Até agora nada escrevi ou postei sobre as manifestações porque acredito que minha opinião seja pouco relevante para maioria das pessoas, mas há duas questões que me levaram a este breve texto: um, o cerco inacreditável aos alunos da UFRJ na Faculdade Nacional de Direito e no IFCS; dois, a obrigação que um professor dessa mesma universidade, sobretudo de processo penal e prática penal, tem de se posicionar sobre o tema e os fatos. Não há dúvida de que a democracia representativa está em séria crise. É cristalino que as estruturas políticas ruíram, o clientelismo que já tomara o país desde época colonial se institucionalizou com o PT no poder e, exatamente por isso, o governo é alheio aos anseios da população. A corrupção é endêmica, o Congresso não vota e o executivo não se empenha em levar ao Parlamento as pautas mais importantes, como as reformas política e tributária. Enquanto isso a Câmara aprova na sua Comissão de maior relevo o bizarro e inaceitavelmente preconceituoso projeto para implementar a "cura gay". Os preços aumentam exponencialmente e o poder de compra da população só diminui. O aumento das passagens é apenas o estopim da cara de pau. Independentemente do cálculo do custo, o pior do aumento é ouvir o governo dizer que o Brasil é um país maravilhoso, que a gestão do PT melhorou a vida dos brasileiros, que "nunca antes na história desse país" se viveu um momento como esse, quando a nossa sensação é muito diversa e os investimentos se dirigem ao que não é necessidade premente da população. A presidente está em campanha desde 2010! O ponto central das manifestações é a inauguração de uma nova revolução. Sem tomada, a priori, direta de poder, mas com alteração da estrutura de tomada de decisão, ou seja, a população resolveu desfazer-se das amarras político-partidárias e cobrar atitudes específicas das autoridades. Em outras palavras, saímos da acomodação para cobrar que o sistema político deixe de lado seu autismo de conveniência. Trata-se de um movimento sem líderes, mas com inteligência, a qual não poderia partir de outro grupo a não ser a juventude, sobretudo os estudantes. É exatamente por isso que a atitude ditatorial da polícia militar de isolar a Faculdade Nacional de Direito e o IFCS, para efetuar a prisão dos alunos que lá se encontravam, não é aleatória e soa como uma tentativa de sufocar a inteligência do movimento. Quero registrar aos alunos da Faculdade Nacional de Direito e do IFCS, na condição de professor de processo penal e prática penal e também como advogado, que podem contar comigo em qualquer situação de dificuldade.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 20:04:15 +0000
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