomática Sujeito e Corpo - USP-IP visite os sites nesda.br psicossomatica.org.br
Posted on: Wed, 24 Jul 2013 18:58:47 +0000
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