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TÍTULO DO ENREDO: RETRATOS DE UM BRASIL PLURAL AUTORES DO ENREDO: Cid Carvalho e Alex Varela APRESENTAÇÃO No Brasil, um gigante pela própria natureza, as Unidades de Conservação são áreas naturais protegidas por lei e guardam, em sua maioria, além de uma expressiva riqueza natural, um significativo patrimônio histórico-cultural, representado por ritos e celebrações, formas de expressão musical, conhecimentos, folguedos, causos e imaginário coletivo, todos construídos na relação íntima das populações tradicionais com o ambiente em que vivem. É preciso proteger o “corpo” do “gigante”, como o fez Chico Mendes! Chico Mendes (1944-1988), nome que batiza o órgão responsável pela gestão das unidades de conservação brasileiras, foi filho de migrante cearense, começou no ofício de seringueiro da Amazônia ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Assassinado no ano de 1988, em Xapuri, sua cidade natal, Chico Mendes nos deixou um legado de defesa da floresta e de proteção das populações nativas, bem como do meio em que vivem. Da mesma forma se faz necessário e urgente preservar a autêntica “alma” brasileira! E a “alma brasileira”, no dizer de Luís da Câmara Cascudo, é o amálgama de tradições múltiplas e milenares. “Nós brasileiros, somos representantes, biologicamente resignados, de povos de alto patrimônio supersticioso. (...) O nosso alicerce consta de amerabas, portugueses e africanos. (...)” “Todas essas memórias ficaram vivas nas reminiscências brasileiras, nos giros e volteios da ebulição mental, presenças ativas na química de todos os pavores coletivos”. Câmara Cascudo (1898-1986), um dos nossos maiores folcloristas, foi um “moderno descobridor do Brasil”. Através de suas pesquisas e incansável trabalho de campo, Câmara Cascudo nos revelou os caminhos dos vários “sertões” do nosso país, e assim passamos a conhecer melhor o nosso chão e a nossa gente através de nossas manifestações folclóricas, ali onde tantos pensavam não encontrar mais que o vazio imenso, uma vez que a própria etimologia de “sertão” remete a uma forma contrata de “desertão” que, de acordo com o próprio Cascudo, veio com os negros da África a bordo dos Negreiros. Proteger as nossas populações tradicionais e o seu folclore é a melhor maneira de preservar a VERDADEIRA NATUREZA do Brasil. Por isso, para o carnaval de 2014, a Unidos de Vila Isabel junta Chico Mendes e Luís da Câmara Cascudo para um redescobrimento da nossa terra e do nosso povo, revelando as cores e matizes que retratam um Brasil plural. SINOPSE DO ENREDO É o Brasil um gigante pela própria natureza! Um gigante feito de rochas, terras e matas que moldam sua figura, dos bichos e pássaros que vivem em seu corpo e dos rios que correm em suas veias. Um gigante que, por muito tempo, ficou adormecido enquanto seu corpo era mutilado e suas riquezas saqueadas. Mas é na força do povo, presente nos ritos e celebrações, na musicalidade, nos folguedos, nos causos, no imaginário coletivo e nas ações de preservação, que encontramos a alma deste imenso Brasil. Uma alma viva, que se manifesta e faz vibrar o corpo do gigante lhe fazendo despertar. Vamos então, seguindo a trilha deixada por Câmara Cascudo, encontrar os “desertões” africanos que “batizaram” os cafundós da nossa terra e, partindo da nossa Costa Marinha, adentrar os nossos sertões numa viajem para desnudar o corpo e reverenciar a alma deste imenso Brasil. Separando as Costas daqui e de lá estava o “Oceano Tenebroso”, como um espelho d’água a refletir a triste imagem da escravidão. Mas foi do meio do “desertão” da África tribal, e não do vai e vem do litoral, que herdamos a alegria das festividades e a espontaneidade do cantar e do dançar, e que desaguaram no vasto estuário da nossa cultura popular. Do lado de cá, os lusitanos também se fixaram como “caranguejos”, ocupando todo o litoral, berço da exuberante e diversificada Mata Atlântica, criando as diversas regiões coloniais e espalhando os “dejetos” da civilização e do progresso. Diferentemente das terras costeiras, onde os nativos e negros trabalhavam como escravos na exploração das riquezas, os “sertões selvagens” e desconhecidos ficaram renegados à própria sorte. Mas, enquanto os “civilizados” do litoral derrubavam a floresta original, os lampejos de “brasilidade” espocavam aqui e acolá: os nativos fizeram o colonizador “dançar” e os minuetos escaparam do salão para as varandas e dali para os congos, batuques e cucumbis dos terreiros negros. Seja nas procissões, seja nas danças, iniciou-se o “embaralhamento” como traço marcante desse barroco-latência que nos constituiu. Mas se, mesmo dilacerado, o litoral foi o ventre gerador, foram os solos desprezados dos sertões que guardaram e protegeram as tradições mais autênticas que do Brasil floresceu. Foi ali, na dureza da lida e da vida afastada da cidade, e não no litoral, lugar das transformações rápidas, que chegavam por meio das regiões portuárias, trazendo mercadorias e ideias que não tinham correspondência com os valores do nosso solo, que vingou a nossa legítima “alma” brasileira. É o momento de redescobrir na simplicidade da sombra de um cajueiro, do trabalho das rendeiras e das xilografias do cordel, a passagem que nos leva ao Reino do Cangaço, o fabuloso cenário onde Lampião e seus compadres se encontram com as cortes do sertão. E vislumbrar entre mandacarus, xique-xiques, facheiros e coroas de frades, a misteriosa “floresta Branca” onde o homem das caatingas, entre uma oração pedindo chuva e uma reza amaldiçoando a morte, nos mostra toda riqueza e esplendor. Onde antes acreditava-se existir apenas o vazio, o deserto e a morte camuflada e escondida na poeira. E quando a chuva cai do céu, por milagre ou pura sorte, o branco se torna verde e a vida vence a morte. E o verde tem mais cor! Deixe-se, então, seduzir pelo canto do uirapuru e seja conduzido ao Reino das Amazonas, as senhoras do “Inferno Verde”, onde o cangaceiro das caatingas se transforma em barão seringueiro e protetor da copaíba, da andiroba, do babaçu e do buriti. Vem do coração da mata a lição, vem do sertanejo amazônico o exemplo: que a corrente que agora enlaça os troncos, diferentemente daquela puxada por tratores assassinos, seja uma corrente que junte os elos da preservação, herdados de Chico Mendes e abençoados pelos seres encantados! Liberte-se das amarras e permita que o seu pensamento lhe transporte até os Sertões dos Cerrados nos acordes de uma moda de viola para conhecer o Reino de Morená e desbravar a intrigante “floresta de cabeça para baixo”, com suas quebradeiras de coco e a riqueza do capim dourado. É a grande oca onde os povos do Xingu realizam o Kuarup em honra aos ancestrais mortos, enquanto os deuses sagrados lutam contra o boitatá de fogo para impedir a queimada do seu território. E assim, sob reluzente céu azul anil, protegido esteja o berço das águas do Brasil. Mas não tenha medo! Feche os olhos, ouça o suave canto da Mãe-D’água e, no vai e vem das águas, no subir e descer das marés, se deixe levar até a Baía de Chocoreré no Pantanal, onde o Barco Fantasma com sua bandeira mal assombrada navega ao som do hino do Divino para proteger o lugar. E fecha a porteira e segura o gado! Boi, boi da cara preta, não derrube essa cerca porque o pantaneiro não tem medo de careta. Pois aqui tem boi verde do bem e gente que vira bicho sem ninguém estranhar! São tantos mistérios e “causos” que é preciso muito tempo para gente contar. Dê tempo ao tempo e asas à sua imaginação. Voe com a Gralha Azul aos Campos do Sul e também se torne um protetor dos pinheirais. E não perca o rodeio que está para começar: tem pinhão e peão na peleja! E tem o Negrinho do Pastoreio todo prosa em seu cavalo de pau querendo ser o vencedor, e o Caipora faceiro sentado em um porco do mato também tem o seu valor. Mas o tempo está acabando e o torneio chegando ao final. Levantemo-nos das nossas selas confortáveis do descaso, porque para sermos os campeões dessa corrida precisamos ter atitude, e pararmos o ganancioso relógio da devastação! É hora de ouvir os nossos corações, porque o coração é o que está dentro, é o sertão de cada um! Eis o reconhecimento da Unidos de Vila Isabel a todos os “Chicos” e “Câmaras Cascudos” anônimos espalhados pelo Brasil! Hoje somos “Vila” e “Herdeiros”! Herdeiros do respeito à nossa natureza e do amor às coisas do nosso país! Protegendo o “corpo” como fez Chico e a “alma” como fez Cascudo, estaremos preservando a VERDADEIRA NATUREZA do nosso gigantesco país e revelando as cores e matizes que retratam um Brasil Plural! Carnavalesco: Cid Carvalho Autores do Enredo: Cid Carvalho (Carnavalesco) & Alex Varela (historiador) BIBLIOGRAFIA: ABREU, Martha; DANTAS, Carolina Vianna. Música popular, folclore e nação no Brasil, 1890-1920. In: CARVALHO, J. M. de (org.) Nação e Cidadania no Império: Novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. CASCUDO, Luís da Câmara. Lendas Brasileiras. São Paulo: Global, 2001. . Folclore do Brasil. São Paulo: Global, 2012. . Geografia dos Mitos Brasileiros. São Paulo: Global, 2002. . Tradição, Ciência do Povo. São Paulo: Global, 2013. LIMA, Nísia Trindade. Um Sertão Chamado Brasil. Intelectuais e representação Geográfica da Identidade Nacional. Rio de Janeiro: IUPERJ; Editora Revan, 1999. MADER, Maria Elisa Noronha de Sá. O vazio: o sertão no imaginário da colônia nos séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica (Dissertação de Mestrado), 1995. Os descobridores: Luís da Câmara Cascudo. In: historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/modernosdescobrimentos.htm (Acessado em 25 de junho de 2013) SCARANO, Fabio Rubio. Biomas Brasileiros – Retratos de um Brasil Plural. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012. SOUZA NEVES, Margarida de. Viajando o sertão. Luís da Câmara Cascudo e o solo da tradição. In: CHALHOUB, Sidney et al. (org.). A História em Coisas Miúdas. Capítulos de História Social da Crônica no Brasil. Campinas: Ed. da UNICAMP, 2005.
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 02:44:24 +0000

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