É PRECISO ENCONTRAR O MEIO-TERMO ENTRE O ISOLAMENTO E A VIDA - TopicsExpress



          

É PRECISO ENCONTRAR O MEIO-TERMO ENTRE O ISOLAMENTO E A VIDA SOCIAL É fácil se perder em nossa busca pela felicidade e pela paz de espírito. Vivemos na falta de algo essencial que não sabemos o que é nem onde procurá-lo. Será que devemos nos voltar ao mundo, às pessoas, ou a nós mesmos? Devemos nos entregar ao barulho das conversações ou ao silêncio da introspecção? As religiões pregam o cultivo ao silêncio e o afastamento das coisas mundanas. Monges, tanto ocidentais quanto orientais, se afastam do mundo e fazem voto de castidade. Por sua vez, nossa cultura preza pelos prazeres da vida social; as relações românticas estão na primeira pauta do dia; e ficar em silêncio na reclusão pode ser visto como falta de sociabilidade. Nós que nascemos e crescemos na cultura ocidental geralmente temos dificuldade para ficar sozinhos; estar sozinho é, para nós, sinônimo de angustia e solidão. Inevitavelmente, mergulhamos no culto à vida social para fugir desses sentimentos; e, ao fugir da angustia da solidão estamos fugindo de um contato mais próximo com nós mesmos. Mas, se fugimos de um contato próximo com nós mesmos, como encontraremos aquele bem essencial, fundamental e íntimo que nos completa? Porém, no contato com outras pessoas também somos desafiados a enfrentar os aspectos de nossa personalidade que menos conhecemos e dos quais desejamos manter distância. Nossas diferenças com os outros testam nossa paciência, nosso orgulho e amor próprio, colocando-nos diante de fragilidades que não se revelam quando estamos a sós. Assim, o cultivo ao silêncio e o enclausuramento também podem significar a fuga de um contato mais íntimo com nós mesmos. Se tanto o voltar-se para o mundo exterior quanto o voltar-se para o mundo interior podem significar uma fuga de si mesmo, somos obrigados a concluir que nosso verdadeiro eu não se encontra em lugar algum. E como encontrar aquilo que não está em nenhum lugar? O ‘eu’ não é uma coisa. Não podemos aceitar o pensamento simplório que identifica o eu ao nosso organismo ou, o que é pior, a uma parte dele, o cérebro. O eu é uma relação, ele é a relação de si mesmo com o mundo. Se fosse possível eliminar a relação do eu com o mundo, o próprio eu deixaria de existir; e não apenas o eu deixaria de existir, mas também o mundo; não o mundo físico das coisas materiais, mas o mundo composto de todos os significados e sentidos que constituem, de fato, o mundo em que existimos. Não existimos no mundo tal como a ciência o descreve; vivemos num mundo onde todas as coisas possuem um nome, um valor, um significado. É esse mundo que deixaria de existir caso o eu deixasse de existir; pois, na verdade, esse mundo é o próprio eu. O eu nem é tanto aquilo que somos, mas o que desejamos ser. E o que desejamos ser? Desejamos ser num mundo pleno de sentido. Buscamos um mundo cujo sentido nos torne plenos. Talvez, por isso, nossa tendência natural seja nos entregarmos sem restrições às coisas mundanas. Mas, o sentido do mundo só nos tornaria plenos se esse sentido também fosse nosso. Entretanto, convivemos diariamente com o fato de que o sentido do mundo não é aquele que gostaríamos de lhe dar; o mundo não segue nossa vontade, não funciona como desejamos. E quando o sentido do mundo não nos agrada, é possível trilhar por dois caminhos opostos: (1) Podemos nos entregar completamente ao mundo sem nos aprofundarmos em seu sentido. Assim procedendo, tornamo-nos aquelas pessoas que, apesar de muito sociáveis, falantes e extrovertidas, também podem ser acusadas de futilidade ou superficialidade. Ou (2) podemos nos isolar do mundo e mergulhar em nosso interior. Assim procedendo, tornamo-nos calados, introspectivos e podem nos acusar de falta de manejo social. A pessoa que se isola do mundo pode aproveitar para estudar e se tornar bastante erudita; ela pode dominar temas abstratos e dar a impressão de ter atingido uma profundidade subjetiva bastante considerável. Mas, assim como a pessoa que mergulha sem restrição nas coisas mundanas alcança apenas um sentido bastante superficial do mundo, aquela que mergulha sem restrições em seu mundo subjetivo também só alcança um sentido muito superficial do seu próprio eu. O mundo só faz sentido se o sentido do mundo for descoberto dentro de nós; semelhantemente, as profundezas da subjetividade só adquirem seu sentido verdadeiro se conseguimos vivenciá-lo no mundo. Todos somos confrontados com o fato de que o sentido do mundo é diferente daquele que gostaríamos de lhe dar. Diante disso, apresentamos a tendência ou de nos voltarmos superficialmente ou mundo ou superficialmente a nós mesmos. É preciso identificar qual dessas atitudes nos governa para tentarmos compensá-la: Os que se voltam ao mundo precisam aprender a cultivar um pouco mais o sentido da solidão, e os que se voltam a si precisam cultivar um pouco mais o sentido da vida social. Esse é o caminho do meio que pode nos levar, finalmente, ao encontro daquele algo essencial que sempre buscamos. Daniel Grandinetti – Belo Horizonte dgrs1977@gmail
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 21:30:35 +0000

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