Sobre a manifestação popular nas ruas (III) A salvação pelas ruas Para a compreensão de um movimento social sem similar, como o atual, faz-se imperioso o recurso à “ciência do caos”. Não se trata de “confusão caótica” no interior da própria movimentação popular nas ruas. Ela, ao contrário, pôs a descoberto a instabilidade preexistente (caos), gerando a necessidade de alteração e renovação de nossas instituições sociais. Veja-se bem: o movimento se expandiu com dependência sensível das condições iniciais (aumento das passagens), mas alastrou-se por todo o Brasil. E até no estrangeiro houve protestos. Uma neta minha participou deles em Toronto (Canadá). A teoria do caos demonstra e esclarece que pequenos desvios (por ex., o aumento das passagens dos transportes coletivos) podem provocar “tornados”, como acontece com a surpreendente movimentação popular. Quem adivinharia, no nascedouro, os rumos do movimento, hoje incontroláveis pelas forças repressoras tradicionais? Porém, o que nos interessa é esta consideração inapercebida: em matéria de manifestação popular, as condições iniciais (os aumentos das passagens) suscitam a enorme e surpreendente expansão do movimento, muito além do ponto de partida. Aqui, aplica-se, como uma luva, a belíssima metáfora: “O bater das asas de uma borboleta no Brasil, desencadeia um tornado no Texas”. As borboletas das passagens de transporte coletivo alçaram voo e assumiram dimensões planetárias. No fundo, a movimentação das ruas propugna um questionamento radical de “ecologia social”: a sociedade é um meio-ambiente que, pela renovação de instituições e costumes a ela ligados, se anuncia como uma primavera de esperança. O maior desafio da cidadania está em evitar o desvirtuamento de um fenômeno tão promissor. Participar cada um, com vista a ideais nobres. Porém, não atrapalhar já é uma forma de ajuda. Esta movimentação popular contribui para restaurar em nós o orgulho de sermos brasileiros. A sua mais admirável pedagogia é erradicar o mito de que a população é acomodada, aceitando, servilmente, quaisquer medidas governamentais. Os fatos provaram o contrário e, contra fatos, não valem argumentos. Resta-nos, portanto, apenas uma alternativa: ou o movimento frutifica (a salvação pelas ruas) ou todos nós seremos derrotados. Contudo, o maior perigo não está nas manifestações populares, mas na aplicação posterior dos seus resultados. Envio aos manifestantes, enquanto persistirem na metodologia de ação política não-violenta, o meu apoio verde-e-amarelo.
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 15:43:14 +0000
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