Sobre a BR 262 Domingo, segundo dia desta tórrida primavera, A - TopicsExpress



          

Sobre a BR 262 Domingo, segundo dia desta tórrida primavera, A Gazeta publicou importante e irretocável reportagem relacionando e comprovando com fotos e dados colhidos pessoalmente pelos excelentes repórteres Cláudia Feliz e Vitor Buriti, os diversos pontos de estrangulamento, envelhecimento e intoleráveis (na atualidade) defeitos da nossa BR 262. Nada justifica o triste abandono da nossa artéria coronariana. Muito menos, interesses políticos como salientou o nosso Deputado Federal Lelo Coimbra, já na segunda feira. Pior ainda seria, se esta novela da sua inadiável duplicação, estiver sendo redigida com a triste letra do interesse financeiro de uns poucos. Mas, se a reportagem brilha pelo seu oportunismo na combalida e quase terminal programação de obras públicas do Governo Federal, e se atingiu, plenamente, o seu alvo final – tanto que o DNIT já apontou para 2018, a conclusão da sua duplicação através de verbas federais alocadas ao PAC (acredite quem quiser) – eu entendo que a importância dessa rodovia para a vida dos capixabas não foi, suficientemente, lembrada e contemplada. Talvez porque tal não era o escopo da pauta, ou ainda, porque os repórteres, cujas idades, desconheço, não tiveram a oportunidade de passar pelas dificuldades que os capixabas enfrentavam há 40 e mais anos, para chegar à capital mineira. E, essas dificuldades, que eram recíprocas naturalmente, se mostravam, sensivelmente, desvantajosas para o nosso Estado. É que os mineiros que tanto amam o mar, isolados por trás da formidável Serra do Mar, encontravam muitos outros caminhos mais acessíveis e disponíveis para as praias fluminenses e paulistas. Antes da BR 262, o nosso Espírito nunca passou de um pequeno estirão solitário, mero caminho entre o nordeste e, especialmente, a Bahia e o Rio de Janeiro e São Paulo. Até mesmo a estrada de ferro de então, era difícil e penosa, porquanto dividida em duas etapas, ou seja, em dois trechos férreos de bitolas diferentes, que obrigavam a uma baldeação, de cargas e de passageiros na altura de Nova Era, em Minas. Para se chegar a Belo Horizonte por terra, antes da 262, era preciso descer em direção do RJ até o Rio Itabapoana para, depois de atravessar um trecho de terra batida (e muita lama, em tempo de chuvas)I, o chamado e conhecido Morro do Coco, chegar em Itaperuna onde, aqueles que tivessem saído de Vitória pela madrugada, almoçavam no Hotel Central e depois, seguiam até Macaé, alcançando a BR 116 (a famosa e, desde então, congestionada Rio-Bahia) para, depois de muitos quilômetros, chegar a Leopoldina (ainda mais ao Sul) e seguir até Barbacena. Daí então, subindo (finalmente) a BR 040, chegar a BH. Com sorte, fazia-se este trajeto em um dia de viagem, saindo de madrugada e chegando na capital mineira com os faróis acesos. Era uma verdadeira maratona onde, grosso modo, se percorria os dois alongados catetos de um triângulo retângulo ao qual, a 262 veio para trazer uma hipotenusa. Portanto, o caminho quase em linha reta, entre Vitória e Belo Horizonte, mesmo marcado por difíceis trechos montanhosos e aladeirados, praticamente dividiu a história do ES em duas partes bem distintas: antes, e depois da 262. Eu diria até que a recém-inaugurada BR 262, foi quem ofereceu condições ao então Governador Christiano Dias Lopes Filho (eleito dois anos depois da sua inauguração) de transformar o ES, elevando-o de simples “passagem de nordestinos rumo a Sul”, para Membro Efetivo e respeitado da nossa Federação. Há quarenta anos o trânsito pela 262 não era, sequer, um décimo do que é, e vem crescendo a cada dia. Possuindo a mesma índole dos rios que, pacientemente, contornam os obstáculos para chegar ao mar, a 262 também se viu forçada a assim se conformar. Por isso, tantas curvas e tantas e íngremes subidas e descidas. Para a época em que foi traçada e construída, a 262 era fantástica, até pelo descortino das insuperáveis paisagens que revelou. Mas, em 1969 a televisão colorida mal havia aportado no Brasil. Os carros fabricados aqui eram Aero Willis, Simca, Dauphine, DKW, Alfa Romeo e Jeep. Os demais, assim como os caminhões, eram importados e poucos. Os enormes cegonheiros e as jamantas articuladas de seis eixos e 18 rodas ainda eram desconhecidos e o comércio, incipiente. Mas, os tempos passaram, a indústria automobilística brasileira (as chamadas montadoras), se tornou uma realidade e injeta uma quantidade diária de carros no mercado, que jamais poderíamos imaginar. A 262, por sua verticalidade direcionada ao mar, se tornou um importante corredor de exportação e importação. Mas, a sua capacidade, antes sobeja, não evoluiu. A criança cresceu, e as calças, há muito, ficaram curtas. Tanto subindo, quanto descendo, os grandes caminhões superpesados acabam formando filas de oito, dez ou mais que, subindo não conseguem ser mais rápidos e descendo precisam ser lentos. Mas, sempre muito lentos. E isso acaba por irritar os motoristas de automóveis possantes e modernos, cujas ressonâncias cognitivas não permitem que rodem a velocidades de vinte ou trinta quilômetros por hora, seguindo comboios intermináveis. E, na falta de uma pista onde possam fazer uso dos cento e tantos cavalos de força em que investiram, esses motoristas amadores acabam por arriscar ultrapassagens que, facilmente, terminam em tragédias. Dizer que a duplicação da 262 é muito importante, não basta. A duplicação, o redimensionamento e a retificação dessa via assume aspectos fundamentais para a sobrevivência do nosso Estado.
Posted on: Wed, 25 Sep 2013 13:27:24 +0000

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