"Todo esse mundo visível é apenas um traço imperceptível na - TopicsExpress



          

"Todo esse mundo visível é apenas um traço imperceptível na amplidão da natureza, que nem sequer nos é dado conhecer mesmo que de um modo vago. Por mais que o ampliemos em nossas concepções e as projetemos além dos espaços imagináveis, concebemos tão somente átomos em comparação com a realidade das coisas. Esta é uma esfera infinita cujo centro se encontra em toda parte e cuja circunferência não se acha em nenhuma. E o fato de nossa imaginação perder-se nesse pensamento, constitui, em suma, a maior característica sensível da onipotência de Deus.[...] Quero, porém, apresentar-lhes outro prodígio igualmente assombroso, colhido nas coisas mais delicadas que conheci. Eis uma lêndea que, na pequenez de seu corpo, contém partes incomparavelmente menores, pernas com articulações, veias nessas pernas, sangue nessas veias, humores nesse sangue, gotas nesses humores, vapores nessas gotas; dividindo-se estas últimas coisas, esgotar-se-ão as capacidades de concepção do homem, e estaremos, portanto, ante o último objeto a que possa chegar o nosso discurso. Talvez ele imagine, então, ser essa a menor coisa da natureza. Quero mostrar-lhe, porém, dentro dela um novo abismo. Quero pintar-lhe não somente o universo visível mas também a imensidade concebível da natureza dentro dessa parcela de átomo. Aí existe uma infinidade de universos, cada qual com o seu firmamento, seus planetas, sua terra em iguais proporções às do mundo visível; e nessa terra há animais e neles essas lêndeas, em que voltará a encontrar o que nas primeiras observou. Deparará assim, por toda parte, sem cessar, infindavelmente, com a mesma coisa, e perder-se-á nessas maravilhas tão assombrosas na sua pequenez quanto nas outras na sua magnitude. Pois como não admirar que nosso corpo há pouco imperceptível no todo, se torne um colosso, um mundo, ou melhor, um todo em relação ao nada a que não se pode chegar? Quem assim raciocinar há de apavorar-se de si próprio e, considerando-se apoiado na massa que a natureza lhe deu, entre esses dois abismos do infinito e do nada, tremerá à vista de tantas maravilhas; e creio que, transformando sua curiosidade em admiração, preferirá contemplá-las em silêncio a investigá-las com presunção. Afinal, que é o homem dentro da natureza? Nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. [...]"
Posted on: Sat, 03 Aug 2013 02:49:37 +0000

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