"Tesoura, papel e pedra" "Leia o laudo" - diz o professor. - TopicsExpress



          

"Tesoura, papel e pedra" "Leia o laudo" - diz o professor. "Professor, já li, o laudo é esse" - diz a residente. "Não, você leu a conclusão, leia o laudo completo" - novamente o professor. A residente suspira (pensa: quanta ciência! Ainda tenho uma enfermaria inteira para evoluir e ele não vai ficar aqui para me ajudar. Já li, se não escuta, se aposenta!) e lê em voz alta novamente. Todos (alunos, assistentes) trocam olhares. O professor diz: "viu? Como a descrição completa do exame muda a sua interpretação? E agora, doutora, tem certeza que irá realizar essa cirurgia?" A residente tem um só sentimento: vergonha. E sabe que ele já tinha lido o laudo... Leituras superficiais geram interpretações superficiais que geram condutas superficiais - na medicina, entenda-se: ineficaz. Outra máxima é: você só faz os diagnósticos das doenças que você conhece. Se nunca viu, se não estudou, nunca será capaz de diagnosticá-la. ("Não acredito em bruxas, mas sei que elas existem"). Isso justifica minha obsessão-compulsão por hospitais universitários e seu infinito mundo de patologias. Um bom professor é aquele que diz: isso eu não sabia. Um mau médico é aquele jovem que grita (ou debocha) "isso não existe!" Medicina é como "O Poderoso Chefão" - suas falas servem para tudo na vida. Abro o jornal e leio no cantinho a prévia da reportagem de amanhã: "A falta de médicos nas periferias". Não vou recortar e colar e desconstruir frases. Fica, para o curioso, o treinamento. Há relatos de problemas e daí fazem uma conclusão. (Aguardam por bananas porque faltam maçãs. Oi?) A gente - médico - passa muito tempo dentro de uma caixa - a medicina. Não grita, não xinga, não faz greve de fome, não pede. "Existem doentes, vou cuidar dos doentes." Com o que tenho, com o que não tenho, vou mudar de emprego porque não acredito neste. Sempre existem empregos (bons, ruins, péssimos). Sempre existem empregos porque sempre existem doentes. "Existem doentes, vou cuidar dos doentes." E aí, saímos da caixa. E jogam pedras. Culpa da pedra? Da caixa? De quem joga? Não, não sou superficial, eu leio o laudo: culpa nossa. E entre laudos, pedras, macas, doentes, vamos seguindo. Amanhã irão ler o papel, jogarão as pedras, e a nós, tesouras? Não combina. Ficaremos com o laudo. Cada um tire a sua conclusão.
Posted on: Sat, 06 Jul 2013 15:17:47 +0000

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