A caricatura da elite pela classe média Por - TopicsExpress



          

A caricatura da elite pela classe média Por lucianofernandesjr É de se notar que o mundo do pensamento é vasto, quase que infinito. Podemos encontrar em uma pesquisa, em uma procura de afirmação de hipóteses, argumentos favoráveis e e contrários cabendo, de acordo com nosso interesse, fazê-lo de modo consciente, inconsciente, ou ainda num nebuloso meio termo. Qual das três opções é usada, não é difícil deduzir. De fato, na esfera consciente, a cultura é dominada pela classe que possui as condições mais favoráveis para tal, a elite que possui a formação intelectual mais privilegiada e, portanto, a consciência e consistência de argumentos de seus interesses. Não que seja uma unanimidade, toda a regra tem exceção, mas é o que de fato ocorre de maneira sistemática. Num segundo substrato, encontramos a classe média que, em sua maioria, mesmo que alcance por vezes um grau de "aculturamento" avançado, em sua grande maioria, causado por fatores inerentes a sua própria situação social , ié, a necessidade de produzir a sua vida material, não é propícia a leituras mais profundas que periódicos semanais e esporadicamente jornais de grande circulação. Falta-lhe, assim, a consciência do todo, a unicidade de pensamento, ou melhor, a profundidade alcançada pela classe dominante. Mas daí ocorre um fato interessante. Esta aspira o lugar privilegiado (desejo impossível mas ainda assim almejado) e, na ânsia, neste desejo, torna-se um simulacro, uma caricatura da elite que deseja tornar-se, repetindo inconscientemente, como a papaguear, a copiar, o que o primeiro substrato tem a consciência plena e interesse próprio. Que tal fato ocorre, é fato que não passou desapercebido por várias correntes de pensamento e até de políticos mais perspicazes. Leonel Brizola, p. ex., já o havia percebido, e citava exaustivamente este fato. Percebia que a sociedade paulista, mais conservadora, era (e continuasendo) pródiga neste comportamento.E isso traz consequências perversas, como a crítica a programas sociais, como a bolsa-família e outros que visam a distribuição de renda. Aí entra outro fator, mais grave que essa grotesca tentativa de imitação e aspiração a ascensão social. Impossibilitada de se elevar a maiores níveis sociais, tem a classe intermediária um pavor irracional da ascensão das classes mais humildes da população. Afinal, é seu desejo consciente ( e não declarado) ou mesmo sem esta consciência, a distinção como uma classe superior, a classe responsável pelo desenvolvimento do país, a que paga impostos, a que trabalha, a que carrega em seus ombros uma nação. Como poderia, em seu imaginário distorcido, um operário semi-analfabeto, tornar-se Presidente, que méritos teria um sindicalista, um operario em ocupar um cargo de alto escalão, se nem sequer estudou? Entendem como uma aberração a elevação social do terceiro substrato da população, a classe mais humilde, taxando programas citados como bolsa-vagabundo, curral moderno de votos, e outras classificações pejorativas. Pouco importa a racionalidade de se proporcionar uma renda monetária mínima objetivando ao recebedor o surgimento do "sabor pelo consumo" e consequentemente a procura de mais renda através do trabalho, pouco importa que ferrenhos defensores do capitalismo, como Von Hayek, já a tinham teorizados décadas. Pouco importa que Galbraith, Tobin, Samuelson ( nenhum deles defensores de regimes "chavistas, bolivarianos, etc.") tenham defendido a assim chamada renda negativa em algum momento de seus trabalhos. O que efetivamente aterroriza esta classe é que, na impossibilidade de do domínio econômico, ainda terem que se virar com o "perigo moral" de se igualarem à classe abaixo desta. E nisto enxergamos dois problemas, ou obstáculos, para a desigualdade social ser atenuada. O primeiro, a relutância da elite em deixar de copiar o padrão de consumo de seus similares das nações mais desenvolvidas, problema tão bem diagnosticado por Celso Furtado, analisando as causas do fracasso da tese cepalina (um tema não desenvolvido neste texto), a segunda uma classe média retrógrada pela própria natureza e situação na qual se encontra no sistema capitalista. A primeira, não tão grave quanto a segunda. Afinal, em uma conversa, em um debate, mesmo que não concordando, ou não abrindo mão de suas posições há o entendimento racional, por mais frustrante que possa ser.O segundo obstáculo não se vislumbra um debate, já que improdutivo. Ao tentar se argumentar, o que se vê é uma profusão de frases feitas, raciocínios desconexos, quando não se parte para os impropérios e condutas agressivas. Pois o pior perigo, ou a maior frustração é quando estamos tentando convencer alguém com mil arrazoamentos, raciocínios e argumentos lógicos e descobrir que não estamos conversando com a pessoa, mas sim com a sua vontade. E esta é sempre cega e irracional.E a pergunta que se faz é até quando o governo trabalhista conseguirá sustentar as transformações que se efetuaram nesta década. Teria o modelo se esgotado com a criação desta imensa classe média, uma criatura que se volta contra seu criador (sem falar do domínio ideológico de nossas elites) ou haveria espaço para mais avanços? É o que o próximo ano nos contará.
Posted on: Tue, 06 Aug 2013 14:45:09 +0000

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