Caros companheiros Reynaldo Silva, Sandro Hilário, Samira - TopicsExpress



          

Caros companheiros Reynaldo Silva, Sandro Hilário, Samira Portugal, Nete Nascimento, Rose Costa, Joilson Toledo, Névio Fiorin, Alvaro Fernando Loureiro, Marcelo Almeida, Marcelo Muzi Silva, divulgo um texto de minha autoria em que analiso o mais importante pronunciamento (segundo minha percepção) do Papa aqui no Rio de Janeiro, após a missa de envio na JMJ. Podem compartilhar e emitir opiniões críticas. Abraços. Francisco e o episcopado no encontro com o Celam – algumas reflexões e um sonho: Em 28 de Julho último, após a missa celebrada na Praia de Copacabana, o Papa Francisco fez uma preleção aos bispos do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano). Sem dúvida nenhuma, em termos eclesiológicos, foi o momento mais significativo da sua visita ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, e este pronunciamento foi o mais contundente do início do seu pontificado. Com a simplicidade que lhe é característica, mas num tom sóbrio e sério, o bispo de Roma apresenta as linhas gerais de um projeto pastoral para a América Latina e Caribe. Mais do que isso, ele chama os bispos “às falas”, propõe uma conversão pastoral, reconhece limites na prática episcopal e aponta caminhos que indicam mudanças que podem ser significativas na ação eclesial em nosso continente. Esse texto se propõe a analisar esse discurso, que em certa medida traduz e sintetiza um pouco do significado da vinda do Papa ao Brasil, transcendendo a um momento de encontro com os jovens. Francisco anuncia em seu continente, na “grande Pátria Mãe” latino-americana, os rumos que pretende dar ao catolicismo. A análise deste que escreve, embora não seja teólogo, se dá a partir da sua própria experiência pastoral, do olhar de um cientista social e de um analista amador dos passos de Bergoglio desde sua chegada ao sólio de Pedro. Como o próprio Papa diz, não existe um ver asséptico, mas esse ver está condicionado a uma forma de olhar. Neste caso, quem olha o faz a partir da perspectiva da teologia da Libertação em seus aspectos mais gerais. Toda a fala do bispo de Roma parte do documento elaborado pelos bispos Latino-americanos por ocasião da V Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e Caribe, em 2007, no Santuário Nacional situado na cidade de Aparecida. A importância em citar este texto consiste em assumir uma proposta de organização eclesial que, em certo sentido, confirma a caminhada da Igreja latino-americana desde Medelín, baseada na opção preferencial pelos pobres e pelos jovens. Se considerarmos todo o processo de preparação para esta conferência, as intervenções da Cúria romana nos esquemas prévios, a escolha dos delegados, foi um verdadeiro milagre o fato do texto final deste encontro episcopal ter conservado aspectos que o colocam em sintonia com as assembleias anteriores. Isso se comprova com a manutenção do método ver-julgar-agir, da opção preferencial pelos pobres e pelos jovens, da valorização da comunidades eclesiais de base. Aqui, cabe considerar o papel importante que a comissão de redação final do documento teve, “salvando” a Conferência de Aparecida. Nela estavam o cardeal Hummes e o cardeal Bergoglio, que depois se tornou o Papa Francisco. Outro aspecto positivo que podemos relacionar com essa parte do discurso do Papa está relacionado ao resgate de um texto muito bonito e profundo de um texto do Concílio Vaticano II, o primeiro parágrafo da Gaudium et Spes. Trata-se de uma citação em Francisco estabelece uma relação direta entre as dores e angústias do mundo como sendo as dores e angústias dos cristãos, consequentemente da Igreja também. Não somente vincula diretamente sua fala á memória conciliar, validando-a para o atual momento da Igreja, o Pontífice a conecta diretamente com o documento de Aparecida sem fazer referência nenhuma às encíclicas de João Paulo II e de Bento XVI. Poderemos suspeitar de uma reorientação que se deseja imprimir ao catolicismo, no sentido de entender o papel da Igreja no contexto contemporâneo. Reforça essa tese o fato de Francisco insistir em olhar a realidade a partir de um olhar de discípulos de Jesus. Podemos inferir que essa forma de ver pressupõe também uma atitude de segmento de uma proposta, o Projeto do Reino. Esse discipulado somente se torna possível se for na perspectiva da missão. Trata-se então de um discipulado missionário, que juntamente com um processo franco e aberto de diálogo com o mundo, torna possível a conversão pastoral. E ela que permitirá uma mudança a fim de produzir uma renovação da estrutura interna da Igreja. É um elemento significativo, na medida em que aponta limitações na dinâmica de atuação da Igreja. Aqui, Francisco questiona acerca da participação plena e autônoma do laicato no processo pastoral e se os bispos de nosso continente tem clareza sobre como os leigos podem ser atores relevantes nessas mudanças. É positiva também a forma como o Papa aponta os riscos – que ele chama de tentações – para um caminho baseado no discipulado missionário. Primeiramente afirma, sinalizando uma mudança de atitude bastante significativa, que não se trata de sair caçando demônios por aí, mas de uma atitude de prudência. Em outras palavras, abre-se uma possiblidade de se colocar as coisas em discussão sem receios de punições e perseguições, coisa que foi muito corriqueira na vida Igreja latino-americana nos últimos trinta anos. Ao listar as tentações, Francisco colocou em perspectiva algo que a própria Teologia da Libertação sempre apontou como tentação a ser cuidada (o ativismo, o cuidado com a mística, o reducionismo - coisa que, aliás, somente aconteceu pontualmente há mais de 40 anos), e a colocou como a mais fácil de ser percebida e a colocou no mesmo nível do liberalismo. Essa ressalva sobre o marxismo nos remete a um artigo escrito mais ou menos 25 anos trás por Pedro de Oliveira. Em um livreto da equipe de assessoria do ISER (Estação de Seca na Igreja), quando chamava a atenção para a forma como algumas categorias marxistas foram subvertidas quando usadas em alguns textos vinculados a esta vertente teológica latino-americana. É aí que talvez entre a novidade relacionada a Teologia Latino-americana. Ela coloca outro absoluto como condição e ponto de partida para a evangelização, a figura do pobre – visto aqui como um aspecto da Revelação fundamental para se concretizar o Projeto de Deus. Não há nada mais absoluto na condição humana que a pobreza. Superá-la é possibilitar a pessoa experimentar a plenitude de suas capacidades, condição para um mundo mais humano, solidário e justo. Nisso, Francisco confirma o caráter libertador da ação da Igreja: O discípulo missionário não deve estar no centro, mas sim nas periferias da existência. Como não deixar de lembrar, neste apelo do bispo de Roma, de dom Paulo Evaristo Arns, dom Pedro Casáldaliga, dom Hélder, dom José Gomes, dom Antônio Fragoso, dom Adriano Hipólito, dom Luciano Mendes de Almeida.?... É impossível se esquecer dos mártires da caminhada, das Ceb`s, da Pastoral da Juventude, da CPT, da Pastoral do Menor, da Pastoral das Favelas e de tantos e tantas que já exercem esse apostolado missionário nas periferias mundo afora, em nome da fé. Mais recentemente Jon Sobriño (em uma entrevista), Frei Betto e principalmente Leonardo Boff chamaram a atenção para esse risco e disseram que a Teologia da Libertação é evangélica e não marxista. Isso confere tranquilidade para refutar o que vem sendo escrito sobre esse discurso na grande imprensa, sobretudo nos “jornalões” (Estadão em primeiro lugar, depois o Globo e Folha). Este argumento é comprovado quando o Papa diz (e somente na transmissão da televisão percebemos isso, pois não está no discurso que foi publicado na internet – As reações do papa ao próprio texto) que o que mais o assusta em termos de ideologização da fé é o Pelagianismo. É um nome muito feliz que ele usa - pois se remete aos primórdios do cristianismo - para se referir ao integrismo restauracionista. Quando ele diz que o que mais o preocupa é o clericalismo. O Pelagianismo associado com o clericalismo (e mais o carreirismo, é possível acrescentar) denunciados por Francisco são a quintessência da cúpula eclesiástica de várias (arqui)dioceses importantes que conhecemos, ainda que tenhamos exceções, como o é Dom Orani Tempesta (para citar alguém envolvido diretamente com a JMJ) De toda a forma, esse pessoal todo deve ter ficado bem incomodado com o Papa. Ao vivo, Francisco disse textualmente que o fundamentalismo católico é aquilo que mais o assusta. O Pontífice conta um caso ocorrido na arquidiocese de Buenos Aires em que ele mesmo teve que intervir. Mais a frente, diz que o funcionalismo (no leque de tentações) é o mais preocupante, uma vez que reduz a Igreja a um modelo empresarial, a partir de certas formas de teologia da prosperidade. Aliás, é o que se vê de forma muito nítida em certos movimentos intimistas, sobretudo em uma dada emissora católica de televisão. Ao final de sua fala, o Santo Padre discorre sobre o perfil do bispo, critica a mentalidade de príncipe, exorta-os a uma vida simples e critica (isso só percebemos na transmissão da TV, porque ele faz uma ironia em forma de piada) os bispos polígamos, pois são esposos de uma igreja particular (diocese) e já olham para outra igreja particular, maior, pensando (e o Papa quase soletrou isso) na PRO-MO-ÇÃO. O Papa Francisco tá preocupado com quem faz a Igreja se parecer uma ONG e com quem quer restaurar um modelo eclesial anacrônico e fez uma séria advertência aos bispos sobre esses tipos de posturas. Mais ainda, refuta a atitude principesca de muitos prelados, critica o carreirismo. Ao listar um perfil ideal de bispo, Sua Santidade talvez tenha indicado uma mudança no perfil das nomeações episcopais em nosso continente. A conferir... Concluindo, esse pronunciamento papal talvez seja a mais evidente carta de intenções que o bispo de Roma apresenta ao mundo. No entanto, achar que ele vai se filiar a uma perspectiva dita progressista é superestimar esse início de pontificado. Não se podem esquecer as resistências que Francisco já deve sofrer em Roma. E também não dá pra ignorar que o que está sendo proposto é uma reforma, mas não uma ruptura com um modelo institucional baseado em um poder absolutista. Quiçá tenhamos, neste pontificado, um primeiro movimento consistente de um jogo de xadrez dificílimo que nos leve posteriormente a um futuro bispo de Roma que possa aprofundar as ações de Francisco. Ao fazer isso, que se realize uma ruptura tal qual aos moldes daquela que certa vez dom Hélder Câmara sugeriu ao seu amigo Giovanni Battista Montini, o Papa Paulo VI. O “Dom” lhe disse que saísse do Vaticano, que o transformasse em um grande museu. E que fosse viver numa paróquia na periferia de Roma...
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 05:22:02 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015