AS PROFESSORINHAS Sou do tempo em que o antigo primário (hoje - TopicsExpress



          

AS PROFESSORINHAS Sou do tempo em que o antigo primário (hoje Ensino Fundamental 1), tinha à frente uma professorinha formada no curso Normal, quase sempre oferecido nos grandes centros. Estas normalistas tinham uma sólida formação e ensinavam junto das primeiras letras e da tabuada as bases da cidadania, da língua portuguesa, as contas da aritmética, a história e a geografia. Nem todos os alunos superavam essa etapa e seguiam os estudos do ginásio, preparando-se para os raros cursos superiores. Não pela (in)competência da professorinha, mas pela realidade social de algumas décadas atrás. As meninas, por exemplo, não eram incentivadas a continuar seus estudos superiores e um número significativo de crianças parava no antigo 4° ano. Quando chegava a uma cidade do interior, a professorinha era uma verdadeira sensação, pois ela se diferenciava da sociedade local pela sua formação, além de deter um emprego público remunerado e estável, coisa rara nos anos 40 e 50 do século passado. Tornava-se alvo dos rapazes que disputavam a tapa a sua atenção e, quem sabe, até um futuro casamento. Isto por que, a professorinha do interior tinha prestígio e era um bom partido. E eram poucas.... Hoje, essa situação é apenas uma fotografia pálida, distante no tempo. O carro da história andou e a cada dia, modernidades e tecnologias foram sendo incorporadas ao sistema educacional como um todo. No século atual, assistiu-se à massificação de cursos superiores no Brasil para a formação de professores e, com isso, sem dúvida, ampliou-se a democratização do ensino. Entretanto, a professorinha perdeu o seu status, seu prestígio e o seu poder nas cidades interioranas. Os salários tornaram-se aviltantes e a profissão, ainda que muito necessária num país em desenvolvimento, ficou degradada a ponto de muitos jovens não desejarem, nem de longe, tornarem-se professores de primeiras letras. Por sua vez, os cursos superiores de formação de professores, nem sempre primaram pela qualidade, caindo o nível da formação do profissional da educação, chamados licenciaturas. São, por outro lado, cursos considerados “baratos” e atraem, sobretudo, estudantes que não podem pagar altas mensalidades ou que não tem disponibilidade em tempo integral, pois precisam sustentar-se trabalhando enquanto estudam. Essa realidade criou um círculo vicioso onde o professor é diplomado com falhas de formação e desestimulado por baixos salários que afetam a sua qualidade de vida. A responsabilidade, nessa situação, recai sobre o Estado, que tem um discurso maravilhoso sobre Educação para Todos, mas não executa uma política pública de valorização real e concreta desses profissionais. Agora, um modismo mais ou menos recente, e alardeado por autoridades governamentais, introduziu computadores nas salas de aula como panacéia para as mazelas do Ensino Básico (o Fundamental 1 e 2 e o Médio). Entretanto, é preciso ter em mente que o computador deve ser considerado apenas como uma ferramenta. Mesmo com toda a disponibilidade de alta tecnologia e modernização da escola, nada ainda supera a presença de um bom professor na sala de aula. Este, remunerado adequadamente, bem formado, atualizado e com boas condições de trabalho, será sempre o principal protagonista no processo de ensino-aprendizagem. Outra modernidade, agora para a formação dos professores do ensino fundamental, são os chamados cursos superiores de educação à distância, uma forma mais interessante do ponto de vista econômico para a Instituição (especialmente, as particulares) que os oferece e também para a sua clientela. As Instituições públicas também têm interesse em mostrar estatísticas positivas do seu desempenho, em especial um grande número de formandos, para justificar o acréscimo de recursos do MEC. Só indicadores estatísticos, diga-se de passagem. Mas, será que esta nova forma de ensinar prepara melhor os novos professores? Este é, de fato, um assunto ainda não bem esclarecido e que merece uma profunda reflexão Nesse ponto sou meio conservador e acredito que a melhor forma de aprendizagem, com estímulo à reflexão e solidez de conteúdos, ainda está no ensino presencial, ou seja, com o professor frente ao aluno e não através de um telão e de um computador. Apesar dessa minha preferência, o que interessa mesmo é a qualidade dessa formação que necessita de uma carga bem maior de prática e menos teoria. Ainda há uma distância enorme entre o que se aprende nas Universidades e a realidades das escolas, sobretudo as públicas. Num censo escolar de 2002, praticamente 98% dos formandos em pedagogia, normal superior e também para a educação infantil vinham do ensino presencial. Mas esta situação inverteu-se. No censo escolar 2009, detectou-se que 55% dos formandos eram egressos, vejam só, dos cursos à distância. Isto significa claramente que o ensino à distância veio para ficar e aumenta consideravelmente a quantidade de professores formados. Mas, e daí? Em educação, essas inovações devem ser tomadas como meios e não fins. O que importa, de fato, é ter um professor bem formado, muito dedicado (se ele deseja ser bem remunerado e reconhecido) e com vontade de lidar com crianças e jovens. Ai haverá uma escola de qualidade para todos.
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 11:40:57 +0000

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