UMA AVALIAÇÃO DA LUTA PELO PASSE-LIVRE NA CIDADE DE - TopicsExpress



          

UMA AVALIAÇÃO DA LUTA PELO PASSE-LIVRE NA CIDADE DE NATAL Todos nós participamos com muita esperança do ascenso popular e estudantil que tomou o nosso país no mês de junho e que foi responsável pela redução das tarifas de ônibus e metrô no Brasil. A juventude e a população que foi às ruas demonstrou que era possível lutar e o mais importante: QUE ERA POSSÍVEL VENCER! O sentimento de vitória sobre as forças policiais repressoras de São Paulo no dia 17 de junho e a partir daí a virada na consciência na maioria da população que rejeitou os métodos utilizados pela repressão que feriu jovens, populares e jornalistas, cimentou o terreno para que a ida às ruas ganhasse força e a burguesia e a força de repressão recuassem. Foi fruto da luta das massas a decisão da PM de SP de não utilizar mais balas de borracha nas manifestações naquele momento, e em várias cidades a força das ruas se sobrepôs às forças de repressão. O medo dos governos produziu um efeito dominó e vários prefeitos ao mesmo tempo abaixaram as passagens de ônibus. As manifestações foram MULTITUDINÁRIAS, ou seja, com uma diversidade de organizações políticas, de pautas, de anseios, de milhares de pessoas que estavam lutando pela primeira vez e que expressava o desejo de tomar em suas mãos a condução do processo histórico que ali estava se construindo. O sentimento anti-partido apareceu com força, devido a, por um lado, o desgaste dos próprios governos e em especial do principal partido que governa o país, e por outro lado, um sentimento de negação de tudo o que, em tese, poderia “controlar” o movimento. Prevaleceu o culto ao espontaneísmo e a desvalorização de tudo o que é organizado, como se tudo que fosse organizado, significasse burocrático e autoritário. Foi esta mistura de sentimentos, insuflados por organizações de direita (que inclusive pagaram pessoas para fazer isso), que aqui em Natal, no dia 20 de junho, os partidos que levavam suas bandeiras foram expulsos da maior manifestação que houve neste processo aqui na cidade. Nós do PSTU, apesar de compreendermos a progressiva desconfiança das massas em relação aos partidos pelos motivos já expostos, travamos uma luta política e ideológica para que os partidos de esquerda continuassem levando suas bandeiras, símbolos de seus programas e de suas crenças. Também perseguimos, junto com outras organizações, que a classe trabalhadora organizada participasse ativamente deste novo ascenso de lutas iniciado em junho e trouxesse para a arena das lutas os métodos da greve, da parada de produção, da ocupação de fábricas e refinarias. E que os movimentos populares e de luta pela terra, também revigorassem as ocupações de terra na cidade e no campo. Por isso, no mês de julho e agosto, foram realizadas duas greves nacionais, além das greves de servidores públicos, principalmente da saúde e da educação que se intensificaram aqui em Natal. POR QUE É NECESSÁRIO ESTE PEQUENO RESGASTE HISTÓRICO? Porque acreditamos que a luta pelo Passe-Livre desenvolvida aqui na cidade de Natal, é fruto de uma conjuntura de ascenso popular, operário e estudantil que ocorre aqui na cidade, mas sobretudo em nosso país. Ela é fruto do caos que o sistema capitalista e seus governantes estão fazendo com as cidades, excluindo sistematicamente os mais pobres do acesso à cidade e privilegiando os grandes eventos como a COPA do Mundo e a mobilidade para os ricos. Neste sentido, nós do PSTU compreendemos que a luta pelo Passe-Livre poderia ser a continuidade da luta dos estudantes que não foram às ruas somente por 0,20 centavos, e que se chocaria com os interesses do SETURN e sua máfia encastelada na prefeitura e na câmara municipal. Foi a partir desta compreensão, que fizemos um chamado a todas as organizações estudantis e de juventude da cidade para que construíssemos um comitê pelo passe-livre, a partir de um instrumento que seria um projeto de lei na Câmara de Natal. Infelizmente, as organizações não quiseram se somar naquele momento. Mesmo assim, desenvolvemos uma luta de formiguinha, arrecadando os abaixo-assinados nas escolas, realizando audiências e aulas públicas e mobilizando os estudantes em torno ao passe-livre. Porém temos certeza de que se tivéssemos construído a UNIDADE desde aquele primeiro momento, o potencial de mobilização poderia ter sido muito maior. Mas é esta UNIDADE que está sendo possível construir, a partir da primeira votação vitoriosa na câmara de Natal. A mobilização dos estudantes, encostou os vereadores na parede e eles tiveram que votar favoráveis ao projeto. É óbvio que sabíamos que o governo Carlos Eduardo e o SETURN iriam jogar pesado para reverter as duas vitórias que o movimento teve na Câmara, afinal, a burguesia é um inimigo muito poderoso. Mas também foi fruto desta luta que o prefeito foi obrigado a fazer um outro projeto de passe-livre, limitado, restrito, que não atende às nossas necessidades, mas que foi fruto da mobilização que conseguimos até aqui, e que nos possibilita hoje continuar a luta para ampliar a extensão do direito ao passe-livre a todos os estudantes. Portanto, a UNIDADE DE AÇÂO é essencial na luta contra a burguesia e seus governos. A UNIDADE DE AÇÃO que respeita as diferenças, mas que tem como objetivo derrotar o inimigo em comum. A UNIDADE DE AÇÃO entre as organizações e sobretudo entre todos os explorados pois a luta pelo passe-livre não se restringe somente à juventude, mas ao conjunto da classe trabalhadora e por isso que é tão importante a UNIDADE com as organizações de trabalhadores como os sindicatos e centrais sindicais. UMA POLÊMICA FRATERNA, MAS DURA COM OS COMPANHEIROS DO MPL E ANARQUISTAS Pensamos que é fundamental respeitarmos a autonomia das organizações e dos indivíduos no que concerne aos seus princípios, ao seu programa e aos seus símbolos como as bandeiras, as máscaras, as camisetas, os adesivos, etc. É neste sentido que sempre defendemos que as organizações políticas levem suas bandeiras aos atos, assim como defendemos o direito ao uso das máscaras para aqueles que querem ir mascarados, porém, no que diz respeito à construção da UNIDADE DE AÇÂO, acreditamos que a fragmentação e a divisão jogam contra o movimento, pois enfraquecem a luta contra o inimigo comum. E diante das divergências em relação à ação que vamos praticar, o único método que permite manter a unidade é a democracia operária, que é o método que respeita a vontade da maioria e que mantém a UNIDADE para lutar contra os inimigos muito maiores do que nós. Esta METODOLOGIA foi construída historicamente pela classe operária, pelos camponeses e pela juventude que lutam contra os patrões, contra os latifundiários e contra os governantes. É através desta metodologia que os operários conseguem ocupar as fábricas, os canteiros de obras e as refinarias e plataformas de petróleo. É através desta metodologia que os camponeses sem terra, assim como os trabalhadores sem casa, conseguem ocupar as terras e as aéreas urbanas e é com esta metodologia que os estudantes ocupam e mantém as ocupações das reitorias das universidades. Neste sentido, consideramos que os companheiros do MPL cometeram um erro grave ao não acatar a deliberação da plenária da Revolta do Busão que ocorreu na frente da Câmara de Natal no dia 15 de outubro. Apesar da maioria dos presentes na plenária serem contrários à manutenção do acampamento, os companheiros do MPL decidiram manter sozinhos, não acatando o método democrático. Nós do PSTU, apesar de não concordarmos naquele momento com a tática do acampamento, deixamos bem claro, que se fosse a vontade da maioria nós iríamos nos submeter e continuaríamos acampados. Porém não foi o que aconteceu com os companheiros do MPL e outros indivíduos, que além de perderem a votação, começaram uma gama de ataques à nossa organização dizendo que éramos “pelegos”. Foi inclusive feito um vídeo em que ao invés de atacar o prefeito e os vereadores, o foco do ataque eram os partidos que tinham “abandonado” o acampamento. Este erro, ocasionou no enfraquecimento do movimento e aprofundou a divisão. Este não é o método que leva o movimento a avançar, pelo contrário, quando as massas percebem que o movimento está dividido elas retrocedem. O acampamento não era mais uma UNIDADE DE AÇÂO, tão necessária para as massas lutarem contra o inimigo comum. O acampamento passou a ser de uma única FORMA de organização política, com a cara desta organização e que não representava o conjunto do movimento de luta pelo passe-livre. Os ataques àqueles que não estavam no acampamento, não porque tinham “abandonado”, mas porque estavam cumprindo a decisão da maioria, foram feitos dia após dia, publicamente na net. Este tipo de postura só acirra a disputa interna no movimento e não constrói a luta de forma unificada. “AÇÕES ISOLADAS” OU “AÇÕES COM AS MASSAS”: DUAS TÁTICAS OPOSTAS PARA O MOVIMENTO Outra divergência comum no movimento e que também não é nova, é a velha polêmica de como vamos conseguir derrotar a burguesia. Desde o século XIX, esta polêmica esteve presente em inúmeras lutas de resistência e revoluções e a própria história nos mostra que as “ações isoladas” ou “vanguardistas” não conseguiram mobilizar o conjunto os explorados e oprimidos, tendo o resultado sempre inverso: ser utilizada pela própria burguesia para criminalizar o movimento e disputar a consciência das massas contra a luta. Consideramos, e isto não é novidade pra ninguém, que temos profundas diferenças com a tática chamada hoje de Black Bloc. Para nós, e isso está publicado em diversos artigos, esta tática, ao invés de aproximar as massas para a luta, tem afastado cada vez mais a população do apoio às manifestações, como tem feito com que o número de manifestantes diminua nas passeatas. Por trás de um discurso que exalta a ação direta e inclusive que estaria desta forma “protegendo” as manifestações, se manifesta uma postura extremamente AUTORITÁRIA com o movimento. Não é o conjunto das manifestações que está escolhendo o uso da tática Black Bloc, mas é ao conjunto da manifestação que recaí o ônus da repressão policial desencadeada pela ação isolada dos indivíduos. Não é o conjunto da manifestação que decidiu querer ser “protegido” pelos mascarados vestidos de preto que querem ir à frente das manifestações e que inclusive disputam este espaço como se tivessem uma prerrogativa já PRÉ-DETERMINADA. O serviço de segurança do movimento tem que ser decidido pelo movimento e não pode ser IMPOSTO por indivíduos que se julgam com mais poder do que os outros. As táticas de quebrar as vidraças de bancos, explodir carros da imprensa, incendiar prédios públicos, etc, feita por indivíduos de forma isolada do movimento só leva à criminalização de todo o movimento, inclusive de quem não praticou tais ações, e afasta cada vez mais a opinião da população de ser a favor das manifestações. Não somos pacifistas, e nem pregamos a violência pela violência. Nosso critério sempre é o de praticar ações radicalizadas se estas ações são feitas junto com as massas e se ganham cada vez mais a consciência dos explorados e oprimidos pelo sistema, pois não existe possibilidade de revolução se não for com o conjunto da classe explorada. Não consideramos que serão POUCOS ILUMINADOS E VALENTES que irão substituir a classe trabalhadora na sua missão histórica de lutar contra o capitalismo. Defendemos a consigna de que “A EMANCIPAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA SERÁ OBRA DA PRÓPRIA CLASSE TRABALHADORA” e não de uma “vanguarda salvadora” e é por isso que julgamos que este tipo de ação joga contra o moinho da luta e da possibilidade de emancipação da nossa classe. Mas defendemos o método da ação direta feita com as massas, quando inúmeros camponeses quebram as cercas do latifúndio e se apropriam da terra, quando um exército de soldados proletários com suas barricadas enfrentaram a polícia na desocupação do Pinheirinho ( e que continua ocorrendo em inúmeras ocupações urbanas por este país), quando os operários em greve ocupam uma refinaria e ameaçam explodí-la se o exército se aproximar. E poderíamos dar outros inúmeros exemplos de radicalização da classe que luta cotidianamente contra a exploração e que nós do PSTU participamos juntamente com várias outras organizações do movimento. Portanto, consideramos outro erro grave dos companheiros querer radicalizar de forma isolada, como foi feito no ato do dia 25 de outubro na feira da CIENTEC, em que a ação praticada foi violentamente repudiada pelos estudantes e pessoas presentes naquele evento. Os companheiros devem refletir porque os atos estão se esvaziando. Muitos estudantes nos falam que continuam com vontade de participar, mas que tem medo, não mais da polícia, mas dos próprios manifestantes!!! Isso pode levar o movimento à derrota se não conseguirmos novamente trazer os estudantes para a rua. Apesar de não concordarmos com esta METODOLOGIA utilizada pelos companheiros, o PSTU sempre lutará contra a criminalização de qualquer movimento social e por isso defendemos qualquer ativista do movimento contra o aparato repressor do Estado. Inclusive estamos agora sendo criminalizados também e nossa vereadora Amanda Gurgel está sendo levada à comissão de ética da Câmara acusada de ter apoiado a ocupação da Câmara e estar defendendo os ocupantes. Diz Amanda numa sessão gravada na câmara de Natal e publicada pela imprensa: “Reafirmo o meu apoio em defesa do MPL, apesar de não concordar com todos os atos, e reafirmo que não vamos admitir a criminalização dos movimentos estudantis. Por isso, vamos fornecer o suporte jurídico para eles, que estão sendo processados por vossa excelência” (se referindo a Albert Dickson). Além disso o vereador Adão Eridan entrou com uma queixa crime contra Amanda Gurgel (PSTU) e Sandro Pimentel (PSOL) por eles terem denunciado a bancada do SETURN e terem apoiado o acampamento. Achamos que é necessário que discutamos nesta plenária a defesa destes companheiros pelo conjunto do movimento, assim como a defesa de todos os companheiros que estão sendo criminalizados por lutar. O QUE QUER O MPL: A UNIDADE PRA LUTAR OU DISPUTAR O MOVIMENTO PARA OS SEUS MÉTODOS? Os rumos do movimento em defesa do Passe-Livre daqui pra frente dependerá de como os companheiros do MPL responderão a esta pergunta na prática. Se os companheiros querem construir plenárias para fazer balanços destrutivos e atacar as organizações e em especial o PSTU, provavelmente não será possível termos UNIDADE para lutar pelo passe-livre com os companheiros. Os companheiros se recusaram a participar da plenária convocada por várias organizações para construir a continuidade da luta pelo passe-livre, um outro grave erro que demonstra o sectarismo com várias organizações políticas. Mas a plenária também avaliou, e estamos de acordo, que teríamos que fazer mais uma tentativa para buscar a unidade com os companheiros e por isso propusemos esta plenária da Revolta do Busão para que pudéssemos avaliar o movimento e traçar os próximos passos. Mas defendemos que a construção da UNIDADE exige em primeiro lugar o respeito às formas organizativas de cada um e em segundo lugar ao método democrático das deliberações das ações em comum, que visam que por mais que tenhamos diferenças programáticas e estratégicas, estejamos UNIFICADOS NA AÇÂO decidida coletivamente e que nenhum indivíduo se sobreponha ao que é deliberado pelo coletivo. Estes são os pressupostos básicos para a UNIDADE PARA LUTAR e acreditamos ser possível, mantendo a autonomia de cada organização, construirmos esta UNIDADE.
Posted on: Fri, 01 Nov 2013 01:11:31 +0000

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