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VIII Congresso de Teologia – Nova Evangelização: problemas de fronteira Carisma da nova evangelização: simplicidade e autenticidade palestra proferida no Centro Universitário São Camilo dia 23.set.2013 pelo Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior, PUC-SP, Unisal e Claretianos. A arte do barquinho de papel me questionou profundamente. Aguçou-me sentir sua fragilidade e quase naufrágio. Acreditei na força do amor e soprei para que fosse instrumento de Deus. Quiçá sabendo que o impulso vital é sempre aquela força que vem do Alto. Assim na imagem evangélica da barca eclesial e de sua fragilidade no meio das tempestades. Isto remete a Blaise Pascal e ao paradoxo do viver humano: “A grandeza humana é grande quando ele se reconhece como miserável e pequeno. Uma planta não se sabe miserável. É ser miserável reconhecer-se miserável. Mas, é ser grande quando nos reconhecemos miseráveis. O homem não é mais que um frágil caniço, o mais frágil da natureza; mais é um caniço pensante. Não é preciso que todo o universo se arme para esmaga-lo: basta um vapor, uma única gota de agua é suficiente para mata-lo. Mas quando o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que aquilo que o aniquilasse, pois ele sabe que morre, e tem a vantagem sobre o universo que nada sabe. Toda a nossa dignidade consiste, portanto no pensamento. Caniço pensante. Pelo espaço o universo me envolve e engole como um pontinho; pelo pensamento, eu o compreendo (Blaise Pascal, Pensées (1670), fragments 347 et 348 dans l’édition L. Brunschvicg)”. Inspirado nestas imagens heurísticas, assumo o tema proposto: “Carisma da nova evangelização” como uma inspiração do Espírito do Ressuscitado a convocar para o anúncio da boa nova. Em chave simples e autêntica. Como um modo de fazer e de viver o seguimento de Jesus. Como um estilo de vida franciscanamente assumida. Tal qual tarefa teológica essencial, sem arrogância tal qual pedia já em 1957, o maître Marie-Dominique Chenu, frade dominicano, no seu clássico texto La theologie est-elle une Science?: “a simplicidade do Evangelho é o sinal mesmo de sua divina transcendência”. A palavra de Deus precisa tocar as fibras da inteligência exigindo um diálogo racional e humilde, uma fé em busca de inteligibilidade: fides quaerens intellectum. Com uma inteligência amorosa e humilde. Que dizer da simplicidade ou da humildade? Certamente que é uma virtude fundamental. Que é a revelação do mais profundo em Deus na sua comunhão de pessoas expressa no amor. “Sede simples como as pombas”, pede Jesus, na ótica da comunidade de Mateus cap. 10,16, quando do envio querigmático em meio das perseguições, pois também diz Jesus que iremos “como ovelhas para o meio dos lobos; e portanto devemos ser astutos como as serpentes e simples como as pombas”. Paradoxo exigente! Devemos ser como o mestre e padecer como ele, de forma coerente e serena. E nunca esquecer que as pombas são usadas para o sacrifício. Simples, é sim–plex. Sim, do universo vocabular latino, (presente em singulus, sincerrus) remete ao que é único, espontâneo, não complicado, singelo, básico, o mínimo do mínimo; sem ornamentos, luxos, acessórios, adjetivações, mas algo substantivo e radical. E plex, que é aquilo que se dobra. Portanto, simples, que só pode ser dobrado uma vez. Enfim, simples é o que podemos compreender por identificação imediata. É sintonia, comunhão imediata, é conexão com o que é de Deus e da vida. Pois Deus é fiel e dá sabedoria aos simples (Sl 19,7 e Pv 11,2), vela pelos simples (Sl 116,6), já que a simplicidade conduz à prudência e vive da misericórdia de Deus. Deus salva o humilde (Jó 22,29), e reúne o resto de Israel, todos os humildes da terra (Sl 76,9; Sf 3,12). São os felizes e bem aventurados (Mt 5,3). Aprendem do coração manso e humilde de Jesus (Mt 11,29), e sabem que Deus escolheu as coisas humildes e as pessoas simples para revelar sua própria vida e segredos (1Co 1,28). A genuína humildade revela a grandeza de Deus e de seu Evangelho. Uma vez perguntaram para Agostinho de Hipona, o doutor da graça, qual seria o primeiro artigo da fé cristã? E ele respondeu: Humildade! E o interlocutor novamente lhe redarguiu: E o segundo artigo? E Agostinho responde: humildade! E o terceiro? E a resposta agostiniana: humildade! Quem vive na humildade, sabe adequar seus passos aos daquele que acompanha, conduz ou espera crescer. Tal qual Deus faz conosco. Dom Helder Pessoa Camara, nosso arcebispo profeta de Recife, afirmou que sem “uma verdadeira humildade, nós não podemos avançar sequer um único passo na vida espiritual”. Que dizer da autenticidade? Do idioma grego, conhecemos authentikós, é, ón, “que consiste num poder absoluto, principal, primordial”, derivado de authentes, ou seja, senhor absoluto. Autentico é tudo que tem origem garantida, testificada, comprovada, fidedigno. Tudo que se opõe ao inautêntico, ao falso, ao mentiroso, ao superficial, àquilo que não é principal e fundamento da nossa existência e razão de ser. Autêntico é o que nos conduz à verdade, ao belo e ao amor. Quem se renega, não chega à verdade. Quem despreza a humildade e aos humildes não conhece a verdade. Em chave cristã, mais que palavras ou conceitos, simples e autentico é como proclamamos a o mistério do Deus encarnado. E como Deus nos envia profetas, testemunhas e homens e mulheres semente a nos questionar e iluminar. Diante de Deus, calamos reverencialmente e assim o silêncio se nutrirá da Palavra de Deus. Quem é autêntico é aquele que tem raízes em Deus. Vive nele e por ele. Somos adama e também tzelem elohim. Argila, moldada como uma silhueta divina. O amor autêntico é vulnerável e desbordante. François Varillon nos inquieta ao dizer: “Quando a infância e a agonia coincidem, nós nos reconhecemos e conhecemos Deus”. Este é o sentido da kenosis no hino de Filipenses. Aí reside o desafio da autenticidade. Ela se transforma em entrega gratuita ao Deus que ama e se dá. Deus dá Deus. (François Varillon, L´humilité de Dieu, Paris: Ed. Du Centurion, 1974). As testemunhas da simplicidade autêntica Francisco de Assis (1182-1226), estando na pequenina igreja da Porciúncula, ouviu como leigo, alguns trechos que relatam a missão que Cristo confiou aos apóstolos. Irá pedir ao sacerdote que explique o que mal compreendera. E eis que isto coincidirá com sua iluminação, que eclodirá depois de lento e subterrâneo período preparatório. No relato de Tomás de Celano ouvimos: “Francisco, ao ouvir que os discípulos ‘não devem possuir ouro nem dinheiro, não carregar farnel nem pão, nem cajado para o caminho, nem ter calçados, nem duas túnicas, mas apenas pregar o Reino de Deus e a penitencia’, exultante do Espírito Santo, prontamente exclamou: ‘É isso que quero, é isso que peço, é isso que anseio fazer de todo o coração!”. Alegre, Francisco depõe suas vestes e assume um rústico hábito com capuz, e a corda com nós na cintura, para assumir a decisão categórica de tomar o caminho da pregação itinerante. Francisco, como São Domingos de Gusmão, realiza uma revolução evangélica nos séculos 13. A chave é a simplicidade que se faz peregrina e livre. No século em que nasce a teologia acadêmica, renasce a pregação evangélica. Sinais de Deus como que a nos dizer que não podemos segregar a teologia do mundo dos pobres e pequeninos. Assim reflete o teólogo eminente, Joseph Alois Ratzinger relata que terminado o concílio de Calcedônia, o papa Leão, fará uma pesquisa entre os bispos sobre os resultados da assembleia e um dos bispos que lhe respondeu diz que “aos bispos, compete responder piscatorie, non aristotelice, como pescadores e não como filósofos”. E Ratzinger conclui: “não lhes importava aos bispos as cada vez mais sutis questões dos letrados, mas a simples realidade que desaparecia por trás delas: as perguntas primordiais dos homens simples. Enquanto que o panorama da reflexão muda constantemente, as perguntas tem algo que as faz perdurar, pois as referencias básicas do humano, seu centro, segue sendo o mesmo. Quanto mais as perguntas se aproximam disto, quanto mais se situem no centro do ser mesmo do humano e quanto mais singelas forem, tanto menos caducas elas resultarão. Piscatorie, non aristotelice” (El Dios de JesuCristo, Salamanca: Sigueme, 1979, p. 81). Charles de Foucault (1858-1916), o explorador místico no deserto do Sahara, é um homem apaixonado por Deus e que realizou uma peregrinação mística deste testemunha de Deus, simples e autentico. Charles é alguém que viveu a atualidade do Sermão da Montanha e nos abriu o coração para penetrar nos segredos do mundo em sua contemplação vivida no meio dos tuaregues do deserto. Paradoxo tremendo. Morte brutal, testemunho radical. O irmãozinho Carlos foi antes de tudo, “um homem de Deus” e por consequência, se fez “o pequenino irmãozinho universal”. O irmão Carlos de Foucault nos recorda a necessidade do esquecimento de si, de superar o auto-referenciamento e o hiper-individualismo patológico que gera religiões de consumo e cristãos de alfandega ou padres de aeroporto. Só pela pobreza assumida, pela humildade vivida, pelo assumir a vida das pessoas com quem convivemos é que poderemos chegar àquela capacidade universal de amor e entrega. A coragem heróica de uma vida orante e a docilidade na ação, nos faz ser cristãos e igrejas autenticamente cristãs. Esta é a revolução fundamental: Ecclesia semper renovanda. É dele o aforismo: “a fragilidade dos meios humanos é a causa de nossa força. Jesus é o mestre do impossível”. Como não lembrar a Prece do Abandono, tão atual e necessária para nossa Igreja?: “Meu Pai, a vós me abandono: fazei de mim o que quiserdes! O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa vontade se faça em mim e em todas as vossas criaturas. Não quero outra coisa, meu Deus. Entrego minha vida em vossas mãos, eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque eu Vos amo. E porque é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida, com infinita confiança porque sois meu Pai”. Thérèse de Lisieux (1873-1897) é a menina-moça (Maria Francisca Teresa Martin), que irá percorrer uma pequenina via que conduz ao Bom Deus. A pequenina Teresinha tornar-se-á em seu viver e em seu padecimento doloroso, uma mensagem universal para a humanidade. Fez-se criança para compreender as misericórdias do Senhor. A menina que nasce no chão da Normandia, na França, diz na História de uma alma que: “o amor de Nosso Senhor se revela tão bem na mais simples das almas que em nada resiste à sua graça, como na mais sublime das almas. Condescendendo desta maneira o Bom Deus mostra sua infinita grandeza (6)”. E quase ao final do manuscrito proclama: “Almas simples não necessitam meios complicados. Basta simples palavra: atraí-me! É uma consequência natural de sua atração para vós. Há muito que me permitistes ser audaciosa convosco (334)”. E diz: “Não é para o primeiro lugar, é para o último que me dirijo (339)”. Suave e serenamente nos segrega como podemos percorrer a pequena via, e viver a infância espiritual. Permitam-me a leitura do poético e metafórico texto: “Como o sabeis, sempre desejei ser santa. Mas, que tristeza! Quando me confronto com os santos, sempre verifiquei que entre eles e mim medeia a mesma diferença que há entre a montanha cujo píncaro desaparece nos céus, e o obscuro grão de areia, espezinhado pelos transeuntes. Em vez de desanimar, assentei comigo: O Bom Deus não seria capaz de inspirar-me desejos irrealizáveis. Posso, por conseguinte, aspirar à santidade, não obstante minha pequenez. Ficar maior, não me é possível. Devo, pois, suportar-me tal qual sou, com todas as minhas imperfeições. Mas, procurarei um meio de ir para o céu por uma trilha bem reta, bem curta, uma trilha inteiramente nova. Vivemos num século de invenções. Agora, já não se tem a fadiga de subir os degraus de uma escada. Em casa de gente rica, um elevador a substitui com vantagem. Por mim, gostaria de encontrar um elevador para me erguer até Jesus, porque sou pequenina demais para subir a dura escada da perfeição. Busquei nas Escrituras e li estas palavras, emanadas da boca da Eterna Sabedoria: Se alguém é pequenino, venha a mim (Pv 9,4). ... O elevador que me conduzirá até o Céu, são os vosso braços, ó Jesus! Por isso, não preciso ficar grande. Devo, pelo contrário, conservar-me pequenina, ficar cada vez mais diminuta” (271 e 272 in: Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, História de uma alma: manuscritos autobiográficos, São Paulo: Paulus, 1979). Lições a aprender As testemunhas do amor de Deus nos permitem aprender que o caminho carismático da nova evangelização pede que sejamos humanos e plenamente humanos para que a cruz de Cristo não seja vã. Assim diz Thomas Merton: “Jesus não morreu para os anjos, mas para os homens”. Deus deseja o amor do coração humano, com seus pecados e fragilidades, seus temores e seus sonhos, suas alegrias e suas esperanças, para provar a doçura do amor paternal e misericordioso do Pai de Jesus. Este será o nosso amor mais forte: um amor mendigo. Sem vaidade nem autocomplacência. Serenos e íntegros, sendo nós mesmos sem máscaras. Desnudos e plenos. A cruz será a grande inspiração e desafio no horizonte da vida. Os mártires e todos os que morreram assassinados mostram Deus e demonstram sua fé. Celebramos a memória e fazemos na Eucaristia o seu ofertório permanente. A igreja é algo essencial. Os mártires são a sementeira desta experiência de comunhão. De seu sangue derramado temos a primavera da Igreja. Seu testemunho bebe da vida em Cristo e precede o anuncio pela entrega. Os mártires proclamam o querigma pascal e vivem a catequese de forma vital. Homens e mulheres santos e plenamente autênticos enobrecem a pregação e o vigor das Igrejas latino-americanas. Citemos Ignácio Ellacurria e seus companheiros, Antonio Henrique Pereira Neto, Ezequiel Ramin, Josimo Moraes Tavares, Gabriel Félix Roger Maire, Dorothy Mae Stang, Oscar Arnulfo Romero, Adelaide Molinari, Creusa Nascimento, Vicente Cañas, Enrique Angelelli, Santo Dias da Silva, entre tantos bem-aventurados e sementes do Reino. Sem olvidar dos profetas/isas e santos/as como Antonio Valdivieso, Martin Luther King Jr, Jaime Nelson Wright, Rosa de Lima, Alberto Hurtado, José Antonio de Maria Ibiapina, Pedro Cláver, José de Anchieta, Madre Paulina, Laura Vicuña, Roque Gonzalez, Martin de Porres, Toribio de Mongrovejo, Juan Diego, Marianita de Jesus, Maria de San José. Almas puras e de coração aquecido pela misericórdia de Deus em favor dos empobrecidos. São os precursores de nossa teologia libertadora no seguimento fiel de Jesus. Homens e mulheres vivendo problemas de fronteira e evangelizando autenticamente. Pessoas simples que aprenderam a oração ensinada pelo Espírito Santo aos pobres e que deles fizeram seus mestres de oração. Cristãos plenos porque não quiseram triunfar e reinar, mas servir. Cristianismo vitorioso é um cristianismo derrotado. Assim afirmava o Documento do magistério latino-americano aprovado na Conferência de Medellin, 13,9: “Desejamos que nossa habitação e estilo de vida sejam modestos; nossa indumentária, simples; nossas obras e instituições funcionais, sem aparato nem ostentação. Pedimos aos sacerdotes e fiéis que nos dêem um tratamento que convenha à nossa missão de padres e pastores, pois desejamos renunciar a títulos honoríficos próprios de outras épocas. Com o auxílio de todo o povo de Deus, esperamos superar o sistema de espórtulas, substituindo-o por outras formas de cooperação econômica, desligadas da administração dos sacramentos”. E assumem um compromisso pastoral: “Queremos, como bispos, nos aproximar cada vez com maior simplicidade e sincera fraternidade, dos pobres, tornando possível e acolhedor o seu acesso até nós (14,8)”. São muitas as opções, mas os exemplos dos mártires são paradigmáticos. Quem entrega sua vida pela justiça, no amor e na verdade é sempre um sinal de contradição e da autenticidade do Evangelho. A oração mariana do Magnificat permanecerá sempre como paradigma da prece simples e sincera. A humilde mulher e Virgem de Nazaré, Maria, a Mãe de Deus, a Imaculada é o protótipo da nova evangelização. Seu carisma é o de ser fiel. Assim recolhemos da comunidade lucana (Lc 1,46-55), a ode à simplicidade: “Magnificat anima mea”. De dois ventres femininos saltam meninos profetas, da boca das primas emerge exultante a voz de mulheres agraciadas. Canta Isabel, responde Maria. Isabel grita o milagre em sua carne e Maria teologiza a história no mistério encarnado em seu ventre. Isabel afirma que é bendita aquela que acreditou. Maria proclama a humildade como serva, e se assume como bem-aventurada. Humildes exaltados, orgulhosos dispersados. Famintos saciados, ricos de mãos vazias. Socorro permanente, promessa cumprida. Paradoxo cristão: o Todo-poderoso faz maravilhas naquele que é ultimo e frágil. Visibiliza o invisível. Anima o desesperado. Como diz Henri de Lubac: “o Evangelho está pleno de paradoxos, pois o homem é um paradoxo vivo e de acordo com os padres da Igreja, a encarnação é o paradoxo supremo: paradoxos paradoxon, pois assim como o ato de fé é o mais livre de todos os atos, assim também a expressão da fé é a mais pessoal de todas as expressões”. Maria nos ensina a ser simples pela fidelidade sincera. Sinceridade é fidelidade. Não é posse da verdade, mas docilidade ao Espírito de Deus. Ainda Henri de Lubac: “Quanto mais espessa é a ignorância mais se crê em posse da verdade (Henri de Lubac, Paradoxes suivi de nouveaux paradoxes, Paris: Seuil, 1959)”. Cada ato de amor sincero faz o Evangelho triunfar. “Se tivermos razão sem oração, se tivermos razão sem amor, se tivermos razão sem o Evangelho, então este “ter razão” não só é estéril como carrega em si mesmo os germes da morte. É preciso ser indulgentes com os humanos! Sem indulgência se cai na injustiça”. Cristão na pede felicidade. Pede que seja feita a vontade de Deus. Cristão não espera felicidade. Espera novos céus e nova terra. Cristão não deseja felicidade. Ele tem fome e sede de justiça. Cristão não espera felicidade. Espera ver a Glória de Deus. Assim dizia Maurice Blondel: “Conservar sempre ao entardecer, o frescor de cada amanhecer”. Não por acaso chamamos Maria de Estrela da manhã ou estrela da Evangelização. Assim cantam os alemães em suas peregrinações marianas: “Stella matutina, Ave Maria! Laus tibi et vita, Nostra Domina!” A Evangelização nos primórdios de nossa América foi marcada pelo encontro do índio Juan Diegotzin com Nossa Senhora de Guadalupe, que o escolherá como seu embaixador e “caçulinha”. Diz a Virgem no conto nahuatl mexicano: “Escuta! meu filho caçula, você deve entender que eu tenho vários servos e mensageiros, aos quais Eu posso encarregar de levar a mensagem e executarem o meu desejo, mas eu quero que você mesmo o faça. Eu fervorosamente imploro, meu caçula, e com severidade Eu ordeno que volte novamente amanhã ao Bispo. Você vai em meu Nome e faça saber meu desejo: que ele inicie a construção do templo como Eu pedi. E novamente diga que Eu, pessoalmente, a Sempre Virgem Maria, Mãe de Deus Vivo, lhe ordenei.” A evangelização nasce do desejo e da escolha do homem simples, do indígena, do desprezado. O evangelho surge por um outro caminho, do reverso da história. Podemos traçar um paralelo deste encontro com o belo título honorário atribuído a Maria Santissima por santa Hildegarda de Bingen falando dos pobres curados pela farmácia e ervas que ela produz e administra em Rupertsberg: “O claríssima Mater Sanctae medicinae – ó claríssima Mãe da Santa Medicina”. É Deus quem salva e cura. Maria é a mãe do Salvador e a escola da simplicidade como mestra que se faz discípula. Na força e na debilidade das mulheres e dos pequenos. Assim ouvimos a melodia de Renato Teixeira, Romaria, na voz da nossa Elis: youtube/watch?v=KwkjS_OXbX8 A guisa de conclusão poética e musical me veio à mente a melodia do grupo mineiro Pato Fu, Simplicidade: “Vai diminuindo a cidade vai aumentando a simpatia. Quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia. Café tá quente no fogo. Barriga não tá vazia. Quanto mais simplicidade, melhor o nascer do dia”. Ouçam: youtube/watch?v=I_4JVwE-x3s E ainda a música teológico-sertaneja de Victor e Léo: Deus e eu no sertão. Vejam: youtube/watch?v=HYcKbgl6-fo E enfim, o singelo encontro entre um cão labrador e um menino com síndrome de Down. Emocionante, cálido e evangélico. Vejam no link do youtube: youtube/watch?v=sIcTvjAchNs Este é o carisma da nova evangelização: crer que Jesus é nossa luz e nossa salvação! É este o modo de viver do apóstolo Paulo: “Nada de palavras grosseiras, estúpidas ou obscenas: é inconveniente, entregai-vos antes à ação de graças. Outrora, éreis trevas: agora, sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz se chama: bondade, justiça, verdade. Sede verdadeiramente atentos a vosso modo de viver: não vos mostreis insensatos, sede, antes, homens sensatos, que põem a render o tempo presente, pois os dias são maus (Ef 5, 4.8.15)”. Fazer render o presente mudando a vida. O Papa Francisco fez um apelo aos bispos: "Sejam Pastores com o cheiro das ovelhas, presentes no meio do seu povo como Jesus, o Bom Pastor. A presença de vocês não é secundária, é indispensável. É o próprio povo quem pede, quer ver o seu Bispo caminhar com ele, estar do lado dele. Têm necessidade para viver e respirar! Não se fechem!" E o pedido de imersão feito aos novos bispos, certamente poderia ser assumido solidariamente por seminaristas, irmãs, leigos, leigas e professores de teologia: "Desçam no meio dos seus fiéis, inclusive nas periferias das suas dioceses e em todas as ‘periferias existenciais’, onde há sofrimento, solidão, degradação humana. A presença pastoral significa caminhar com o povo de Deus: à sua frente, assinalando o caminho; no seu meio, para fortalecer na unidade; atrás dele, para que ninguém fique atrás, mas, sobretudo, para seguir o olfato que tem o povo de Deus para encontrar novos caminhos" (Papa Francisco, Vaticano 19.9.2013). Ontem na Catedral de Cagliari, na ilha da Sardenha, na presença de 120 pobres e 37 presos, o Papa Francisco viu sua fadiga e a esperança em seus rostos. “Todos nós temos misérias e fragilidades. Ninguém é melhor do que outro. Todos somos iguais diante de Deus. E olhando Jesus, vemos que ele escolheu o caminho da humildade e do serviço.” (Rádio Vaticano, 22.9.2013). Simples assim e autenticamente alegres. Afinal, o carreirismo é uma patologia grave. Estejamos vacinados e disponíveis para ver as fadigas e as esperanças dos rostos dos pobres.
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 21:55:46 +0000

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