Angelo Venosa Esta semana se aposentou, depois de mais de 30 anos - TopicsExpress



          

Angelo Venosa Esta semana se aposentou, depois de mais de 30 anos de serviços prestados à Nação, Angelo Augusto Venosa, funcionário da Fundação Casa de Rui Barbosa. O nome é famoso por coisas bem diversas do que fazia na Casa, da qual foi sempre um sério e responsável servidor. Ao longo desses anos, o padrão gráfico, a beleza e a leveza da maior parte do que foi publicado pela instituição têm a marca do talento do escultor Angelo Venosa que tinha nas artes gráficas sua segunda vocação. Fez as duas carreiras "pari passu" e, ao lado das exposições internacionais, o artista plástico, cuja obra é reconhecida pelos maiores críticos, cumpriu esse outro papel para o qual seu concurso era tão indispensável que agora ficamos meio perdidos. Como garantir a continuação do grau de excelência que caracterizou o visual de nossas publicações sem o seu olhar absoluto? Modesto, discreto e pouco falador mas nunca antipático, nunca menos afável com quem quer que fosse, Angelo é unanimidade no bem-querer de todos os colegas de repartição. Foi com orgulho que acompanhamos sua trajetória sempre ascendente nas artes plásticas, ainda que sua criação fosse muito sofisticada e moderna para o padrão de alguns de nós. Há muitos anos, no âmbito da Casa Rui, formou-se em torno dele um grupo de amigos que almoçava junto todos os dias. Ele e Beto não eram pesquisadores do Setor de História e até faziam piadas a nossas custas mas foram definitivamente incorporados. Formamos assim um grupo fechado, com todas aquelas brincadeiras e códigos que os amigos desenvolvem durante uma vida de intimidade. Nas conversas de almoço, nos tantos restaurantes de Botafogo que frequentamos durante esse tempo e na livraria de Celina Rondon, parada obrigatória para o cafezinho, compartilhamos problemas familiares, decepções, dúvidas de trabalho, doenças, essas coisas que convidam à palavra de conforto, ao abraço e à solidariedade. Mas também e, principalmente, rimos muito, fizemos muita troça um da cara do outro, contamos as mais diversas anedotas, falamos mal da vida de muita gente. Nossos almoços foram momentos importantes na nossa história, fazem parte dela, pois nos uniram, nos enriqueceram e nos proporcionaram muitos momentos felizes. O Angelo que conhecemos ali era o mesmo rapaz de classe média paulista, filho de pais imigrantes italianos, que um dia viera para o Rio cursar a famosa Escola de Desenho Industrial - a Esdi - que lançou tanta gente boa no mundo das artes gráficas. Ali, além de conhecer Sarinha, amor da vida inteira, descobriu-se artista plástico, integrando-se já como escultor à turma que, no Parque Lage, constituiu a hoje histórica Geração 80. Mas as histórias que Angelo mais gosta de contar são as de seu pai, já falecido, a quem está ligado até hoje por profundas admiração e afinidade. O soldado da Calábria que lutou pela Itália na II Guerra Mundial, que ficou meses em um campo de prisioneiros controlado pelos ingleses na Índia contou suas histórias para o filho. Angelo guarda até hoje como preciosa relíquia o caderno com desenhos e anotações dessa fase da vida do pai que antecedeu em alguns anos a decisão de vir para o Brasil. O pai, tal como o filho, era também um artista, era também um escultor. Entre eles havia uma ligação que tanto faz lembrar o enredo de "Babilônia" (filme dos irmãos Taviani), pois talvez tenha sido ao ver o pai preparar os grandes cenários que iriam decorar as festas de um clube elegante de São Paulo que Angelo achou sua vocação para as artes. Se o pai fazia lembrar o personagem dos Taviani, a mãe era feliniana por excelência e seus dramas, suas exageradas emoções, constrangiam o filho tímido e discreto. A mãe costureira era um tema que Angelo partilhava com o Beto nos nossos almoços do Eco´s. Pois a cada desejo de uma jaqueta ou de um jeans da moda, elas se apressavam em buscar o molde e fazer igualzinho e muito mais barato. E, é claro, com um resultado final totalmente diferente do que o pessoal bacana do colégio usava. Por isso também, os dois saibam tudo sobre tecidos, pontos e adereços. Mas esse Angelo de memórias tão singelas foi sempre apenas parcialmente nosso. No mundo das artes plásticas, ele esteve sempre em evidencia. Inclusive, no ano passado, foi tema de duas grandes exposições retrospectivas de sua trajetória. Uma, no MAM, do Rio de Janeiro e outra, na Pinacoteca, em São Paulo. E tivemos nós seus amigos de Casa Rui, o privilégio de uma visita guiada pelo próprio artista a essa mostra impressionante que ocupou todo o vão principal do MAM. De alguma forma, aqueles trabalhos, alguns imensos, também faziam parte da historia de nossa amizade. Pois, como seus amigos, acompanhamos suas pesquisas, soubemos dos materiais inusitados que vinha experimentado, do tratamento que dava a algumas de suas ideias. Tive o privilégio de contar com sua artes em alguns dos livros, cartazes e folder de seminários realizados na Casa de Rui Barbosa. Mas tenho especial orgulho de ter promovido, em novembro de 1998, durante o período em que dirigi o setor de História, um mesa-redonda em torno de seu trabalho mais conhecido. Sob o título de "A Baleia do Leme e a intervenção no espaço público" pudemos, na Casa Rui, em mesa coordenada por José Almino de Alencar, ouvir gente como o Ascânio MMM, Paulo Knauss, Lauro Cavalcante, Paulo Sérgio Duarte e Paulo Venâncio Filho analisar a obra desse grande escultor que é Angelo Venosa. Enfim, é um amigo querido que se despede, o que provoca uma tremenda baixa no nosso grupo. Sabemos que essas amizades se constroem, se aprofundam e se conservam nas conversas e confidências que só o dia a dia do ambiente de trabalho proporciona. Perdemos nós o convívio cotidiano, ganha o mundo das artes plásticas ao qual Venosa vai poder dedicar tempo integral em seu elegante ateliê do Jardim Botânico. Soube que sua galerista, Nara Rosler (a mesma da artista cearense Luzia Simons) está planejando uma grande exposição de Angelo Venosa em Fortaleza no ano que vem. Não percam.
Posted on: Sat, 03 Aug 2013 13:34:47 +0000

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