"Um surdo ouviu um mudo dizer que um cego viu um cocho - TopicsExpress



          

"Um surdo ouviu um mudo dizer que um cego viu um cocho correr". Pe. A. Vieira. É doloroso viver em uma república que tremeu e estremeceu, só pelo boato de que a "bolsa família" ia se acabar. Essa é a esmola tão vil quanto degradante, travestida de programa social, que mantém a pátria de cata cavacos. São 70 reais para cada família, uma quantia tão insignificante que mal cabe na palma de uma das mãos, mas que sem ela a Nação entra em convulsão social na anemia famélica de nosso povo. O principal programa do governo é manter e administrar essa esmola obscena, por baixo, e, por cima, encher o rabo dos banqueiros de dinheiro, como a empurrar mais toucinho na bunda de porco gordo. A corrupção virou moda e moeda de circulação oficial, e só resta ao homem comum "rir-se da honra e sentir vergonha de ser honesto". A burrice anda nas asas de jatinhos tirados da viúva. Qualquer cafajeste com uma calculadora, quanto mais sem escrúpulos, mais avança no erário, vira dono de empreiteira e é, respeitosamente, chamado de empresário. e "tem tanto burro mandando com fama de inteligência que, às vezes, eu fico pensando que a burrice é uma ciência". Por isto é que a medida que envelheço mais sou absolvido pelo meu glorioso passado comunista. Mas voltemos para o nosso feijão com arroz do caldeirão político de Goiás que, a mais de um ano da eleição, já está fervendo como a caldeira do diabo. O fato político de impacto foi a filiação de Júnior Friboi ao PMDB para ser candidato ao governo de Goiás. Friboi é sócio do BNDES, banco estatal de que o PT se julga dono. O ex-presidente Lula fez intervenção branca no PMDB e o mandou para cá, através do vice-presidente da República Michel Temer. Friboi chegou aqui tocando berrante, arrastando esporas, de chapéu atolado ou atolado até o chapéu e nem ligou para o diretório estadual do partido. O ex-prefeito Iris Rezende, dono histórico do PMDB, convenientemente, emburrou e não foi ao ato de filiação do rei do gado, passando a imagem de quem não engolia a imposição vinda de Brasília. É bom lembrar que Iris sabe tudo de política e muito mais: tem o domínio da razão. Ele tem a emoção dominada e organizada, organizadíssima, e a coloca sempre onde tira proveito e só a usa quando lhe convém. No terreno da emoção, Iris chegou ao último estágio homus sapience , e não tem esse sentimento privativo dos tolos: o remorso. Com o gesto, ele apenas mandou dizer que é candidato ao governo de Goiás, por enquanto candidatíssimo. Se amanhã as pesquisas de opinião mudarem de rumo, Iris dá também um goleio no corpo e adere com tanta naturalidade a Friboi que passará ao povo a impressão de que o sócio do BNDES fora sempre o seu candidato, mercê de uma amizade por laços de família, desde quando os Rezende Machado Carneiro, antes de se enriquecerem, foram também donos de frigorífico como continua sendo o Friboi. Aí, é mel na chupeta: o homem do berrante vira candidato a governador do PMDB, para perder, derrama dinheiro na campanha, e Iris volta a ser senador, sem gastar um real, apesar de ter dinheiro para pelar porco. Alguns fatos pontuais tem preocupado Goiás nos últimos dias: no próximo dia 20, o ex-presidente Lula virá a Goiânia para fazer política. Quer no mesmo balaio Iris e Friboi. Chega para a campanha à reeleição da presidenta Dilma, mas há quem diga que Lula já está em campanha para ele mesmo voltar ao Planalto. Lula insistirá na candidatura de Friboi e poderá xingar o governador Marconi Perillo que, recente e publicamente, o chamara de canalha. Lula é inimigo de Marconi, mas não gosta também de Iris. De outra parte, o deputado Ronaldo Caiado, fundador da UDR e neto de Totó Caiado, já anunciou que vai armar palanque para o socialista Eduardo Campos, neto de Miguel Arrais e governador de Pernambuco. Já há notícia de que Arrais, lá na cova, convocou reunião das esquerdas para baixar o centralismo democrático e desfazer o tal palanque. Totó Caiado já avisou que romperá a cova montado em seu cavalo preto e colocará abaixo esse palanque infame a chicotadas e a patas de cavalo. Outro fato bisonho é que o Dem de Ronaldo Caiado entrou na Justiça para caçar o vice José Éliton que foi obrigado a deixar a sigla por agressões seguidas de caiado, que exigia dele rompimento com o governador Marconi Perillo. José Éliton foi de uma tolerância franciscana, até que o diretório nacional do Democratas deu poderes ilimitados a Caiado para fazer o que bem quisesse. E o deputado continuou a hostilizar o vice-governador sistematicamente. Mas o fato político de grande impacto aconteceu ontem no clube Jaó: a filiação do vice-governador José Éliton ao PP do deputado Roberto Balestra, o político que abriu a primeira picada para Marconi, o moço de camisa azul, chegar ao governo em 98. Balestra é um desses políticos em extinção, vem do lenço branco da UDN que pontuava: "o preço da liberdade é a eterna vigilância". O ato de filiação de José Éliton ao PP se tornou uma explosão política de grandes proporções, com a presença maciça das lideranças mais expressivas do Estado, do governador Marconi Perillo e do governo em peso. O ato grandioso se revestiu de pontos visíveis: desagravar José Éliton das agressões do deputado Ronaldo Caiado e a consolidação do seu nome como candidato à reeleição ao lado de Marconi. Mas os membros históricos do PP iam mais longe, e um deles chegou a entusiasmar-se: "José Éliton é o plano B de Marconi e deverá ser candidato a governador". A filiação do vice-governador ao PP e do rei do gado ao PMDB foram os fatos mais eloqüentes da política de Goiás. O que há de comum entre os dois? José Éliton e Júnior Friboi tem José no nome e Júnior também. Ambos nasceram em maternidades diferentes, um em Rio Verde e outro em Anápolis, mas foram criados no mesmo município, em Posse. Apesar da coincidência, não há nada de comum entre os dois. A cantiga que embalou o berço de José Éliton foram os comícios da campanha de seu pai rumo à prefeitura de Posse, tendo no palanque o então senador Henrique Santillo. É por isto que se tornou esse animal politicamente correto O som, que embalou o berço de Júnior Friboi foi o tilintar metálico do dinheiro acumulado nas charqueadas e o baque surdo de bois no corredor da morte dos matadouros de seu pai, um homem determinado e estóico. A paisagem da infância de José Éliton foram os livros do escritório de advocacia do seu pai. A paisagem da infância de Júnior Friboi foi o braquiária esverdeando o horizonte do latifúndio, matizado de nelores brancos. A luta na juventude de José Éliton foi a sede de justiça na faculdade de direito e, depois, como advogado, o mais brilhante em legislação eleitoral, deixar os seus rivais nocauteados nos tapetes dos fóruns; a labuta de Friboi foi puxar bois pelos atalhos da Bahia, sem posto fiscal e multiplicar o capital da empresa de sua família. Antes dos 40 anos, José Éliton, orador fulgurante, sem dinheiro, chegou ao segundo posto mais importante do Estado: vice-governador e pode ir além. Júnior Friboi, derramando dinheiro pra todo lado, tentou ser vice de Marconi, nem assim foi aceito, isto depois de ser o presidente da maior distribuidora de carne do mundo. Agora, a Friboi é sócia do BNDESe e o rei do gado está nas pontas dos cascos para chegar ao governo de Goiás., mas falta ainda um queijo e uma rapadura. Os dois são a negação um do outro. Friboi é só dinheiro, tanto dinheiro que chega a ser sócio do BNDES. José Éliton é só política: aspira, respira e transpira política. Na paisagem de hoje só existem duas candidaturas definidas: Marconi e Iris outra vez. Se em política Iris é um phd(philosophi Honoris doctors) , mas tem muito o que aprender com Marconi é muito mais do que ele, pois frente a frente já o derrotou duas vezes. E em ambas, Perillo era candidato da oposição. Em política, Marconi sabe até o pulo do gato. Hoje, no PMDB existem dois candidatos: Iris para ganhar e Friboi para perder. Se o ex-prefeito sentir que perde a eleição para governador, ele empurra Júnior Friboi em seu lugar. Se elege senador com o dinheiro do empresário e encerra a carreira com o gosto amargo de não conseguir voltar ao governo. Já no governo existe apenas um candidato a governador: Marconi. Na hipótese mais extravagante dele deixar o governo para se candidatar a deputado federal, para eleger uma numerosa bancada, Marconi apoiará José Éliton para ganhar. Ele é o novo. Põe novo nisto. Ele é mudança. Põe mudança nisto. Ele é preparadíssimo e orador lancinante. É 40 anos mais novo do que Iris. É um moço desse tempo, antenado com esta geração e rápido no gatilho como Doc Holliday. Com o apoio de Marconi, José Éliton se elegerá governador contra qualquer candidato da oposição. Sai da frente, Iris, que esse rapaz em política é nitroglicerina pura. Se perder outra eleição para governador, estará assinando o seu funeral político. E em sua tosca e desgraciosa lápide política estará escrito: aqui jaz o futuro candidato ao governo de Goiás. (Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista.)
Posted on: Wed, 17 Jul 2013 01:16:22 +0000

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