BILHETE Num belo dia ELA, num desabafo relâmpago, escreveu - TopicsExpress



          

BILHETE Num belo dia ELA, num desabafo relâmpago, escreveu para ELE um bilhete, onde as palavras se despejavam assim: Estou farta de te procurar em toda esquina que dobro. Cansada de imaginar te ver em todo carro que passa. Você nem sequer atravessa a minha rua, não sabe parar no meu portão. Vou lembrar de não te perdoar por isso, por aquilo e por todo o resto do resto de nossas vidas que deixamos o futuro tomar de conta e levar pra bem longe de tudo o que um dia costumávamos ser. Um dia vou sentar à mesa da minha casa e no meu prato não vou sentir a fome do teu sal e do teu tempero, no meu copo não vou beber a sede do teu licor. Vou desfocar você na lente de longo alcance da minha paixão para perder a noção do teu rosto, teu corpo inteiro. Vou te transformar num vulto qualquer. Vou entornar todas as taças do mais tinto vinho até ver embriagada, trôpega e tombada na minha calçada a saudade que sinto de você. Vou entrar na contramão e errar o caminho que me leva à tua porta. Vou te machucar bem fundo pra sarar a ferida que você abriu nas minhas entranhas. Vou estancar o seu fluxo que corre alucinado nas veias do meu desejo. Você não vai mais ser, nem o último, nem o primeiro a chegar de viagem nos pensamentos que me visitam antes do bocejar do meu leito, lençol e travesseiro. Um dia vou esquecer de traduzir a tua língua, cartilha, boca e linguagem, não vou mais te ler, nem mesmo em braile. Nesse dia, a nossa foto sairá em preto e branco e estarei estampada e cega para que tudo a minha volta seja um imenso breu no instante infinito em que nossos olhares por acaso ousarem se cruzar. E tudo que é você em mim, todo o seu time e torcida, que juntos, em todas as partidas, teimosamente, brincavam no campo gramado da minha realidade, vão perder o jogo dos meus sentidos. A sua falta não vai mais preencher o meu placar. Fim do jogo, sinto muito. Vou quebrar a velha promessa jurada, meu olho no teu olho, de jamais te esquecer. Não vou lembrar mais de você, nem mesmo quando estiver no cruzamento de vias desconhecidas e o semáforo estiver vermelho pra mim. Quero apagar as cores do seu personagem nas páginas do meu romance de cabeceira. No lindo desenho que fiz, você vai virar o borrão incolor. Não quero mais que a minha dor seja você latejando na minha pele. Vou ampliar a lucidez do curto instante em que te odeio. Sua página no meu universo vai deixar de ser paisagem, seremos somente o pó de uma foto no fundo de uma gaveta muda. E quando chegar o dia em que vou fechar pra balanço, em que me esvaziarei dos seus olhos, cor, boca, pele, cheiro, alma e corpo inteiros; Nesse dia vou decretar feriado nacional no meu país. Vou de mala e cuia, em viagem de regresso para a minha terra natal. Decolarei sem escalas do seu território, sem lhe acenar um breve adeus. E ao desembarcar na estação, vou estar, corajosamente, à minha espera. Giovana Lorna
Posted on: Thu, 21 Nov 2013 20:35:24 +0000

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