TESTAMENTO PÓS VIDA Trago dentro de mim os espíritos - TopicsExpress



          

TESTAMENTO PÓS VIDA Trago dentro de mim os espíritos angustiados as almas torturadas por perceberem-se humanas frágeis e fugazes. Sei que morrei deixando todas as coisas que amo as deixarei entcantadas por minhas mãos e por meu olhar apaixonado desde a primeira vez que as vi e as fiz. Sinto-me Van Gogh, Baudelaire, Nietzsche sem sê-los direcionando do meu jeito esta angústia concentrando com muito esforço o meu potencial criativo tento inventar meu tempo para a criação desafiando contantemente o tempo dos relógios que fixa os compromissos, os amigos e a família. Tento convencer-me que é preciso perder tempo para sonhar e retroalimentar-me num encontro comigo mesmo. Tento inventar um espaço para que este tempo seja possível tentando a todo momento perceber-me como um ser que se transforma e que se cria a si mesmo tentando mudar em mim os destinos da humanidade. torturando-me quando sinto em mim a decadência do espírito humano a impotência, o ressentimento e o niilismo que alimenta minha alma Ao mesmo tempo me percebo como uma metamorfose de humano em luta contra o peso do tempo que move a tradição cultural e o fazer cotidiano dos homens antônomos que me circulam e com os quais me identifico em conversas com rítmo de “deja vu”. Escrevo tese como quem reconstrói uma casa em demolição, catando pedras e entulhos, construindo um castelo de escombros e enchendo-os de vida nova e de espírito de novidade. Até o momento em que não percebo demais a matéria-prima de minha escrita, descobrindo-me criador. Sinto-me Walter Benjamin porqaue descreve a bela cultura humana como produção de escombros. Olho para tras e para frente, perdendo-me no presente. Até que encontro Bachelard e posso encontrar refúgtio e bem-estar em sua escrita, como numa paisagem tranqüila onde posso repousar minha angústia. Quero e temo minha solidão que não é humana, mas cósmica. Tenho claro os apanágios da sociedade para iludir meu espírito solitário e que não me bastam. Me encontro e me percro de mim como toda gente. Não sei lidar com orçamentos, dinheiros e representações do status pequeno burguês. Tento disfarçar -me de mim mesmo e ponho um terno-mortalha que me deixa belo e ridículo. Seguro talheres e copos com precisão milimétrica para evitar o desastre dos meus gestos. Sei que cometo gafes quento falo de mim mesmo. Talvez porque eu seja uma gafe e tente converncer-me do contrário. As vezes minhas maiores esperanças são de continuar vivo. Gostaria que o niilismo, a frustração e a culpa acabasse junto com minha morte, mas sei que estes ainda são alimentos do espírito humano através dos quais constrói suas esperanças e sonhos que já nascem mortos. Volto então a valorizar os pequenos momentos, as pequenas coisas que compõem o cotidiano como dar banho num filho, embalar meu nenem no balanço, lavar uma louça e preparar meu corpo para fazer amor com a mulher que eu amo. O mundo belo tem sua loucura. Os poderes são podres mesmo. E medo de minha loucura não passa de questão cultural que não inventei. Minha loucura são os outros com os quais convivo em meus pesadelos. Me custa encontrar a razão das coisas, a organizar o caos inorganizável dentro dos rituais da vivência habitual. Minha ludidez me alucina. Minha alucinação me reconforta. Me reencontro em meu delírio. Me sinto bem sonhando sonhos impossíveis, qundo meu único obstáculo é minha imaginação. Dou aqui meu testemunho como espectador de mim mesmo. Escrevo-me em páginas, tentando fixar o tempo dos meus pensamentos, mesmo sabendo que nos próximos instantes quererei mais de mim mesmo. Para me sentir melhor me faço acompanhar de seres inconscientes de si mesmos, ou os que já conseguem aceitar tranqüilamente sua condição humana. Como Carlos Drummond de Andrade saio a procurar uma pedra no meio do caminho. Como Fernando Pessoa farei muitos de mim mesmo. Quero a embriaguês, o ópio e o haxixe de Baudelaire. Quero as formas de Picasso, as cores de Miró, os girassóis de Van Gogh, os sonhos de Kurosawa e o surrealismo de Dali. Quero fazer coisas impossíveis. Tirar leite da pedra, por exemplo. Convencer-me a fazer um regime, não fazer contas com o salário que ainda não tenho e acreditar na moral e nos bons costumes.
Posted on: Mon, 02 Sep 2013 01:08:21 +0000

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