Um pouco da nossa história HISTÓRIA- Katia Satou Seabra - TopicsExpress



          

Um pouco da nossa história HISTÓRIA- Katia Satou Seabra Daniela Luís Felipe Satou Gustavo Satou Lessa Ferreira Daniela Satou Carlos Satou de Aquino Estrangeiros foram perseguidos no Recife na 2ª Guerra Mundial por FERNANDO MENEZES Repórter especial Os quatro últimos anos da Segunda Guerra Mundial foram tempos difíceis para os estrangeiros residentes no Recife oriundos ou descendentes dos chamados países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Enquanto o governo de Getúlio Vargas (1930/1945) não se definiu, a máquina de guerra alemã se manteve longe do Brasil. Quando a pressão norte-americana obrigou Vargas a negociar a cessão de nossas bases (Natal e Recife), essenciais para a vitória aliada no norte da África, a sorte dos estrangeiros deu uma guinada. Um pouco antes da decisão de Vargas, o serviço secreto alemão informara ao alto comando nazista que ao contrário da Argentina, o Brasil se alinharia aos Estados Unidos, Inglaterra e França. Imediatamente, começaram os afundamentos de navios brasileiros, não apenas em águas internacionais, mas sobretudo na costa nordestina. Os anos de pesadelo para italianos, alemães, japoneses e suas famílias começaram com toda a força. De repente, velhos residentes, gente que já estava na cidade há mais de 30 anos, passaram a ser suspeitos de espionagem. Para os que ainda hoje guardam nítida lembrança dos acontecimentos, era uma amargura sentir de pessoas com as quais conviviam há dezenas de anos o ranço da desconfiança. E mais do que isso, a violência das agressões e da destruição do patrimônio, como ocorreu aos comerciantes alemães, italianos e japoneses, vítimas do quebra-quebra. E não só os estrangeiros passaram a ser suspeitos. Mesmo brasileiros que haviam trabalhado para escritórios comerciais germânicos ou japoneses, técnicos em máquinas e funcionários dos consulados, sofreram discriminação. Os agentes da Delegacia de Ordem Política e Social viviam rondando suas casas. As residências dos estrangeiros rotulados como suspeitos recebiam visitas inesperadas de policiais, como lembra Maria Sofia Bezerra Satou, viúva do então funcionário da Agência Comercial do Japão, em 1942, Takeo Satou: Vivíamos assustados. Os policiais entravam em nossa casa, remexiam tudo, faziam as mesmas perguntas e iam embora. Não sabíamos o que buscavam, até porque nada tínhamos a esconder. O mesmo tratamento era dispensado aos alemães e italianos, colônias bem mais numerosas do que o pequeno grupo de japoneses. A propaganda aliada, somada aos afundamentos de nossos navios, nivelou a todos. Os japoneses não fizeram a guerra em nossas águas e nem atacaram nossos navios, mas foram duramente tratados. Os exemplos de Pakeo Sato e Heiji Gemba são marcantes. Sato era executivo da agência comercial japonesa no Recife, e Gemba, ativo e próspero comerciante, proprietário da maior e melhor sorveteria do Recife. SEGREGADOS - A senhora Sato tem ainda bem viva na memória as cenas de sua partida do Recife. Depois de várias visitas da polícia política e do constrangimento de ver os amigos se afastarem, a situação piorou muito. Uma manhã, seu marido saiu para trabalhar na agência mas não regressou para o almoço, nem voltou para o jantar, também não chegou para dormir e eu fiquei em pânico. Só no dia seguinte ele voltou e explicou que tinha passado a noite na delegacia. Pouco tempo depois recebemos ordem de deixar o Recife. O prazo era humilhante, apenas 24 horas. Juntamos umas poucas coisas e saímos amargurados. Sato era genro de um fazendeiro do município de Vertentes, o ex-deputado Brás Bezerra da Silva. Nesta fazenda o casal permaneceu quase quatro anos. Não tinham permissão de ouvir rádio, não podiam sair da fazenda e vir ao Recife só com uma licença especial e muito bem vigiados. Heiji Gemba recebeu a solidariedade de um grande amigo, chefe político em Garanhuns, o coronel Figueira, que o acolheu em sua casa por quatro anos. No regresso, já em 1946, tanto Gemba quanto Sato tiveram que recomeçar a vida. A sorveteria e seus equipamentos estavam destruídos. A agência comercial japonesa obviamente fechara. Sato refez sua vida, dirigindo a pesca de atum e albacora no Nordeste, mas isso foi muito tempo depois. Os primeiros anos foram duríssimos, não dá para esquecer, comenta Maria Sofia Sato. CORREÇÃO: Na matéria de ontem, quando abordamos a questão da segregação dos funcionários alemães da Fábrica de Tecidos Paulista, dissemos por equívoco que a família Lundgren é de origem alemã. Na verdade, os Lundgrens são oriundos da Suécia.
Posted on: Sat, 16 Nov 2013 01:23:11 +0000

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