Amigo Como disse o Drummond, como são desnorteantes os caminhos - TopicsExpress



          

Amigo Como disse o Drummond, como são desnorteantes os caminhos da amizade! De repente, num átimo, do nada ou do próprio caos, nasce rompendo o ventre de nossas inquietações, rasgando a ferro as nossas culpas, cortando como faca nossas angústias, rompendo o silêncio das nossas vacilações. Feito espada e escudo, a um tempo agride com a sinceridade, a franqueza e a transparência; a outro defende pelo silêncio, pela compreensão e pelo entendimento. Dualidade permanente, a amizade se reveste de transformação e permanência; imanência e transcendência. Um amigo nos subtrai das nossas as dores, das nossas lágrimas, da nossa tristeza, das nossas agonias, dos nossos fracassos; soma conosco nas alegrias, nos nossos êxitos, no nosso sempre pouco tempo; divide conosco as nossas responsabilidades, os nossos compromissos, as nossas obrigações, as nossas dívidas, as nossas ilusões, os nossos desencantos, os nossos sofrimentos, as nossas dores; multiplica o amparo, a compreensão, o entendimento, o silêncio expressivo, a palavra necessária, a atitude concreta, o comportamento aberto, a conduta secreta. Um amigo é um ouvido atento, uma palavra sem alarido, uma boca sem acusação. Um amigo é uma passagem secreta no muro do ombro, onde colocamos as mensagens de nossas lamentações e desatinos. Um amigo são as mãos prontas a nos segurar e aptas a nos aplaudir; são os braços para nos acolher e para nos erguer; as pernas para andar quando não temos forças para caminhar; o tronco para pular e por nós vibrar, e também para nos carregar; os olhos para ver o que não vemos; a sensibilidade para sentir o que sentimos. Um amigo não é um amor, que nasce involuntário e arbitrário, cresce sem saber o itinerário, arrefece perdulário e fenece como sino no campanário a anunciar o desencanto e a desilusão, que perece como chama no candeeiro ao acabar o combustível. Um amigo é uma escolha voluntária que nasce libertária; se desenvolve como templário a defender o santo sepulcro de nossos segredos, permanece conosco mesmo ausente, transparece sem querermos nas nossas palavras e nos nossos gestos, eterniza-se na nossa lembrança e na nossa saudade. Um amigo não tem endereço, porque a sua morada é o coração da gente. O tempo não passa para um amigo porque no reencontro, sempre parece que foi ontem. Um amigo não tem contato, porque está sempre presente na nossa mente. Um amigo não falta, porque está sempre em nós, onipresente. Um amigo não precisa saber, sabe, porque de nós é onisciente. Um amigo é nosso amigo quando parte e fica presente. Um amigo é, nunca está. Um amigo não é transitório, mas permanente. Um amigo é a nossa maior saudade, o nosso melhor encontro. Um amigo é nossa melhor mania. Mais do que empatia, mais do que sintonia, é verdadeira simbiose. O amigo é o nosso umbigo onde, quando mais precisamos, vamos religar o cordão umbilical pelo qual vamos realimentar o sangue de nossa própria sobrevivência. Por isso, se vivo, é porque você me salvou meu/minha amigo/amiga. Bem aventurado sou eu porque tenho você. Sergio Albergaria
Posted on: Sat, 20 Jul 2013 21:54:23 +0000

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