VALE A PENA LER... Tá no Sangue Nasci num dia qualquer de - TopicsExpress



          

VALE A PENA LER... Tá no Sangue Nasci num dia qualquer de verão, Ao abrir os olhos, vi uma mulher, minha mãe, não sabia se chorava ou sorria. Segurava-me como a um tesouro. Ao chegar em casa, vi muita gente, menos meu pai. Caminhoneiro, estava na estrada. A gente só se viu dez dias depois. Para poder me pegar, minha mãe fez o coitado tomar um banho de uma hora, até cândida teve que passar nas mãos. Pegou-me em seus braços e chorou. Chorou de alegria, de remorso por não estar aqui quando nasci, de preocupação com meu futuro. Foi a primeira e única vez que vi meu pai chorar. Não tive muito tempo com ele. A estrada era sua morada, mas a cada volta pra casa era uma alegria. Ele sempre me trazia um presente. Uma figa da Bahia, uma pinha do Paraná, uma cuia do Rio Grande do Sul. Adorava todos eles, mas o que eu mais gostava, era poder ficar em seu colo "dirigindo" o caminhão que não saia do lugar e tinha em minha boca o ronco do motor. Ele nunca me levou em suas viagens, nem a minha mãe. Ele dizia: "a estrada é perigosa e o que anda pela estrada, mais perigoso ainda." Contentava-me em dar umas voltas pelo bairro olhando com atenção todos os seus movimentos. As trocas de marchas, o controle do volante, a atenção no caminho. Os anos se passaram. As minhas pernas cresceram, e passei a dirigir o meu próprio caminhão. Meu pai, meu amigo, meu confidente, meu braço direito, agora era também meu companheiro de profissão. Viajávamos juntos. Às vezes, nos encontrávamos em um posto qualquer pelas estradas, e às vezes, até em casa. E foi em uma dessas voltas para casa que estranhei a movimentação. Muita gente, não era normal. Entrei, vi muitos parentes e minha mãe chorando. Meu pai tinha morrido. Na estrada. Um bêbado irresponsável entrou na contramão e ia chocar-se de frente com o caminhão. Meu pai girou o volante tudo para direita. Evitou o choque, mas caiu de uma das milhares pontes sem proteção. O céu ganhou um anjo. A vida continuou. Eu sempre na estrada, até que conheci uma boa moça com a qual me casei. Procuro fazer do pouco tempo em que estou em casa, o melhor dos tempos. Volto de uma viagem, ela me abraça ainda mais carinhosamente e diz que teremos um filho. Choro. Ah meu pai, por que o senhor não está aqui para brincar com o seu neto? Ah meu Deus, me dê forças para criar essa criança. Meu filho nasceu. Bonito como a mãe. Só descobri isso uma semana depois que ele chegou em casa. Estava atolado em uma dessas estradas esquecidas pelo governo. Agora preciso rodar mais. Mais estradas, mais entregas, mais buracos e meu filho está crescendo. Parece que cada vez que chego em casa ele está maior, mais esperto, mais bonito. Sempre trago um presente, mas não sei por quê, o moleque só quer ficar dentro do caminhão. Mas eu cobro os estudos. Tem que estudar. Quero que ele seja doutor, engenheiro, qualquer coisa, menos caminhoneiro. E o garoto é inteligente, vai passando ano a ano. O material escolar é caro, o frete é baixo. Para bancar as despesas com o estudo, tenho que me desdobrar, rodar muito, sem parar. Tudo pelo meu filho. E o tempo passa. Agora, ele não quer mais brincar no caminhão, quer dirigir. eu o levo para um campo de futebol abandonado e lá, com total segurança, deixo que ele aprenda o que é dirigir um caminhão. E ele leva jeito. Mas meu sacrifício é para formá-lo um doutor, engenheiro ou advogado. O tempo passou e ele se formou no colégio, agora vem a tão sonhada faculdade. Ele se esforça, estuda, trabalha, chega tarde em casa depois do cursinho e acorda cedo. É um bom menino, minha mulher soube educá-lo muito bem. eu tive pouco tempo com ele. Mas quando estamos juntos, todos os buracos, as valetas, os pedágios e perigos da estrada não significam nada. Ele é meu tesouro. Estou com saudades dele. Estou na estrada há dez dias. Ele fazendo cursinho pra entrar na faculdade. Estou chegando. meu bairro, minha rua, minha casa. Minha mulher me abraça, me beija longamente, como querendo recuperar o tempo perdido. isso é o paraíso na terra. Meu filho "tosse" para não ser indiscreto, me dá um abraço forte. Nossa, ele já é um homem e eu nem percebi. Olho pra ele que me abre um sorriso maroto, de alguém que está aprontando. Ele estende a mão, me mostra um papel e diz: Olha pai, tirei minha carteira de motorista categoria E. Não quero ser médico, advogado ou engenheiro. Quero ser caminhoneiro. Como o senhor. Posso?
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 00:13:15 +0000

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