COISAS DOS TEMPOS Um meu ex-professor da História de Arte (já - TopicsExpress



          

COISAS DOS TEMPOS Um meu ex-professor da História de Arte (já falecido há uma carrada de anos), entrou um dia na sala de aulas a debater-se com um dilema que partilhou com todos os seus alunos: tinha dois filhos na escola primária e um deles deu-lhe para roubar tudo aos colegas. Ele era as borrachas, ele era os lápis, ele era os afiadores, tudo se lhe colava às mãos e levava para casa. O outro, pelo contrário, era muito certinho e cumpridor do que os pais lhe ensinavam, respeitador a propriedade alheia e dos mais normativos familiares e sociais. E o dilema do professor era hesitar entre reprimir o filho ladrão ou incentivá-lo e amestrá-lo na melhor forma de ele surrupiar o que era dos outros, pois, dizia, com a ironia que o caracterizava, num "mundo de ladrões" vinga sempre o que melhor souber exercer o seu múnus. Estou certo que toda aquela ironia, a discorrer numa cadeira de História de Arte, ouvida por meia centena de alunos, era para nos colocar frente às artimanhas que vêm do princípio dos tempos. Mas estou certo que ele soube encaminhar o rebento, corrigindo aquela tendência tão instintiva e própria de certas crianças que é desde a dentada ao roubo nada falta e tudo vale. Ora, nos tempos que correm vem-me à memória tudo isto, a figura, a ironia e o alcance das palavras deste velho MESTRE. É só olhar em redor. Cá por mim, cada vez admiro mais os antigos salteadores nas encruzilhadas dos caminhos: "a bolsa ou a vida". Esses salteadores, ao menos, arriscavam-se a receber, não a a bolsa, mas uma resposta adequada ao atrevimento. Hoje, não. Somos assaltados, metem-nos as mãos ambas em quantos bolsos temos, sem nós podermos dar o troco merecido: ele é a gasolina, ele é a energia eléctrica, ele o IRS, ele é o selo automóvel, ele é as portagens, ele é o ROUBO das nossas pensões, ele é um rol infinito de abusos, sempre a sacar, sem que os salteadores arrisquem coisa nenhuma e sempre a remeterem a culpa para os outros, fazendo tal como toda e qualquer criança irresponsável faz no infantário ou na primária, apressando-se a desculpar-se: "não fui eu". Ao menos o filho do meu velho Mestre, chegava a casa e dizia aos progenitores: "hoje roubei uma borracha", olhando sobranceiramente o irmão por ele não ter roubado nada. Tá bonito, tá!
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 09:17:21 +0000

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