Terra fértil e o adubo Data: 16/08/2013 Jessé Souza* Lembro-me como se hoje fosse. Em março de 2003, o que significa uma década atrás, o então presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Chamello, veio a Roraima e deu uma entrevista coletiva para a imprensa local. E disse a célebre frase “Roraima é terra fértil para a corrupção”, a qual encrespou os políticos locais e seus capangas. Houve uma gritaria geral por parte de setores da imprensa e um levante por parte dos políticos, que se acharam ofendidos e se valeram do discurso de que o Estado de Roraima havia sido ofendido. Sempre foi assim: quando seus interesses são afetados de alguma forma, os políticos tentam fazer crer que o problema deles também é problema nosso, do povo. Se o bispo dissesse esta mesma frase hoje, talvez não tivesse mais tanto impacto assim, pois dez anos se passaram e a corrupção só floresceu, confirmando a constatação até mesmo de forma literal, pois a terra fértil também foi alvo da corrupção. O desavergonhamento em se apropriar do bem público chegou a um nível tal que os maus políticos não se intimidam mais em expor sinais exteriores de riqueza, adquirindo bem valiosos acima de suas capacidades financeiras honestas e declaradas na Receita Federal, inclusive asfaltando o acesso às suas ricas propriedades. O caminho nunca foi tão asfaltado para expor a riqueza ilícita e para indicar às autoridades fiscalizadoras onde investigar. Vejamos o nível do descaramento: um parlamentar foi à tribuna da Assembleia Legislativa pedir que seus pares parassem de demagogia ao cobrar o governador, pois ali ninguém teria como provar seus bens a partir do que recebem de salário. Esse é o resumo do que Roraima é na atualidade. Talvez essa constatação não tivesse nenhum efeito se fosse dita por um cidadão qualquer revoltado. Mas as palavras são de um deputado governista, que conhece os meandros da política, que frequenta o Palácio do Governo, que tem empresas que prestam serviço ao governo. Então, o que dizem as autoridades fiscalizadoras? O fato é que o bispo tinha razão. E pior é o que eleitor roraimense tem servido de adubo para que esta terra continue fértil para os desmandos políticos. A corrupção no mais alto escalão dos poderes constituídos só floresce graças à contaminação de uma sociedade que aprendeu a se tornar tolerante com os corruptos na medida em que se envenenou com a política do assistencialismo. Ontem se distribuía buchada com o argumento de que povo passava fome. Hoje se distribui leite. E assim o eleitor vem servindo de adubo, mantendo esta terra fértil que só tem beneficiado o enriquecimento ilícito de alguns. Resta ao povo tão somente as mazelas provocadas pela corrupção. Enquanto houver adubo, a terra continuará produzindo. *Jornalista - [email protected] - Twitter: twitter/JesseSouza - Facebook: facebook/jesseroraima
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 15:16:58 +0000
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