VEJAM COMO FIDEL DESVENDOU, EM MAIO DE 2008, O ENIGMA OBAMA: A - TopicsExpress



          

VEJAM COMO FIDEL DESVENDOU, EM MAIO DE 2008, O ENIGMA OBAMA: A POLÍTICA CÍNICA DO IMPÉRIO Fidel Castro Não seria honesto de minha parte guardar silêncio depois do discurso de Obama na tarde de 23 de maio ante a Fundação Cubano-Americana, criada por Ronald Reagan. Escutei-o, como fiz com relação a McCain e Bush. Não guardo rancor para com a sua pessoa, porque não foi responsável pelos crimes cometidos contra Cuba e a humanidade. Se o defendesse, faria um enorme favor aos seus adversários. Não temo por isso criticá-lo e expressar com franqueza meus pontos de vista sobre suas palavras. O que afirmou? "Através de minha vida houve injustiça e repressão em Cuba, e nunca durante minha vida o povo conheceu a verdadeira liberdade, nunca na vida de duas gerações conheceu o povo de Cuba uma democracia... não vimos eleições durante 50 anos... Nós não vamos suportar estas injustiças, juntos vamos procurar a liberdade para Cuba." Assim se manifestou perante os anexionistas e continua: "Esta é a minha palavra. Este é o meu compromisso. É chegada a hora em que o dinheiro americano faça com que o povo cubano seja menos dependente do regime de Castro. Vou manter o embargo." O conteúdo das palavras deste forte candidato à Presidência dos Estados Unidos exonera-me da necessidade de explicar o porquê desta reflexão. O próprio José Hernández, um dos diretores da Fundação Cubano-Americana que Obama elogia em seu discurso, era o proprietário do fuzil automático calibre 50, mira telescópica e raios infravermelhos capturado por acaso junto a outras mortíferas armas, durante seu transporte por mar para a Venezuela, onde a Fundação projetou assassinar a este que escreve numa reunião internacional que teve lugar em Margarita, estado venezuelano de Nova Esparta. O grupo do Pepe Hernández desejava voltar ao pacto com Clinton, a quem o clã de Mas Canosa traiu, oferecendo mediante fraude a vitória a Bush no ano 2000 porque tinha prometido assassinar Castro, algo que todos aceitaram com muito prazer. São jogadas políticas próprias do sistema decadente e contraditório dos Estados Unidos. O discurso do candidato Obama pode se traduzir numa fórmula de fome para a nação, remessas como esmolas, e visitas a Cuba em propaganda para o consumismo e o modo de vida insustentável que o mantém. Como vai enfrentar o grave problema da crise alimentar? Os grãos têm que ser distribuídos entre os seres humanos, animais domésticos e peixes, que de ano em ano são cada vez menores e mais escassos nos mares demasiadamente explorados pelos grandes arrastos que nenhum organismo internacional foi capaz de frear. Não é fácil produzir carne a partir do gás e do petróleo. O próprio Obama superestima as possibilidades da tecnologia na luta contra a mudança climática, embora esteja mais consciente que Bush dos riscos e do escasso tempo disponível. Poderia assessorar-se com Gore, que é também democrata e deixou de ser candidato, porque conhece bem o ritmo acelerado como se incrementa o aquecimento. Seu próximo rival político embora não aspirante, Bill Clinton, perito em leis extraterritoriais como a Helms-Burton e a Torricelli, pode assessorá-lo num tema como o bloqueio, que prometeu erradicar e nunca cumpriu. Como se expressou em seu discurso de Miami o que sem dúvida é, do ponto de vista social e humano, o mais avançado candidato à postulação presidencial nos Estados Unidos? "Durante 200 anos" —disse— "os Estados Unidos deixou claro que não vamos suportar a intervenção em nosso hemisfério, entretanto devemos ver que há uma intervenção importante, a fome, a enfermidade, o desespero. Do Haiti até o Peru podemos fazer algo melhor e devemos fazê-lo, não podemos aceitar a globalização dos estômagos vazios." Magnífica definição da globalização imperialista: a dos estômagos vazios! Devemos agradecer-lhe, mas há 200 anos Bolívar lutou pela unidade da América Latina e há mais de 100 anos Martí deu sua vida combatendo contra a anexação de Cuba aos Estados Unidos. Onde estão as diferenças entre o que proclamou Monroe e o que dois séculos depois proclama e reivindica Obama em seu discurso? "Teremos um enviado especial da Casa Branca, como o fez Bill Clinton" - expressou quase ao concluir - "... vamos ampliar o Corpo de Paz e vamos pedir mais jovens que façam com que nossos vínculos com as pessoas se façam mais fortes e possivelmente mais importantes. Podemos forjar o futuro, e não deixar que o futuro nos forje." É uma bela frase, porque admite a idéia, ou pelo menos o temor, de que a história faz os personagens e não o inverso. Os Estados Unidos de hoje não têm nada que ver com a declaração de princípios de Filadélfia formulada pelas 13 colônias que se rebelaram contra o colonialismo inglês. Hoje constituem um gigantesco império, que não passava naquele momento pela mente de seus fundadores. Nada mudou, entretanto, para os índios e os escravos. Os primeiros foram exterminados na medida em que a nação se estendia; os segundos continuaram sendo objeto de leilões nos mercados — homens, mulheres e crianças — durante quase um século, apesar de que "todos os homens nascem livres e iguais", como afirma a declaração. As condições objetivas no planeta favoreceram o desenvolvimento desse sistema. Obama em seu discurso atribui à Revolução Cubana um caráter antidemocrático e carente de respeito à liberdade e aos direitos humanos. É exatamente o argumento que, quase sem exceção, utilizaram as administrações dos Estados Unidos para justificar seus crimes contra nossa pátria. O bloqueio mesmo, por si só, é genocida. Não desejo que as crianças norte-americanas se eduquem nessa sufocante ética. A revolução armada em nosso país não teria sido talvez necessária sem a intervenção militar, a Emenda Platt e o colonialismo econômico que esta trouxe para a Ilha. A Revolução foi produto do domínio imperial. Não nos pode acusar de havê-la imposto. As mudanças verdadeiras puderam e deveram originar-se nos Estados Unidos. Seus próprios operários, há mais de um século, lançaram a demanda das oito horas, filha da produtividade do trabalho. O primeiro que os líderes da Revolução Cubana aprenderam de Martí foi acreditar e atuar em nome de uma organização fundada para levar a cabo uma revolução. Sempre dispusemos de faculdades prévias e, uma vez institucionalizada, fomos escolhidos com a participação de mais de 90 por cento dos eleitores, como é costume em Cuba, e não a ridícula participação que, muitas vezes, como nos Estados Unidos, não chega a 50 por cento dos eleitores. Nenhum outro país pequeno e bloqueado como o nosso teria sido capaz de resistir tanto tempo, na base de ambição, vaidade, engano ou abusos de autoridade, um poder como o de seu vizinho. Afirmá-lo constitui um insulto à inteligência de nosso heróico povo. Não questiono a aguda inteligência de Obama, sua capacidade polêmica e seu espírito de trabalho. Domina as técnicas de comunicação e está por cima de seus rivais na competência eleitoral. Observo com simpatia a sua esposa e suas crianças, que o acompanham e animam todas as terças-feiras; é sem dúvida um quadro humano agradável. Não obstante, vejo-me obrigado a formular várias delicadas perguntas, embora não pretenda respostas, unicamente as apresento. 1. É correto que o Presidente dos Estados Unidos ordene o assassinato de qualquer pessoa no mundo, seja qual for o pretexto? 2. É ético que o Presidente dos Estados Unidos ordene torturar a outros seres humanos? 3. É o terrorismo de Estado um instrumento que deve utilizar um país tão poderoso como os Estados Unidos para que exista a paz no planeta? 4. É boa e honorável uma Lei de Ajuste que se aplica como castigo a um só país, Cuba, para desestabilizá-lo, embora custe a vida de crianças e mães inocentes? Se for boa, por que não se aplica o direito automático de residência aos haitianos, dominicanos e demais países do Caribe, e não se faz o mesmo com os mexicanos, centro-americanos e sul-americanos, que morrem como moscas no muro da fronteira mexicana ou em águas do Atlântico e do Pacífico? 5. Pode os Estados Unidos prescindir dos imigrantes, que cultivam vegetais, frutas, amêndoas e outras delicadezas para os norte-americanos? Quem varreria suas ruas, prestaria serviços domésticos e realizariam os piores e menos remunerados trabalhos? 6. São justos os arrastões de imigrantes ilegais que incluem até mesmo crianças nascidas nos Estados Unidos? 7. É moralmente justificável o roubo de cérebros e a contínua extração das melhores inteligências científicas e intelectuais dos países pobres? 8. 8º Você afirma, como recordei no início desta reflexão, que seu país advertiu há tempo às potências européias que não admitiria intervenções no hemisfério e, ao mesmo tempo, reitera a demanda do direito de intervir em qualquer parte do mundo com o apoio de centenas de bases militares, forças navais, aéreas e espaciais distribuídas no planeta. Pergunto-lhe: é essa a forma como os Estados Unidos expressa seu respeito pela liberdade, a democracia e os direitos humanos? 9. É justo atacar de surpresa e preventivamente sessenta, ou mais, obscuros “rincões do mundo”, como chama Bush, seja qual for o pretexto? 10. É honrado e cordato investir bilhões de dólares no complexo militar industrial para produzir armas que podem liquidar várias vezes a vida na Terra? Você deveria conhecer, antes de julgar o nosso país, que Cuba, com seus programas de educação, saúde, esporte, cultura e ciências, aplicados não só em seu próprio território, mas também em outros países pobres do mundo, e o sangue derramado em solidariedade com outros povos, apesar do bloqueio econômico e financeiro e as agressões de seu poderoso país, constitui uma prova de que pode fazer-se muito com muito pouco. Sequer permitimos à nossa melhor aliada, a então URSS, permitimos que traçasse o nosso destino. Para cooperar com outros países, os Estados Unidos só pode enviar profissionais vinculados à disciplina militar. Não pode fazer de outra forma, porque carece de pessoal em número suficiente disposto a sacrificar-se por outros e oferecer apoio significativo a um país com dificuldades, embora, em Cuba, cooperarem conosco excelentes médicos norte-americanos. Eles não têm a culpa porque a sociedade não os educa maciçamente nesse espírito. A cooperação do nosso país nunca está subordinada a requisitos ideológicos. Oferecemos a nossa cooperação aos Estados Unidos, quando o furacão Katrina golpeou duramente a cidade de Nova Orleans. Nossa brigada médica internacionalista leva o nome glorioso de Henry Reeve, um jovem nascido nos Estados Unidos, que lutou e morreu pela soberania de Cuba na primeira guerra por nossa independência. Nossa Revolução pode convocar dezenas de milhares de médicos e técnicos da saúde. Pode convocar de forma igualmente maciça professores e cidadãos dispostos a partir a qualquer “rincão do mundo”, para qualquer nobre propósito. Não para usurpar direitos nem conquistar matérias-primas. Na boa vontade e disposição das pessoas há infinitos recursos que não se guardam nem cabem nas abóbadas de um banco. Não emanam da política cínica de um império. 25 de maio de 2008
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 12:36:08 +0000

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