(por Mariana Casals) É lamentável, mas o que vemos é uma - TopicsExpress



          

(por Mariana Casals) É lamentável, mas o que vemos é uma sociedade que cada vez mais ignora seus profissionais de base, aqueles que, de muitas formas, mantêm essa sociedade funcionando. Não vou ser hipócrita de dizer que é apenas o professor, mas é também o professor. O professor estudou muitos anos, dedicou cerca de quatro anos de sua vida para a graduação na sua área e passou um ano na licenciatura. Isso sem contar os inúmeros profissionais que passaram também mais um ano ou dois na pós-graduação, uns dois anos no mestrado e uns dois anos no doutorado. Esse professor não fez sua formação primeiro e depois foi trabalhar, não, ele passou muitos anos dando aula ao longo do dia e trabalhando de noite, ou vice-versa. Muita gente acha que dar aula é fácil, que é um trabalho mais sentimental. Acham que ser professor é passatempo, fase. Não conheço um colega que não tenha passado por momentos em que alguém pergunta “você ainda é professor?”, ou algum momento em que alguém diz que está se aposentando, e por isso quer começar a dar aulas ou que está precisando de uma renda complementar e quer dar aulas. Não é esse o professor que está na rua lutando, não é o profissional que “dá uma aulinha” depois de algo mais “importante”. O professor que está na rua a brigar por uma condição melhor de salário e de emprego é quem se dedica muito a uma profissão que é desvalorizada e que o coloca até mesmo em posição de risco. Aquele que levanta antes das cinco, se arruma, pega o transporte público já lotado, viaja em pé por uma hora ou mais e chega no local de trabalho às seis e meia da manhã pra iniciar sua jornada de trabalho às sete horas da manhã. Ele dá cinco tempos de aula, o que significa quase cinco horas seguidas de trabalho, e ele mal almoça e voa para o segundo emprego, novamente enfrentando o transporte público cheio. Sua segunda jornada vai até o final da tarde (mais cerca de cinco horas de trabalho), quando ou vai para uma terceira jornada (sim, muitas vezes é necessário) ou retorna para casa, para enfrentar mais um transporte coletivo lotado e percorrer o engarrafamento corrigindo provas, preparando aulas. Esse profissional usa seus domingos e feriados para preparar aulas e corrigir provas (trabalho não remunerado), porque ele dá aulas aos sábados, muitas vezes de manhã e de tarde. E ele ainda tem que encontrar espaço na agenda para aulas de reforço, reuniões com pais, eventos da escola, cursos de atualização etc. Além de claro, sua vida pessoal. Cada vez mais o professor perde seu espaço na sociedade. Não é mais respeitado, nem mesmo por seus alunos. Quantos colegas contam histórias de ameaças, de violência verbal, e até mesmo física. Colegas que foram ameaçados de morte por reprovar alunos, colegas que sofreram agressões por parte de alunos e responsáveis por alunos, colegas que têm de conviver com o pesadelo do sistema de aprovação automática, que permite que alunos cheguem ao ensino médio sem saber como ler direito, quanto mais o resto. Sei que também há muitas histórias bonitas, e que bom elas ainda existem! Mas quando a sociedade pensa nas histórias bonitas, aquelas de filmes de professores, elas pensam em amor e benevolência. Claro que tem amor e benevolência, e de certa forma, a mesma que você encontra (ou deveria encontrar) em médicos, advogados, empresários, políticos, e assim por diante. Não é um trabalho voluntário. A realidade é que ser professor é muito complicado. Cada vez mais a sociedade cobra da Escola a educação de livros e a educação de sociedade. O professor é visto como uma figura benevolente que deveria ser capaz de muitas coisas (ensinar a matéria, dar educação, formar o cidadão, servir de exemplo, dar uma aula interessante, alegrar os alunos, manter a disciplina, ensinar sobre a vida, etc) . Esquecem que o professor tão cobrado recebe cerca de R$15,00/hora aula. Em um bom lugar, o professor de idiomas recebe cerca de R$25,00/hora aula. Você imagina que o professor que recebe “bem”, recebe cerca de R$2.500,00, muitas vezes juntando seus dois contracheques, porque professor TEM QUE ter mais de um emprego para sustentar casa e família. Pensando bem, é um valor que não faria um profissional de tantas outras áreas nem sequer comparecer a entrevistas. Estamos numa sociedade em que a babá de uma família de classe média alta recebe proporcionamente mais que o professor. Estamos numa sociedade em que, como muitos compartilham em redes sociais, o salário de um mês de um político paga o salário de muitos professores da rede pública. E para ser professor na rede pública, é preciso investir no concurso, e passar, e provar seus títulos. Em colégios públicos “de prestígio” (que bom que eles existem!), os professores do ensino fundamental precisam ter mestrado completo para terem chance de serem aprovados no processo seletivo. O mês de outubro, o mês de celebração do dia da criança e do dia do professor começou de forma muito decepcionante: o governo usa a violência contra o professor. O mesmo governo que disse que queria investir em educação, e que gasta mais em armas de contenção da massa do que em adequação de ambientes escolares. A mídia “de destaque” nem a sociedade se posicionam, já li até comentários que culpam o professor pela criança ficar “à toa”. Você quer celebrar o dia das crianças? Não precisa comprar presentes, presentes acabam. Dê ao seu filho, sobrinho, etc o acesso a uma educação de qualidade, porque a educação fica pra sempre. E dar esse acesso não se resume a pagar escolas particulares não, pressione o governo para investir na educação pública (que é seu dever garantir) e no profissional que pode realmente transmitir a educação de qualidade: o professor. E, pra ficar claro, não é só o professor, o governo deve também investir em toda a estrutura da escola pública. Você quer celebrar o dia do professor? Não mande uma maçã, mande respeito, mande apoio, tente ser mais participativo na educação das suas crianças, seja solidário ao profissional que trabalha com elas. Esse profissional quer respeito, quer o entendimento que há sim um aspecto de amor e carinho no trabalho, mas que continua sendo um trabalho. Você não espera receber apenas amor no final do mês, você espera receber o suficiente para pagar suas contas e fazer supermercado, e poder se dar ao luxo de ter um momento de lazer, entre outras tantas coisas. O professor também.
Posted on: Wed, 02 Oct 2013 18:12:58 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015