Saúde é urgência. Você não vai esperar construir um hospital para ser atendido. Vai querer um médico. E isso não impede de se implantar um projeto estrutural que, acredito, o governo tenha. Estamos há 500 anos ouvindo esse discurso de que é preciso tratar os pobres como gente, mas nunca trataram. Não é agora, quando aparece alguma coisa melhor e um pouco mais decente que eles vão abrir mão do que receberam para ouvir de novo esse discurso das classes dominantes, de um realidade que nunca chega. Eu queria ver o que diria alguém, após ir para os rincões do Brasil e em cada comunidade, dizer para os pobres coitados que ganharam um médico, que vai tirar esse médico deles e prometer construir uma unidade toda equipada e só depois disso é que vai devolver o médico que eles ganharam. A pessoa vai sair de lá corrida. Existem estudos que mostram que MUITAS mortes poderiam ser evitadas se atendimentos básicos fossem prestados ou com medicina preventiva como aplicação de vacinas, etc. Aproximadamente 70% das mortes por trauma, afogamento, doenças cardiovasculares e cerebrais ocorrem antes da vítima chegar ao hospital. Muitas dessas mortes podem ser evitadas se as vítimas forem rapidamente atendidas por uma pessoa treinada em “Primeiros Socorros”, que dê inicio imediatamente aos procedimentos de Suporte Básico de Vida (SBV). A Reanimação Cárdio-Pulmonar (RCP) aplicada no âmbito pré-hospitalar (SBV) é parte vital de um elo na corrente para a sobrevivência das vítimas de Parada Cárdio-Respiratória (PCR), que se liga a outros dois elos que são a chegada de socorro médico pré-hospitalar (SCAV). Você diz que não faltam médicos, mas não é isso que vejo, que os pobres dizem, que o povo do interior diz e que alguns indicadores mostram. Nós não temos médicos suficientes para cobrir todas as regiões do país e, mesmo se tivéssemos, muitos dos médicos do país não vão para interior ou áreas consideradas de risco (independente de infraestrutura). Não vou generalizar, mas você por estudar a área com certeza sabe de casos de médicos que batem ponto em hospitais e/ou pronto-atendimentos e vão embora atender em clínica particular ou bater ponto em outro hospital e/ou pronto-atendimento público. Em resumo, quem precisa de atendimento nestes locais não tem porque alguns picaretas foram ganhar dinheiro. Mais uma vez, sem generalizar a classe, mas existem sim casos como este em cada canto do país. O CRM bateu e bateu no programa que vai trazer mais médicos, mas nestes casos investigados pela imprensa (e não pelo CRM, que não cumpre seu papel) eles nada fazem? Muitos médicos não se dispõem a trabalhar onde não tem shoppings, praias ou clínicas particulares para atenderem. Infelizmente é isso que acontece! Talvez a entrada dos médicos estrangeiros faça com que a concorrência abra espaço para consciência e para a competência que eles esbanjam em seus consultórios particulares. E digo mais, eu, em clínica particular, já liguei para marcar consulta pelo plano de saúde e me falaram que não tinha vaga disponível nos próximos 3 meses. Liguei, posteriormente, oferecendo pagar em dinheiro. Adivinha? Encaixe para o dia seguinte! Na hora imaginei: imagina quem vive no interior do Brasil e nunca viu um médico de verdade pela frente, o que deve passar?! O Brasil não é o único país a importar médicos (hoje menos de 1% são estrangeiros, mesmo com toda a demanda existente). Austrália, Canadá, Reino Unido (mais de 40%), Portugal (mais de 10%)... Todos estes países já fazem isso. O Brasil tem 1,9 médicos por 1.000 habitantes, Argentina tem 3,2 médicos por 1.000 habitantes, Espanha e Portugal 4 por 1.000, EUA tem 2.6 por1.000 e Reino Unido 2.7 por 1.000, sendo que quer chegar a 3.2 por 1.000 até 2.020 (considerando a manutenção dos atuais 40% estrangeiros ou mais). Ou seja, quantitativamente se temos médicos suficiente eu não sei, mas que estamos bem para trás destes demais países, estamos!
Posted on: Sun, 15 Sep 2013 08:11:21 +0000