VAI AQUI PATRÍSTICA CONFIRMADA PELA ARQUEOLOGIA A REGIÃO - TopicsExpress



          

VAI AQUI PATRÍSTICA CONFIRMADA PELA ARQUEOLOGIA A REGIÃO chamada DO PAPA MILCÍADES Através de uma passagem aberta na parede de fundo do cubículo A1 entra-se na região chamada de São Milcíades. A região foi escava na segunda metade do séc. 3º e contém muitos cubículos e arcossólios, também ao longo das galerias. A primeira galeria percorrida é bastante espaçosa. Ela era continuamente usada no período das visitas às sepulturas dos mártires, porque constituía uma passagem obrigatória dos antigos peregrinos das criptas dos Papas e de Santa Cecília à sepultura do papa mártir S. Cornélio nas criptas de Lucina. À parede esquerda, no início da galeria, vêem-se alguns símbolos: a pomba, dois monogramas, o peixe, a âncora, o passarinho que vai saciar a sede num vaso. No ângulo da primeira galeria à esquerda estão duas lápides relativas a sacerdotes: “Julianus presbyter” e “Presbyter in pace” (Juliano sacerdote e Sacerdote em paz). Logo após um cruzamento de galerias com uma ampla clarabóia, vê-se à direita, no alto, a sugestiva lápide da fênix radiada e nimbada, ou seja, com os raios e a auréola ao redor da cabeça. Como explicamos falando dos símbolos, a fênix representava para os primeiros cristãos, a ressurreição da carne e o nascimento à nova vida divina. Observemos agora o primeiro arcossólio, que era às vezes, como neste caso, decorado. Sobre ele a pequena lápide de Irene, uma menina cristã representada como orante na paz do céu. Ao seu lado, o símbolo por excelência da paz: a pomba. Pouco mais adiante, à esquerda, está a cripta do Refrigério, que servia para as reuniões de oração e para os ritos de refrigério, isto é, a comemoração anual dos defuntos. Conserva-se em seu interior a cobertura de um sarcófago monumental em forma de telhado, e, por isso a cripta foi chamada, no tempo do de Rossi, a cripta do telhado. Abre-se em frente ocubículo das 4 Estações, que simbolizam a continuidade da vida. Terminando a galeria, antes do portão, encontramos dois cubículos: à esquerda ocubículo de Aquilina, com a escrita “Aquilina dormit in pace” (Aquilina, dorme em paz). À direita, está o cubículo de Sofrônia, assim chamado pelo nome da defunta repetido duas vezes na parede do fundo. Esse nome está gravado outras duas vezes na cripta dos Papas. As escritas falam, provavelmente, de um cristão que, profundamente atingido pela morte de uma pessoa querida, talvez a esposa, descera à catacumba para encontrar conforto para sua dor. Ao pé da escada escreveu um augúrio: “Ó Sofrônia, que tu possas viver com os teus”. Depois escreveu ainda: “Ó Sofrônia, tu viverás no Senhor” e, embaixo,“Sim, Sofrônia, tu viverás”. Trata-se de um belo testemunho de amor conjugal e de fé na ressurreição. Após uma curva em U entra-se na galeria W2. À direita está o cubículo de Oceano, do nome da mítica personificação do mar pintado no teto. É de modestas dimensões, decorado com faixas vermelhas fortemente marcadas. Continuando, chega-se à galeria decumana Q1, a principal e mais longa galeria do cemitério, de onde partem as galerias secundárias chamadas “cardines – eixos”. A poucos passos da escada de saída encontra-se o cubículo dos Sarcófagos, fechados com placas de vidro na parte superior e que contêm alguns restos humanos. Termina aqui a visita ordinária às catacumbas de São Calisto. REGIÃO DE SÃO CAIO E DE SANTO EUSÉBIO Caminhando ao longo da galeria Q1 além da escada de saída Z, encontram-se duas importantes criptas históricas: à direita a cripta do papa Caio e à esquerda a do papa mártir Santo Eusébio. Cripta do papa Caio A cripta ocupa um lugar especial nas Catacumbas de São Calisto pelas suas proporções realmente excepcionais. Podia conter mais de sessenta pessoas. Foi projetada desde as origens assim tão vasta para favorecer as reuniões comunitárias. Através de uma ampla clarabóia, situada na galeria, garantiam-se à cripta luz e ar suficientes. A decoração é muito sóbria; as paredes foram revestidas de uma simples camada de estuque branco. Encontram-se nas paredes laterais muitos lóculos, mas só três na parede de fundo. O lóculo mediano, de consideráveis proporções, é a sepultura principal e mais importante de toda a cripta. Conservam-se nela os fragmentos da inscrição grega do Papa Caio: “Deposição do bispo Caio em 22 de abril” (ano 296) . Encontramos várias inscrições gregas e latinas na cripta, infelizmente quase todas fragmentárias, e também alguns grafitos. Um deles diz: “Senhor, ajuda o teu servo Benjamim”. Numa epígrafe está escrito: “Em paz o espírito de Silvano. Amém”. O pavimento também está repleto de sepulturas. Os grafitos nas paredes da cripta trazem os nomes de três bispos africanos, que vieram rezar na sepultura de seu conterrâneo Santo Optato, provavelmente sepultado nesta cripta. Cripta de Santo Eusébio Encontra-se na frente da de São Caio. É de forma retangular, mas não excessivamente espaçosa. As paredes e o pavimento eram revestidos de mármore. A clarabóia é moderna; a original abria-se no forro da galeria. A cripta contém três arcossólios. No arcossólio da parede direita localizava-se a sepultura de S. Eusébio. O interior era revestido de mármore, com o arco decorado com mosaico. Encontra-se nele uma grande placa marmórea moderna onde está gravado o poema composto pelo Papa Dâmaso em honra de Santo Eusébio. No centro da sala sepulcral está colocada um tosca cópia do poema, feita gravar pelo papa Vigílio (537-559) depois da devastação gótica. Na parte posterior a placa contém uma dedicação em honra de Caracala. A inscrição do Papa Dâmaso recorda a bondade e a misericórdia do pontífice pelos lapsos, apóstatas do Cristianismo, isto é, daqueles que tinham renegado a fé por medo das perseguições. Oposta ao pontífice era a posição de Eráclio, expoente do clero romano, que não aceitava o arrependimento deles. O Papa sustentava que, a exemplo de Cristo, que sempre tinha perdoado, era preciso ser compreensivos e perdoar os apóstatas, depois de um período de adequada penitência. A controvérsia, já debatida no pontificado do Papa São Cornélio (251-253), causou vivazes contrastes, sobretudo na segunda metade do séc. 3º e início do 4º, provocando desordens. O imperador Maxêncio, por causa dos contrastes entre as duas facções religiosas mandou afastar de Roma os seus expoentes. Eusébio foi enviado em exílio à Sicília, onde morreu algum tempo depois devido às privações. A Igreja considerou-o logo mártir. O seu sucessor S. Milcíades fez trazer o seu corpo a Roma e o depôs nesta cripta que dele recebeu o nome. O poema traz a dedicação “Dâmaso bispo fez (a inscrição) a Eusébio, bispo e mártir”. Eis o texto do poema: “Eráclio não admitia que os lapsos pudessem fazer penitências pelos seus pecados. Eusébio ensinava que esses infelizes deviam chorar seus pecados (fazer penitência). O povo, com a intensificação das paixões, dividiu-se em duas facções: nascem sedições, lutas, discórdias, litígios. (Eusébio e Eráclio) são logo igualmente exilados pelo cruel tirano. Uma vez que o guia (o Papa) conservara intactos os princípios de paz, ele suportou alegremente o exílio, à espera do juízo divino. Deixou o mundo e a vida terrena à margem sícula (da Sicília)“. Cubículo dos mártires Calógero e Partênio Deixando a cripta de S. Eusébio e ultrapassando um cruzamento de galerias, encontramos, à esquerda, a cripta dos Santos Calógero e Partênio, talvez vítimas da perseguição de Diocleciano. Chama particularmente a atenção um grafito gravado num pedaço de argamassa à esquerda do ingresso: “PARTN(i) MARTIRI isto é (Sepultura) de Partênio mártir CALO(c)ERI MARTIRI (Sepultura) de Calógero mártir” O cubículo foi completamente restaurado a partir dos primeiros séculos por causa do tufo pouco consistente. O cubículo à frente, maior que um cubículo comum de catacumba, servia como lugar de culto junto a veneráveis sepulturas. Continuando o caminho na galeria Q1, encontra-se um cubículo duplo, clareado em tempos antigos por uma ampla clarabóia. À esquerda encontra-se o Cubículo dos 5 Santos Assim chamado porque na parede de fundo estavam representadas cinco pessoas orantes no meio de um jardim, alegrado pelo canto de pássaros, com plantas carregadas de flores e frutos: clara imagem do paraíso. Acima de cada figura foi colocado o nome acompanhado do augúrio “Em paz”: “Dionísia em paz, Nemésio em paz, Procópio em paz, Eliodora em paz, Zoé em paz”. A pintura foi datada como dos inícios do séc. 4º. À direita há um cubículo duplo, clareado antigamente por uma ampla clarabóia. Trata-se do Cubículo do diácono Severo Pertencia a esse eclesiástico, que fora autorizado a escavá-lo pelo seu Papa Marcelino (296-304). Foi gravada no grande ambiente, numa trave marmórea que fechava um arcossólio, uma das mais importantes e sugestiva inscrições métricas da Roma subterrânea. Os primeiros versos da inscrição falam da propriedade do cubículo: “O diácono Severo, autorizado pelo seu PP (papa) Marcelino, fez um cubículo duplo (formado por dois ambiente conjugados), com arcossólios e clarabóia, para a tranqüila morada na paz, sua e de seus caros, onde conservar no sono (para Deus) criador e juiz, por longo tempo, os caros membros …”. A inscrição continua com a afetuosa lembrança do pai Severo pela sua filhinha: “Severa, doce aos pais e aos servos, entregou (a alma ainda) virgem (isto é, criança) no dia 25 de janeiro. A ela o Senhor quis conceder desde o nascimento sabedoria e beleza…”. A inscrição é importante do ponto de vista dogmático, porque exprime a fé na ressurreição dos corpos: “O corpo mortal está sepultado aqui em tranqüila paz até quando o Senhor o fizer ressurgir, Aquele que tomou a sua alma casta, pudica e para sempre inviolável com o seu santo espírito, e que a restituirá (ao corpo) adornada de glória espiritual. Viveu nove anos, onze meses e quinze dias. Passou assim desta vida terrena”. A inscrição é importante também do ponto de vista histórica, porque é o primeiro documento epigráfico em que o Bispo de Roma é nomeado com o título de “Papa” (pai). Desde então o termo foi usado como sinônimo do Bispo de Roma. A palavra não está gravada por inteiro, mas com a sigla PP, a mesma ainda usada pelos Papas em suas assinaturas. Deixando agora a estrada mestra da galeria Q1 e girando à esquerda entramos na galeria R2, em cuja esquerda encontra-se o Cubículo das Ovelhinhas A sepultura do fundo é constituída por um nicho para sarcófago, com um arco sobre ele . O arco e a luneta contêm uma pintura do séc. 4º, danificada pela abertura de um lóculo. No centro do arcossólio está a imagem do Bom Pastor com a ovelhinha nos ombros, rodeado por um rebanho (um carneiro e cinco ovelhas). A cena representa Cristo Bom Pastor que leva o defunto às fileiras dos bem-aventurados. Aos lados, dois homens de túnica e pálio, apressam-se em beber de duas fontes que brotam da rocha: são dois bem-aventurados que recobram as forças nas fontes de água viva que é Cristo. Na parede esquerda do nicho encontra-se uma cena eucarística que pode ser definida como única na pintura, embora freqüente nos sarcófagos. Jesus impõe as mãos sobre um cesto de pães e alguns peixes que lhe são apresentados por dois Apóstolos. Por terra, seis cestos de pães com cruz em cima. A pintura foi em seguida danificada pela abertura de um pequeno nicho para lamparinas. Na parede direita do arcossólio está representado Moisésque tira as sandálias. Ao lado aparece Pedro no ato de bater sobre a rocha para fazer brotar água. Um soldado com a lâmpada ao lado, aproxima-se da fonte e bebe água com as duas mãos. Moisés é o símbolo da antiga Lei, Pedro da nova. A água da rocha é símbolo da água batismal; o soldado vestido como militar romano representa os primeiros pagãos convertidos por Pedro. A REGIÃO OCIDENTAL Originou-se nos inícios do séc. 4º e desenvolveu-se no período da paz religiosa. A área foi usada apenas com finalidade sepulcral e tinha uma escada própria. Contém um discreto número de cubículos, entre os quais um redondo com o teto em cúpula. Este mausoléu subterrâneo acolhia uns cinqüenta defuntos. Merece atenção particular, o arcossólio de Nossa Senhora, da metade do séc. 4º. Conserva-se nele a cena da Epifania: Nossa Senhora sentada num trono, tem um véu sobre a cabeça e está vestida com um longa túnica. Tem sobre os joelhos o Menino Jesus, que veste uma pequena túnica. Os Magos, que representam os primeiros pagãos chegados à fé, apressam-se a oferecer seus dons ao Menino. A REGIÃO LIBERIANA Foi escavada na segunda metade do séc. 4º na parte setentrional do Cemitério de São Calisto. A região foi assim chamada pelo de Rossi depois de encontrar três inscrições sepulcrais do tempo do papa São Libério (352-366), predecessor de São Dâmaso. Numa das inscrições, agora no Museu Pio-Cristiano do Vaticano, fala-se de uma certa Euplia, menina de cinco anos, “deposita in pace sub Liberio papa” (“sepultada em paz no tempo do papa Libério”). Sua principal característica é a presença de grandes cubículos com teto em forma de cruz ou semicírculo, tendo nos quatro cantos colunas entalhadas no tufo. Às vezes, em lugar das colunas existem pequenas pilastras. A região contém um grande número de clarabóias, bem visíveis também nono nível terreno. As pinturas, não muito numerosas e espalhadas em diversos lugares, referem-se a temas conhecidos de representações catacumbais: Cristo “pantocrátor”, um monograma de Cristo, Adão e Eva com a serpente, Susana entre os anciãos que a acusam, etc. Alguns cubículos desta área foram adquiridos por membros do clero, como Deusdedit “que, com bondade, dobrou o coração dos obstinados. Foi cultor da justiça e levou uma vida honesta. Rico com os pobres e pobre consigo mesmo”. O diácono Tigridas distinguiu-se“pela seriedade de vida. Foi também homem de tipo antigo, diligente, atento e observante da lei divina”, enquanto o diácono Redento “transcorreu uma juventude digna de louvor e viveu de modo inocente”. Os diáconos eram estritos colaboradores dos bispos; em Roma, do Papa. Na hierarquia eclesiástica eles vinham após os presbíteros e, na comunidade cristã, desenvolviam funções litúrgicas, administrativas, caritativo-assistenciais… Inscrições sepulcrais Nas Catacumbas de São Calisto contam-se bem 2378 inscrições, boa parte das quais pertencentes a esta Região Liberiana. Elas trazem a lembrança do humilde mundo da Igreja das origens; são testemunhos da vida, da fé, da morte dos primeiros cristãos. As inscrições são elogios das virtudes e dos merecimentos dos defuntos; são a lembrança de sua participação na vida familiar, social, religiosa; são invocações e orações pelos defuntos e pelos supérstites. Elas exaltam a vida conjugal e familiar: Celso Eutrópio perdeu a jovem esposa com apenas trinta anos, depois de terem vivido juntos quase onze anos de matrimônio feliz. Ele escreve na lápide sepulcral que o tempo passado com ela fora um paraíso: “Celso Eutrópio a sua esposa… que viveu sempre comigo sem jamais dar-me qualquer desprazer. Sua vida foi de 31 anos, 9 meses e 15 dias. Passou com o marido 10 anos e 9 meses… Benemérita em paz”. Probiliano exalta a honestidade e a bondade da mulher: “Probiliano à sua esposa Felícita, da qual todos os próximos conheceram a fidelidade, a honestidade dos costumes e a bondade. Jamais o traiu nos oito anos de ausência do marido. Foi sepultada neste santo lugar no dia 3 de janeiro”. Os pais de Acuziano chamam o filhinho de “cordeiro de bondade oferecido a Cristo”: “A Júnio Acuziano, que viveu cerca de dez anos. Benemérito na paz. Sepultado no dia… Na sepultura que vês, repousa um menino arguto no falar apesar da jovem idade. Cordeiro levado ao céu e dado a Cristo”. A mãe de Agostinho dedica a inscrição ao filho adolescente: “… ao doce repouso, à singular piedade, à inocência da vida e à admirável sabedoria de um adolescente caríssimo, que escolheu a religião da mãe. Benemérito além de qualquer palavra… Agostinho viveu 15 tenros anos e 3 meses. A piedosíssima mãe ao dulcíssimo filho na paz eterna”. Um pai recorda com amor ilimitado o pequeno Macedoniano, já órfão: “Ao caríssimo filho Macedoniano, mais suave que qualquer doçura de filhos, que viveu nesta terra nove anos e vinte dias. Um pai fez a sepultura ao seu querido. Em paz”. Encontra-se na escada da Região Liberiana a lápide de uma jovem de vida exemplar: “ASegunda, de bondade admirável, que viveu 20 anos com fé sincera. Foi de costumes honestos. Conservou a sua virgindade. Morreu na paz do Senhor. À benemérita pomba sem fel (sem maldade no falar). Sepultada no dia 15 de julho sob o consulado de Mamertino e Nevita”. Valentina é chorada pelos pais com amor pungente: “Ó Valentina, doce e tão amada, estou vencido por um pranto irrefreável e nada posso dizer. A quem dirigiste o teu sorriso, ele permanece no coração acrescentando outras lágrimas, e não pode tirar-lhe a dor. O céu raptou-te improvisamente “. Os cristãos participavam plenamente de todas as atividades sociais, nas profissões e nos trabalhos mais disparatados, colocando a própria vida a serviço dos irmãos. As inscrições confirmam-no amplamente e recordam: Deutério, professor de latim e grego: “Deutério, intérprete dos antigos vates (poetas) e professor de latim e grego, repousa seguro (da salvação) em tranqüila paz”. Teódulo, suboficial valoroso e administrador honesto: “A memória dos amigos conserva a lembrança de Teódulo, que morreu com a honra das armas. A sua lealdade, com efeito, distingue-o entre os suboficiais. Fiel aos companheiros de armas e aos amigos. A fama declara-o servidor de Deus mais que do dinheiro, e íntegro suboficial da Prefeitura Urbana. Se estive em grau de fazê-lo, diria sempre os seus louvores, para que sejam concedidos os prometidos dons de luz (o paraíso)…“. Redento, diácono chorado pelos seus fiéis e pelo Papa Libério: “Detém, ó dor, as lágrimas! Ó povo santo de Deus, perguntas do diácono Redento? Improvisamente acolheu-o o Reino dos céus. Tirava doces sons cantando suavemente e celebrando com plácida harmonia o santo profeta Davi (cantava os Salmos). Sua vida terrena foi a de um inocente, sua juventude foi louvada. O mal finalmente foi vencido e não pode mais causar-lhe dano. Agora, acolhe-o o paraíso, depois de tê-lo raptado, aquele que obtivera tantas vitórias sobre o inimigo (o diabo)“. Ânio Inocêncio, núncio apostólico: “Ânio Inocêncio, acólito, viveu 26 anos.Por disposição eclesiástica, ele afadigou-se muito em viagens. Foi, de fato, enviado duas vezes às províncias gregas, freqüentemente à Campânia, Calábria e Apulia. Enfim, enviado à Sardenha, ali foi-se deste mundo. O seu corpo foi transladado para este lugar. Dorme (agora) em paz, em 25 de agosto”. Valério Pardo, hortelão, representado com a foice numa das mãos e uma hortaliça na outra: “Aqui repousa Valério Pardo. Felicísima fez a inscrição ao ótimo marido”. Ebêncio, sacerdote em cura de almas: “Aqui repousa Ebêncio presbítero, que, chegando ao sacerdócio de Cristo, mereceu governar o povo de Deus”. Estas são apenas algumas das várias epígrafes das Catacumbas de São Calisto, que descrevem a vida dos cristãos e a extrema variedade de suas profissões. Percebemos o quanto estivessem intimamente inseridos no contexto social do tempo. Não podemos continuar a transcrever suas lápides, mas recordamos o nome e a profissão de alguns outros cristãos: Dionísio, médico e sacerdote. Aurélio Aureliano, centurião da 4ª coorte; Gorgônio,mestre; Paulo, exorcista; Justo, chefe artesão, recordado com o machado, o cinzel, a colher de pedreiro; Primênio, vendedor de comida; Puteolano, escultor de mármore;Jovinus, construtor de carroças; Astásio, Alexandre, Picêncio, Quinto, Martiniano, Urso, Félix, coveiros; Fausto, servente. Sobre a sepultura de um comerciante está gravada sobre a placa de cobertura uma balança, da mesma forma que uma serra e um frasco de bebida estão gravados na lápide de um carpinteiro. Com muita razão os apologistas dos séc. 2º, 3º e 4º podiam confutar como absurdas e injustas as calúnias e acusações dirigidas aos Cristãos de viverem isolados de todos, de serem desonestos e improdutivos. Sua forma de vida era maravilhosa, ou melhor, tinha algo de incrível (Carta a Diogneto); não se isolavam realmente, mas participavam de todas as atividades como os pagãos; numa palavra, “viviam na justiça e na santidade” (Aristides); “tinham aprendido de Deus a viver na honestidade” (Tertuliano). “Passam a vida na terra, mas são cidadãos do céu”. As inscrições da Catacumba ilustram, de fato, a fé professada dos primeiros Cristãos. Dizem-nos o que eles pensavam das realidades últimas, da morte e da sorte da alma na eternidade. As inscrições revelam nos fiéis uma difusa atitude de serenidade e de paz. A morte não é vista como maldição, como o fim de tudo, mas como um repouso tranqüilo à espera da ressurreição dos corpos prometida por Cristo. Uma expressão ocorre continuamente: “Em paz, sepultado em paz, morreu em paz, entregou a alma em paz, dorme na paz”. Encontramos também freqüente o augúrio:“Possas viver entre os Santos, em Deus, em Cristo, no Espírito Santo, eternamente”. O voto expresso é ilustrado pela pomba com o raminho de oliveira, símbolo universal de paz.“Felícia, a tua paz no Senhor”. A mesma certeza é encontrada nas outras catacumbas. Uma inscrição em particular resume a fé dos Cristãos: “O doce e inocente Severiano dorme aqui no sinal de Cristo, no sono da paz. Viveu mais ou menos 50 anos. Sua alma foi recebida na luz do Senhor”. O destino final dos Cristãos é a ressurreição de Cristo e a vida eterna. Fala por todos Dâmaso, o cantor das catacumbas. Após recordar em sua inscrição alguns milagres de Cristo, como caminhar sobre as ondas do mar (Mc 6,45-52); a ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), e a sua própria ressurreição (Mt 28,1-10), Dâmaso afirma com absoluta certeza que Jesus Cristo o fará ressuscitar um dia: “Aquele que dá nova vida às sementes que morrem sob a terra, Aquele que pode desfazer os laços letais da morte após as trevas, dando de novo depois de três dias à irmã Maria o irmão entre os vivos, creio que fará Dâmaso ressurgir de suas cinzas “. AS CRIPTAS DE LUCINA Ao longo da Via Appia, após meados do séc. 2º, tiveram origem as Criptas de Lucina. O nome de Lucina deve-se à notícia trazida pelo Liber Pontificalis na biobrafia do Papa São Cornélio: “A bem-aventurada Lucina, com a ajuda de alguns eclesiásticos, recolheu à noite os restos do papa Cornélio para depô-los numa cripta escavada em uma propriedade sua no Cemitério de Calisto na Via Appia, em 14 de setembro”. As criptas são formadas por dois hipogeus “alfa” e “beta”, pequenas áreas subterrâneas destinadas a sepultura, contendo alguns cubículos, que se comunicam entre si por galerias e possuem exteriormente duas escadas. No séc. 4º essas criptas foram unidas ao Cemitério de São. Calisto através de uma galeria que permitia aos peregrinos, que tinham visitado as criptas dos Papas e de Santa Cecília, atingirem diretamente, através da Região do Papa Milcíades, a sepultura do Papa Cornélio aí sepultado. Lapide Cornelius Martyr © Pontificia Commissione di Archeologia Sacra São Cornélio, eleito Papa em 251, depois de um ano de pontificado, foi exilado em Civitavecchia onde morreu no ano seguinte. Devido aos graves sofrimentos padecidos foi considerado mártir e como tal foi qualificado também por São Cipriano em diversas ocasiões. A Igreja de Roma celebrou a data de sua definitiva deposição no cemitério de São Calisto em 14 de setembro. Sua sepultura tornou-se meta de constante peregrinação testemunhando o florescente culto dos mártires em Roma. O corpo de São Cornélio foi deposto num amplo nicho quadrangular do hipogeu b e diante dele foi colocada uma placa marmórea onde foram esculpidas as palavras: “CORNELIVS · MARTYR · EP (iscopus)“ (Cornélio bispo mártir) Na pare de à esquerda da sepultura estão representados os santos Sisto II e Optato. À direita da sepultura há uma mesa de forma circular: servia para apoiar as lamparinas a óleo que ardiam em honra do papa mártir. Vêem-se na parte alta da parede, as figuras dos santos Cornélio papa e Cipriano, bispo de Cartagena (mártir na perseguição de Valeriano em 258). As quatro figuras são nimbadas, isto é, têm a auréola ao redor da cabeça; vestem hábitos pontificais e com a mão esquerda seguram um livro ornado de pedras preciosas (o Evangelho). Acima da sepultura do papa Cornélio, encontra-se parte da lápide em que foram gravados os versos do papa Dâmaso, por ele ditados como lembrança da construção da escada que leva à cripta e da abertura de uma dupla clarabóia. O Papa releva que realizou os trabalhos levado pela própria solicitude pelas sepulturas dos mártires, e convida os fiéis a rezarem por ele, enfermo e aflito por muitas preocupações. Encontra-se nessas criptas um cubículo duplo, rico de pinturas do final do séc. 2º com as cenas do Batismo de Jesus, Daniel na fossa dos leões, duas figuras do Bom Pastor, outras duas orantes veladas, o ciclo de Jonas. Encontram-se aqui os famosíssimos peixes eucarísticos: dois peixes e diante de cada um deles um cesto com pães, com uma taça cheia de vinho tinto. Simbolizam a Eucaritia. DESPEDIDA As Catacumbas de São Calisto são muito extensas. Percorremos apenas uma parte do segundo plano, que constitui, porém, a parte mais importante devido às criptas sem dúvida de valor histórico: dos Papas, de Santa Cecília, de Santo Eusébio, e os Cubículos dos Sacramentos. A nossa visita de estudo e de piedade foi breve, mas suficiente para dar-nos uma idéia do que sejam as catacumbas, os cemitérios da Igreja dos primeiros tempos. As catacumbas são a prova histórica de que a Igreja em suas origens foi uma Igreja de Mártires. Estão sepultados nestas catacumbas cerca de 46 mártires dos quais conhecemos os nomes, mas certamente eles foram mais numerosos. A Igreja daqueles tempos foi também uma Igreja de Cristãos autênticos, que não sepultaram a própria fé debaixo da terra, nas catacumbas, mas manifestaram-na abertamente em todas as situações da vida, na família, no trabalho, nas profissões, com lealdade ao imperador e ao Estado e bondade para com todos, tanto é verdade que suscitaram a admiração incondicionada também dos não cristãos. Descrevemos um cemitério onde tudo fala de vida mais do que de morte. Cada galeria percorrida, cada cubículo visitado, cada pintura, cada escultura, cada inscrição, ofereceram-nos uma mensagem, com linguagem silenciosa, mas verdadeira e compreensível: a mensagem da fé, do testemunho cristão na vida de cada dia e do martírio nas perseguições.
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 21:46:45 +0000

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