Tenho conversado muito com o céu. Aprendo a lê-lo e a ler me - TopicsExpress



          

Tenho conversado muito com o céu. Aprendo a lê-lo e a ler me nele. Especialmente desde o fatídico dia em que fiquei preso na mata, precisando batalhar por minha sobrevivência tempórea (temperatural) e temporal, e tive como único interlocutor o céu que atravessava minha visão em seu exato eixo de mutação mais breve (leste-oeste, zodiacal), passei a ter consciência da minha completa ignorância e desconexão com esse que é um dos conhecimentos mais antigos e mais observáveis da humanidade. Perdido em meio à selva, observando a via láctea e o zodíaco atravessarem o céu em progressão ininterrupta, aguardando ansioso a chegada da dedirrósea aurora e seu calor vivificante, percebi que eu tinha conhecimento sistêmico para ler as horas a partir das constelações do céu noturno; não tinha é a consciência estética para reconhecê-las. Como filho de astróloga séria e experiente, adquiri o reconhecimento de que a astrologia, embora não seja uma ciência total com o potencial oracular de efetuar leitura e interpretação total de nenhum evento (nenhuma ciência é), é um instrumento valioso para analisar tendências macro possíveis de projetar seu reflexo nesse microcosmo em que vivemos (e nele, o microcosmo que somos). Além disso, o próprio fato de revelar o caráter de equilíbrio instável e variante, polarizante a que está sujeito o cosmo, sugere a humildade de entender essa periferia da poeira cósmica como minimamente sujeita a preceitos similares. O conhecimento astronômico moderno, embora mais cientificizado, revela-se às vezes mais ficcional, abstrato ou mesmo absurdo que o descreditado irmão mais velho. Toda nossa compreensão do funcionamento do cosmos (que acaba perpassando e relacionando com o mais ínfimo nível subatômico), fundamentada, à princípio, em cálculos e posteriormente em fotografias e outros instrumentos de medição bem complexos, mais do que nos apresentar interpretações intricadas sobre o funcionamento de estruturas que mal compreendemos, abre literalmente um novo universo a nossa imaginação, quase tão ilimitada quanto ele próprio. Observar atentamente o céu e tentar com ele aprender, traz, portanto dois benefícios primordias (dentre outros derivados): um voltado pra dentro, pra entender como os processos mais grandiosos do cosmo podem se relacionar com os processos mais sutis e quase imperceptíveis a que eu, como todos nós, estou sujeito; outro, voltado pra fora, que desperta a minha curiosidade sobre as infinitudes e sobre quão subestimada é nossa vasta ignorância. Por exemplo, o que aprendi ontem: acho que todos sabemos que fazemos parte da Via Láctea que vemos no céu, certo? Se não sabia, esse é o pressuposto básico de onde parte a viagem. Estamos tão imersos na imensidão e densidade desse amontoado de poeira cósmica numa das beiradas do cosmo que tudo que podemos ver a olho nu faz parte desse puxadinho do universo, dessa favelinha à beira da metrópole. Sua poeira e seus gases barram nossa visão tanto das partes mais brilhantes dela própria, como também do que está além dela. Há, entretanto, alguns buracos na densa malha estelar em que estamos inseridos: ao olhar para Órion ou para o Cocheiro, estamos olhando para umas das poucas janelas que abrem nossa visão para o que está do lado de fora, além da Via Láctea. Olhando na direção oposta, em direção a Escorpião ou Sagitário, estamos olhando para o próprio centro da Via Láctea e não vemos o brilho intenso de seu núcleo apenas pela cortina que nos fornece a poeira cósmica (e porque seu centro está 300 vezes mais longe do que a estrela visível no bico da “chaleira” de Sagitário). Toda essa digressão pra reafirmar a humildade necessária frente ao cosmo, a necessária atitude de abertura para o infinito aprendizado que o céu nos oferece, Reconhecer é conhecer, é diminuir a ignorância e uma parte essencial do processo é perceber quanto a própria atitude, fundada no conhecimento autoanalítico de si pode ser mais importante que qualquer governo, qualquer política pública. A revolução vira, vem sempre, é um fato cósmico; basta saber ser atingido por ela...
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 06:29:12 +0000

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