CLASSE MÉDIA no alto do morro Moradores ‘do asfalto’ contam - TopicsExpress



          

CLASSE MÉDIA no alto do morro Moradores ‘do asfalto’ contam como decidiram morar nas favelas, empurrados pelos altos preços na cidade formal Rio - Foi há um ano. Apaixonado por Letícia e sem ter como pagar aluguel na Copacabana que aprendeu a amar junto com seus primeiros passos, Rogério Estelita Pessoa, 30 anos, olhou para cima e pensou alto: ia ‘subir o Tabajaras’ para ver o que encontraria lá. “Encontrei um ambiente família, um lugar calmo, tranquilo e o melhor: podia pagar o aluguel”, conta o instrutor de prancha a remo, que bate ponto no Posto Seis. Como ele, o Rio está subindo o morro, não só para comer e dançar, mas também para morar e até praticar esporte. Rogério é apenas mais um dos muitos cariocas de classe média que deixaram o preconceito de lado e aproveitam a onda de pacificação, que , se por um lado ajuda a integrar as favelas à cidade, por outro pode empurrar os moradores mais humildes para a periferia: os imóveis nestas áreas chegaram a ter uma alta de 150%. No Tabajaras que costumava ver todos os dias do asfalto — o instrutor morava na Rua Pompeu Loureiro com os pais —, ele come, paga o aluguel e aproveita para usufruir no lazer com sua esposa Letícia. Rogério Pessoa abre a porta de casa no Tabajaras: única queixa é com ratos que o encaram ‘no escadão’ Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia “Aqui vivo num quarto e sala, mas tenho uma laje maravilhosa”, diz, mostrando a escada — íngreme, a quase 75 graus —, para onde leva a equipe do jornal a fim de apreciar a vista. “Meus pais ficaram com receio, mesmo sendo a comunidade pacificada”, diz. “No começo, não gostaram muito da ideia. Mas hoje, tudo bem”. Os pais de Letícia não se incomodaram. “Meu sogro gosta de vir aqui”. Na Babilônia, vizinho ao Chapéu Mangueira, a vista do Leme, “imbatível”, hipnotizou o gaúcho Swami Barão, editor de imagens da TV Saúde, da Fiocruz. Subindo a ladeira até o fim da Ary Barroso todos os dias num mototáxi, Barão usufrui as benesses de morar na comunidade desde novembro, quando teve de deixar o conjugado em que vivia de frente para a Enseada de Botafogo. “A dona me apertou e o aluguel dobrou para R$ 1.600”, conta o gaúcho de Porto Alegre, há nove anos no Rio. “Quando vi a vista daqui, enlouqueci.” A ‘piração’ de Barão começou quando um amigo falou de um colega que construía na comunidade para alugar, de olho na Copa. E ele foi. PRECONCEITO ÀS AVESSAS José Mendes, o Zezinho, cabeleireiro de 51 anos, que aluga a Barão um dos seis quartos (R$ 800), com banheiro e cozinha coletivos, usa palavras para explicar o que o vaivém de caminhões cheios até a boca de material de construção explicitam: quem tem espaço, constrói. “Tem um monte de amigos fazendo o mesmo”. Barão admite que já se sentiu vítima de preconceito. Sabe que os moradores da comunidade olham com certa desconfiança para os ‘invasores’. Algo que a norueguesa Tanja Olsen nem se dá conta. Dona de um português fluente, moradora do Vidigal há um ano e meio, quando chegou ao Brasil, ela vive das aulas de inglês no Leblon. Mas se sente bem mesmo quando sobe o morro. “Aqui está o verdadeiro Brasil. No Leblon é tudo muito igual ao que vejo em Oslo”. Alguém duvida? Moradores reclamam da inflação A quarta-feira estava cinzenta e o Arvrão, ‘point’ no Vidigal, estava vazio. Mal a reportagem desceu as escadas para fotografar Tanja, vieram os comentários: “Fotografa a morena aqui pra fazer café com leite”, disse Marizangela Dutra. Pedido feito, pedido atendido. E cinco minutos depois, estavam as duas, mais a amiga Rosane de Souza, falando da convivência entre gringos e moradores. “Dá cultura ter eles aqui”, diz Marizangela. “Mas a vida ficou mais cara. Um quilo de batata está um roubo”. Tanja balança a cabeça. Diz que sente o mesmo. No bolso. “As pessoas pensam que somos ricos, mas pagamos o mesmo preço, temos as mesmas dificuldades.” MUITO LIXO A questão do lixo e a forma como os moradores lidam com ele está presente nas três comunidades que o DIA visitou. “É impressionante como os moradores jogam lixo no chão com naturalidade”, fala Tanja, que não consegue se acostumar. Na Babilônia — comunidade que assim como o Vidigal e o Tabajaras têm coleta regular de lixo — o problema se repete. Barão acredita que resolvê-lo é questão de conscientização. “Uma campanha ajudaria muito”. Enquanto a campanha não vem, Rogério Estelita sobe e desce as escadas que dão acesso á sua casa com pedras na mão. “Os ratos ficam parados, te olhando”, diz. “Daí, jogo as pedras e eles abrem caminho”.
Posted on: Mon, 08 Jul 2013 11:02:39 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015