Texto do amigo e colega da antiga Cruzeiro do Sul Carlos - TopicsExpress



          

Texto do amigo e colega da antiga Cruzeiro do Sul Carlos Lira. JOSÉ MANUEL Amigo Paulo Resende, até que ponto nós chegamos, né? Meu Deus que situação desesperadora nós estamos metidos! Mais que nunca o idoso brasileiro precisa de apoio, força e solidariedade. O idoso brasileiro é uma categoria nociva a esta política devastadora deste PT carniceiro. Hoje, este ministro Joaquim Barbosa nos presenteou com um solene NÃO às pretensões dos aposentados deste AERUS que se encontra em estado terminal. É lamentável o que a insensibilidade reinante neste (des)governo nos brinda de uma maneira cruel e em sintonia com todas as camadas que constituem este PT miserável. Pelo andar da carruagem os protestos da população não repercutiram neste podre poder de DILMA! Estão querendo promover uma verdadeira guerra civil. Em outros países, os mandatários cuidam em evitar derramamento de sangue. Os carniceiros do Brasil, teimam, desafiam e provocam uma reação em massa. Esta gravação que você nos repassou me emocionou sobremaneira. É o retrato fiel da desesperança onde identificamos em cada rosto a apreensão, um provável desespero, o despreparo para a dor, sem forças para o pior que está vindo de maneira sutil, despropositado e inclemente. As vítimas deste caso AERUS, neste documentário, ainda alimenta uma tênue esperança de que um milagre aconteça, de que algo favorável venha amenizar o sofrimento de todos nós... José Manuel tomou para si o peso de todas as dores que atormentam a todos nós. Este quadro de sofrimento me faz lembrar a citação bíblica do Livro de Provérbio Capítulo 11:20 – “Abominação ao Senhor são os perversos de coração, mas os de caminho sincero são o seu deleite.” Até que ponto chegamos, repito. Um homem de bem, honesto, ex- trabalhador aposentado, fiel cumpridor dos deveres de cidadão, ser forçado a praticar um protesto extremo em defesa do que é seu de direito. Isso é doloroso, isso clama a Deus. A atitude extremada de José Manuel me faz lembrar a figura mitológica de Prometeu que roubou o fogo dos deuses e entregou-o aos homens. Por essa razão, Zeus castigou Prometeu e determinou seu martírio eterno. O fogo pode representar o conhecimento, e a ação de Prometeu talvez seja o sacrifício de um ser para beneficiar um grupo maior. É o sacrifício voluntário que o nosso herói José Manuel atraiu para si. Por volta das 16 horas do dia primeiro de julho do ano de 2013 teve início a grande missão deste nosso herói. Foi uma ação pensada, analisada e determinada por uma vontade férrea em sacrificar-se por si e por todos os sofredores do AERUS. Acordou, na primeira manhã, no Aeroporto Santos Dumont, e pareceu-lhe que estivesse sonhando. Lembrou-se de vozes chamando: “José Manuel... José Manuel...” Poderia ter sido seus colegas da Varig. Era estranho, compreendeu pela primeira vez – nenhum de seus colegas, em sua vida profissional, o chamavam com tanta insistência. Olhou para seu relógio mental, marcava meio dia. Mas isso era absurdo, sabia: o sol começava a despontar naquele momento. O ponteiro dos segundos, em seu relógio mental havia parado, esquecera de dar corda, isto é, deixara de alimentar-se. Bem, poderia fazê-lo naquele momento, acertá-lo aproximadamente, mas o tempo, na realidade, não importava. Alimentação naquele momento não o perturbava. Não era a necessidade mais importante. Dormira inteiramente vestido. Naquele momento, levantou-se cambaleante, sentindo rigidez nos ombros e quadris. Fez um ligeiro movimento de estiramento, curvando-se para os lados a partir da cintura com as mãos nos quadris. Sentiu necessidade de urinar e urinou no mictório do aeroporto, fazendo-o de modo que o jato passasse por sobre a borda do local apropriado. Não foi muito, pareceu-lhe que a urina tinha uma brancura leitosa, e não absolutamente dourada. Havia um peso de coisa bloqueada em seus intestinos, mas as dificuldades de defecar ali, naquele momento, foi ato de sua vontade e resolveu não defecar. Voltou ao altar do sacrifício, sentou-se e olhou para o sol que nascia. Estava pronto para acolher o segundo dia de jejum depois de beber água... José Manuel em ocasião alguma havia debatido consigo mesmo e chegado à conclusão de ir para ali com a finalidade de morrer naquele aeroporto. Fora algo que sua mente instintivamente aprendera e aceitara aquele auto-sacrifício para chamar a atenção do mundo. Não foi levado pela compulsão; naquele mesmo instante ele poderia cessar aquela greve de fome, se quisesse. Mas não queria. Estava contente em ficar ali num estado de tranqüilidade quase sonolenta. E estava seguro; isso era “importante” manter aquele sacrifício prometéico. Chamavam-lhe novamente o nome em um grande trovejar metálico: “José Manuel... José Manuel...” Desejou que não continuassem a chamá-lo. Serão os colegas falecidos que gritam o desespero da morte sem obterem resultado positivo na questão AERUS? Durante um momento pensou em berrar e dizer-lhes que acabassem com aquilo. Mas provavelmente não o fariam. O problema era que o som lhe perturbava as divagações, interferindo em seu isolamento. Estava apreciando a solidão, mas ela devia ser um isolamento silencioso. Era o amanhecer do terceiro dia. Rolou sobre a face (alguém lhe trouxera uma colchonete), que se aquecia naquele instante, à medida que subia o sol aquoso. Sob os olhos, um pouco afastada, uma espécie de lápide ostentava uma fúnebre mensagem: “aos aeronautas que foram e nunca mais voltaram”, notou a textura da pedra. Em todos os seus anos de aeronauta, nunca olhara uma pedra daquela maneira, vendo por baixo do gasto brilho superficial, penetrando até o profundo coração. Percebeu então o que era a pedra, o seu próprio corpo, as árvores agitadas ao sabor do vento, na Praça Salgado Filho; infinitos milhões de fragmentos multicoloridos, em movimentos ao acaso, uma dança selvagem que continuava interminavelmente ao ritmo de alguma canção silenciosa. Cochilou durante algum tempo e acordou com o eco de uma voz metálica: “José Manuel... José Manuel...” e foi forçado a lembrar-se de quem era. Era a sua própria voz que o lembrava de que ele encontrara a sua certeza – qualquer que fosse ela – e achava que todas as pessoas no mundo procuravam a sua. Talvez a encontrassem ou, desapontados, se contentassem com algo menos. Mas o importante, o importante mesmo era... O que era importante? A verdade estivera ali, estivera pensando nela e vivendo-a sem temor: a greve de fome... José Manuel, ó nobre Manuel, o seu organismo está reagindo a este jejum imposto pela própria vontade. Sentiu uma súbita contração nos intestinos, e uma dor aguda o forçou a sentar-se espigado, arquejante e amedrontado. Algum dentre os colegas que acompanham José, massageou-lhe suavemente seu abdômen. A dor desapareceu deixando-lhe um peso quase sufocante. Havia alguma coisa ali, algo nele... Dormiu finalmente, após mais um dia exaustivo ouvindo a voz fantasmagórica, chamando “José Manuel... José Manuel...” Poderia ser imaginação sua, reconhecia, mas pareceu-lhe que a voz se distanciava, cansara de chamá-lo, demorava-se carinhosamente sobre as sílabas de seu nome... Seria aquele o segundo, ou o terceiro ou o quarto dia? Bem... Não importavam nem o tempo e nem o espaço. De qualquer modo, os colegas, solidários, estavam ali o apoiando. Alguns com um sorriso sem graça e outros até choravam. Estivera sentado sobre a colchonete com os joelhos recolhidos e a cabeça entre os braços cruzados. Certa manhã – pode ter sido ontem ou amanhã poderá – teve certeza de que iria defecar e que não podia controlar-se. Dirigiu-se ao banheiro do aeroporto e foi evacuar. Eram pequenas bolas pretas, duras e redondas como bolinhas de gude. Não sentia mais sede, não sentia mais sede alguma. Mais espantoso ainda, não sentia o incômodo do frio, atormentando-o em vez disso, um calor insistente que lhe provocava formigamento nos membros. Estava, sabia, dormindo cada vez mais até que, não distinguia mais o sono como estado separado. O sono e a vigília tronaram-se tão tênues que não eram mais acordar e dormir nas horas determinadas, eram somente um dormir e acordar sem noção... José Manuel neste momento do sacrifício extremo, está acima do bem e acima do mal... Oremos por ele e que “a nação de Brasília” acorde e tome providência favorável ao drama AERUS. Ontem mesmo tivemos a triste notícia da morte de dois colegas de infortúnio. “De cetero Nemo mihi molestus sit: ego enim stigmata Domini Jesu in corpore meo porto” “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6-17) Carlos Lira
Posted on: Sat, 06 Jul 2013 08:20:46 +0000

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