Almodôvariano Ao longe uma silhueta foi-se transformando - TopicsExpress



          

Almodôvariano Ao longe uma silhueta foi-se transformando visível, de contornos perceptíveis, sentada numa pedra à beira da estrada. Era uma mulher. Carregava os seus restos de dignidade e oferecia o seu trabalho com força que ainda lhe restava. Tinha um ar pesado de quem vive ao tempo, abraçando a chuva, o sol, a geada, o vento e o nevoeiro, tal como eles se lhe oferecem. Numa entrada para o mato assinalado com um saco azul os carros passeiam-se devagar. Alguns parados esperam o sinal. Homens de ar bonitinho e antiquado, outros engomadinhos de cabelo aparado e brilhantina, sapatos envernizados e pontiagudos em carros com referência de “bebé a bordo”, fizeram-me fazer o resto do filme daqueles personagens dignas de Pedro Almodôvar. De todas, a única de quem eu gosto e nutro respeito, é a silhueta que se me avistou e foi clareando com a aproximação. A mulher moldada na pedra. A mulher mãe a quem a vida destinou um assento de pedra na beira da estrada. A mulher mundo. A mulher feiticeira. A mulher noite. A mulher tempo. O tempo de mulher.
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 18:39:02 +0000

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