faltam 7 minutos pras seis horas da manhã, já é quarta feira e eu acabo de chegar em casa com a cabeça e o coração inundados de um sentimento de clareza e esperança no rumo das coisas que vivemos hoje no brasil. o medo, a incerteza e até o pessimismo analítico são sempre necessários e bem vindos à construção, garantias de um estado de alerta e vigília. mas sim, também, esperança! convicção! na ação, no desembolamento. pois não é tão difícil assim ver uma luminosidade branda pairando por sobre o intenso tráfego que hoje toma nossa cidade, nosso agora, nosso campo simbólico, complexo e afetivo, trans-geracional, toma as ruas, é energia, força, explosão. e a despeito da escuridão formalmente instituída pelos órgãos de governo, o debate político se amplia a cada dia, há um ganho consciencial gigantesco. a construção é lenta mas me parece cada vez mais sólida. há uma nova cidadania em processo de formação. na ocupação da câmara municipal em belo horizonte, o dia foi longo. reuniões e ações em variadas frentes, uma fina geléia geral a se instaurar no ambiente, extremamente ativo e criativo, entre assembléias, barracas e improvisações musicais. mensagens diversas emitidas em códigos diversos. nessa casa que (agora sim) se tornou a casa do povo, o debate é interminável, os processos se retroalimentam criticamente, a noosfera vibra, ressoa. e apesar do tragicômico recesso dos parlamentares locais, o ineditismo dessa experiência de ocupação, autogestão e democracia direta segue mobilizando um contingente incansável de militantes, trabalhando intensamente. continuamos sim muito ocupados, fomentando um debate político fundamental, produzindo conhecimento, alimentando a tensão elétrica da zona autônoma. são seis horas da manhã e o que nos mantém ainda acordados e pensantes é a consciência de que uma nova forma de se fazer política germina por entre nossos dedos, diante dos nossos olhos, no gestual não-programático de atores diversos, conectados numa mesma rede. são seis da manhã e o debate não nos larga, hoje somos todos cidadãos obsessivamente políticos. e quer se atribua ao processo sócio-histórico, ou à era de aquário, ou ao percurso cármico da nossa civilização, ou a todos os fatores juntos, há quem diga que o momento político brasileiro hoje caminha na dianteira dos grandes países do sul, e eu acredito sinceramente nessa vocação. na força de um espírito de juventude planetária, que por aqui resolveu se manifestar, e parece ganhar força para realizar sua trajetória a cada episódio vivido. um imenso assalto criativo alimenta a economia conceitual e política das manifestações e ocupações. a construção é copyleft e opensource. movimento contínuo, não retilíneo e não uniforme. incompreensível para a velha compreensão. sabemos todavia que não é hora de comemorações ingênuas, nem há que se esquecer o horizonte turvo das tantas tretas recentes. a recusa do poder público em travar um diálogo continuado & de responsa com os movimentos, a intensa repressão policial às manifestações, a inescrupulosidade com que continua sendo feita a cobertura midiática dos grandes veículos, tudo continua merecendo nosso mais profundo e sistemático repúdio. mas a experiência que gradativamente se acumula e hoje pauta grande parte do assunto diário de muitos brasileiros é riquíssima, e não há precedentes similares. não restam dúvidas de que essa pulsão pela política é algo inaugural na vida de grande parte da sociedade, esteja ela nas ruas, nos gabinetes ou nas timelines. são seis e meia, estou profundamente apaixonado pela revolução, ela já é. e definitivamente há qualquer coisa de sagrado nisso tudo.
Posted on: Wed, 03 Jul 2013 09:57:26 +0000
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