Antes tarde do que nunca Ano de 1939. Estava com 6 anos de idade, - TopicsExpress



          

Antes tarde do que nunca Ano de 1939. Estava com 6 anos de idade, quando meu pai decidiu levar-nos, a mim e minha mãe, para visitar amigos e parentes que residiam em São João do Piauí, sul do Estado, em uma primeira viagem de apresentação de sua família. Fomos recebidos por sua prima Florzinha, e seu marido, David, que nos hospedaram, com alegria, em seu sítio, às margens do rio Piauí, salvo engano. (Muito do que, aqui, relato, foi ouvido de outras pessoas, pois minha memória gravou pouca coisa daquele passeio, fácil de compreender, não, só, por minha pouca idade, mas, principalmente, pelos acontecidos, então, tendo a mim como uma das suas principais personagens.) Mês de junho, o rio havia depositado em suas margens o que arrastara nas chuvas do inverno piauiense, formando o que se chamava de balseiros, espécie de monturos, solidificados pela inclemência do sol, após a época das águas. As crianças, principalmente, brincavam ali, correndo em cima deles, atirando-se às águas do rio, que não era profundo, pelo menos, nas suas proximidades. E, eu, naturalmente, integrei-me naquela algazarra com a felicidade dos passarinhos! Então, aconteceu aquilo que era feito, todos os anos, pelos lavradores, para desimpedir o leito do rio, desfazendo a possibilidade da barragem de suas águas. Tocaram fogo no balseiro, onde brincávamos pela manhã e não soubemos, ou não demos importância a tal fato. Fogo de balseiro é igual a fogo de monturo, queima por baixo, no início, ninguém ver. O fato é que, atrevido e “apresentado”, como visita, eu fui à frente, naquele dia, correr no balseiro, e me afundei numa fogueira iniciada no dia anterior, presumo eu. Os meus gritos, e dos meus amiguinhos, chamaram a atenção do povo e, meu pai, vendo-me queimando, conseguiu retirar-me daquele fogo, salvando minha vida, mas, naquelas alturas, com as pernas em carne viva! Ainda me estremeço, ao sentir o sofrimento dele e de minha mãe, ao lado do filho único, já sem poder expelir um som, de tanto gritar e gritar! Desespero dos dois, correria de meu pai, atrás de médico, de remédios, de quem pudesse ajudar, para minorar minhas dores e meu sofrer... E, depois, passando sebo de carneiro em minhas pernas, e colocando folhas de bananeira entre meus dedos e nas juntas dos joelhos para que não ficassem ligados para sempre, se eu sobrevivesse! Sim, porque eu já fora desenganado “a não ser que um milagre ocorresse”... Dias se passaram, e, para piorar as coisas, meu intestino paralisou. A barriga inchou, não dava nem pra enxergar os dedos dos pés, e eu passei a ver bichos desconhecidos, e assombrações, até acordado, pois não podia dormir, com medo de não acordar mais... Foi quando falaram que ia passar, naquela tarde, pela rua onde estávamos, depois da tragédia, a procissão de Corpus Christi, e eu pedi para assisti-la. Fui atendido, improvisaram uma maca para me por em pé e conseguir ver, da janela, o ato religioso. Fiquei à espera; e, quando o padre passou por mim, levando a Hóstia Sagrada, eu pedi a Deus que não me deixasse morrer. E, então, algo extraordinário aconteceu! Milagre? Coincidência? Conforto para uns pais sofridos? Como? Por quê? Quem? As explicações não importam, pois ACONTECEU! Tardezinha, depois da procissão, a fila de sempre, de pessoas que queriam ver o filho do Carlito, como meu pai era conhecido, começou a crescer. Foi quando apareceu “uma mulher do povo”, que queria falar com o pai do menino. Meu pai se apresentou e ela falou: “Eu tenho um remédio pra seu filho ficar bom”. Papai, coitado, indignou-se: “a senhora não tem pena da gente? Do sofrimento da mãe dele?” “Nós procuramos os médicos possíveis, compramos todos os remédios receitados, e a senhora me vem dizer que tem um remédio para curar meu filho?” Aquela mulher, apenas, perguntou: “Custa tentar um a mais?” Papai sucumbiu àquele raciocínio tão simplório; “Diga, minha senhora, que remédio é esse, que eu buscarei”. E, ela disse: “faça uma compressa morna, de malva do reino (mato que se encontrava nos quintais das casas) e ponha em cima da barriga dele...” Outra indignação, mas ele tinha dado a sua palavra e fez o que lhe mandaram. A mulher desapareceu, e, minha barrigona, meus pesadelos, minha doença intestinal, também! O dia amanheceu com o couro da barriga colado nas costelas, e, eu, com fome... Meus médicos ficaram de boca aberta, acreditando porque viram. E passaram a tratar, com mais fé e segurança, de minhas queimaduras, até que pudéssemos voltar a Teresina, onde os recursos médicos eram bem maiores que os do interior. Meu pai procurou por aquela “mulher do povo” enquanto pôde. Nunca a encontrou, nem ninguém que, dela, desse notícia. Ele não era religioso, mas, enquanto viveu e suas pernas deixaram, acompanhou a procissão de Corpus Christi, com minha mãe, que trouxe alegria, e a esperança, de volta pro nosso lar. Escrevo esse “causo” pra mim mesmo, e pra meus entes queridos. Nunca havia agradecido a meu pai por haver salvo a minha vida, nunca havia agradecido a ele e a mamãe a graça de estar vivo, ainda hoje. Sempre agradeci a Deus por fazer parte de sua criação, mas sei que a graça que tenho merecido Dele, é uma extensão de uma graça maior, pertencente à minha mãe, e que cobre a todos nós. Milagre? Conversa fiada, já chega de milagres, “provados e comprovados pela ‘Santa Madre Igreja’...”. O milagre que aconteceu comigo, e que acontece todos os dias, com todos nós, é aprendermos a viver, a gostar de viver, é enxergarmos o mundo, o próximo, e, através deles, enxergarmos Deus. Aí, sim, é um baita milagre! Este acontecimento serviu para que nunca me afastasse de Deus, por mais que pecasse,,por pensamentos, palavras e ações, contra Ele e contra o próximo! E pro meu processo de conversão, de catolicão pra católico praticante e militante
Posted on: Sun, 28 Jul 2013 15:59:45 +0000

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