A CILADA DO ENTRETENIMENTO – III Por Rômulo - TopicsExpress



          

A CILADA DO ENTRETENIMENTO – III Por Rômulo Monteiro ENTRETENIMENTO, TEMPO E DESCANSO. O Moderno Dicionário Enciclopédico Brasileiro também define entretenimento como "ocupação". É simples de entender; enquanto estamos distraídos, ocupamos nosso tempo. Entretenimento não é o mesmo que descanso. Muito menos ócio contemplativo e/ou produtivo. É ocupação que distrai e ilude. Aqui vale uma palavra sobre trabalho e entretenimento. Os números parecem apresentar uma matemática contraditória. Trabalha-se mais hoje do que no passado. Entretanto, do outro lado, o mercado do entretenimento só cresce. Como conciliar, então? O que acontece é que, com o pouco de tempo que se têm (feriados, happy hour, finais de semana), as pessoas se divertem com mais intensidade do que no passado. Além disso, o entretenimento tem ganhado tanto espaço que a divisão trabalho e entretenimento é, no final das contas, artificial. Há muito que o entretenimento invadiu a esfera do trabalho e da educação. Hoje, trabalha-se enquanto se distrai. O fato é que "não estamos vivendo numa era contemplativa" [13]. Vivemos a era de Marta (Lc 10.38-42); sempre ocupados e negligenciando as coisas mais importantes. Estamos sempre conectados a aparelhos eletrônicos (TV, computadores, celulares, games), fazendo e agindo. Horton descreve bem essa realidade: Não se pode deixar de notar a inquietude do homem e da mulher ocidental contemporâneos, uma inquietude observada até mesmo (muitas vezes mais óbvia até) durante períodos de lazer. Por uma variedade de razões, muitos encherão esses momentos com tantas diversões, troféus, brinquedos e recreações que freqüentemente escutamos "Agora preciso de um descanso e recreações após as minhas férias" [14]. Hoje descanso é algo perturbador, pois nos traz a idéia da perca de tempo. Enquanto que o mal do sedentarismo físico é constantemente combatido, pouco se fala do sedentarismo mental. Porque, então o homem não pára? Fico com as duas respostas de Blaise Pascal: fuga da realidade e a busca da felicidade. Segue as palavras do grande filósofo francês: Os homens que percebem sua condição naturalmente evitam, de todas as maneiras, o repouso, e tudo obram para encontrar a agitação […] o erro deles não seria buscar a agitação se só o fizessem por divertimento; o mal é que a procuram como se a posse das coisas que buscam devesse torná-los felizes à perfeição, e nisso sim, há motivo para classificar tal pretensão como vã […] [15]. Acho que o entretenimento une esse dois elementos perfeitamente, pois na proposta de fuga da realidade do entretenimento, o prazer e a felicidade são os alvos. A felicidade, pois, está fora da realidade. A busca por felicidade é uma constante do homem. O mesmo Pascal diz: "Os homens todos, sem exceção, desejam ser felizes. Por distintos os meios que usam, tendem todos a esse propósito" [16]. Sobre a busca da felicidade, as palavras de C. S. Lewis são esclarecedoras: "A melhor coisa acerca da felicidade em si é que ela livra você de ficar pensando sobre felicidade" [17]. Nada mais estranho, pois, para um cristão do que buscar a felicidade. Já encontramos a pérola de grande valor (Mt. 13.46). Não vendemos nossa alma por prazeres transitórios de míseras trinta moedas; antes, doamos com gratidão todo nosso perfume, por que nada supera o valor do que temos – Jesus, nossa porção (cf. Mt. 26.6-16). A Bíblia nos chama a aprender a "a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp. 4:11) e a declarar com intrepidez: "Posso todas as coisas naquele que me fortalece". (Fp. 4:13). Ou seja, é nossa satisfação ou felicidade em Cristo que nos capacita a viver em dificuldade. Um cristão em busca de felicidade é uma contradição de termos. O cristão não busca a felicidade; ela chegou até ele em Cristo Jesus. O mesmo pode-se dizer sobre a fuga da nossa própria condição. O entretenimento promete o esquecimento da pobreza da humanidade, da decomposição da doença, das contas, do patrão, dos relacionamentos fracassados, ad infinitum. É curioso ver cristãos seguindo a fila dos fugitivos; sentados na roda dos escarnecedores; bebendo na mesma fonte que entorpece os ímpios, e por conseguinte, eliminando qualquer descanso de sua agenda. Não fugimos da realidade. Antes, foi-nos revelado que ela é maior do que parece. Para o cristão, a nossa esperança em Cristo não se limita apenas a esta vida. Se assim fosse, seríamos os mais infelizes de todos os homens (1Co 15:19). O tema "fuga da realidade" nos leva a um outro tema – o descanso. Enquanto foge, o homem não pára. Em resposta a esse quadro, muitos cristãos se valem do mandamento do sábado ou do sabatarianismo puritano para justificar o descanso. Aqui não temos espaço para discorrer sobre a lei mosaica (especificamente o quarto mandamento) e sua relação com o cristão. Seguem alguns princípios que sintetizam uma das obras mais completas sobre o quarto mandamento: [1] O Shabbath não é considerado uma lei universal para toda humanidade, mas uma lei específica para Israel. Uma vez que era um sinal da aliança deve ser observado ao longo da duração dessa aliança. […] [2] Em momento algum os autores do Novo Testamento ou os textos dos três primeiros séculos da vida da igreja indicam que, de fato, o primeiro dia era considerado um dia de descanso. […] [3] Se, a fim de determinar um padrão normativo é preciso encontrar uma injunção neotestamentária, então a observância do primeiro dia da semana não se encaixa na categoria de costumes normativos e a prática apostólica não é, por si mesma, suficiente para construir uma ordem com autoridade apostólica […] O enfoque central do shabbath era a abstenção de trabalho, mas a observância do Dia do Senhor [domingo] se concentra na adoração ao Senhor ressurreto [18]. Em outras palavras, o desafio ao descanso não depende necessariamente de uma defesa à subordinação ao quarto mandamento. Como Paulo nos ensina, "os mandamentos de Deus, normativos para o cristão, não podiam ser equiparados ao código de Moisés"[19] (cf. 1Co. 9.19-27). Se por um lado a lei mosaica não é mandamento; por outro lado o cristão pode se valer da lei (código mosaico) como princípios úteis. Além disso, o bom senso exige uma parada. Se a questão é não ter tempo, a única solução é: exclua alguma coisa. O autor de Hebreus também nos desafia a ampliarmos nosso entendimento sobre descanso. Ele nos ensina que todo descanso físico aponta para um descanso eterno que pode ser desfrutado agora pela fé (cf. Hb. 4). ...(continua amanhã).
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 15:53:17 +0000

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