Carta aberta à população do Rio Grande do Norte Existem - TopicsExpress



          

Carta aberta à população do Rio Grande do Norte Existem momentos em que aguardar uma resposta institucional não basta. Toda vez que a mentira, a falta de ética, a ganância excessiva e o poder do dinheiro começam a afrontar insistentemente a sociedade é preciso que os cidadãos se manifestem previamente às instituições. Este momento é um deles. É por isso que nós, analistas ambientais, agentes de fiscalização e servidores do Ibama abaixo-assinados, resolvemos nos pronunciar diante dos ataques promovidos pelo Novo Jornal à atuação de nosso órgão no RN. Não se trata apenas de uma tentativa de restaurar a verdade, mas de impedir que a mentira se alastre e confunda a população, a imprensa séria e as autoridades. Desde maio último o Ibama vem sendo alvo de críticas do Novo Jornal. Isso não é nem nunca foi novidade, já que a natureza das atividades do órgão sempre geram conflitos. Assim, as críticas feitas por esse jornal ou qualquer outro veículo de comunicação nunca nos abalaram ou foram tomadas como ameaças. De modo algum. Compreendemos que fazem parte do jogo democrático e da saudável vigilância da imprensa sobre os órgãos públicos. Mas a partir da edição de 19 de maio o Novo Jornal esqueceu-se dos propósitos e das práticas do bom jornalismo e, encabeçando as queixas de alguns setores empresariais, atribuiu ao Ibama a responsabilidade por atrasos no crescimento da economia potiguar. Alegando a existência de um documento intitulado “Relatório Ibama”, produzido por cinco importantes segmentos da economia potiguar, o Novo Jornal lastreou uma série de reportagens bastante depreciativas ao órgão. Dizia a edição de 19 de maio que a atuação do Ibama no RN nos últimos dez anos impediu o investimento de mais de R$ 11 bilhões na economia do estado, além de ter bloqueado a geração de cerca de 50 mil empregos. Ainda segundo o jornal, o Ibama é uma das entidades mais odiadas pelos empreendedores locais. E o causador desse “ódio” seria um de nossos mais competentes e sérios colegas, “uma espécie de eminência parda”, frisava a publicação, que extrapolaria suas atribuições e provocaria tanto cizânias com os colegas servidores quanto irregularidades administrativas. Outras matérias prosseguiram nessa linha de entendimento de que o Ibama causa atrasos ao estado e age com abuso de autoridade, indo além do que lhe cabe, autuando e embargando empreendimentos sem cobertura legal. Ocorre que o propalado “Relatório Ibama”, peça fundamental para alavancar as matérias do jornal, nunca foi franqueado ao principal acusado, o próprio Ibama. Embora solicitado pela assessoria de comunicação, para que a leitura aos termos do documento fosse realizada, o jornal sempre escusou-se de exibi-lo. Inicialmente, a escusa era de que só dispunham de uma cópia. Propusemos, então, pagar por uma cópia extra e ir retirá-lo na própria redação do Novo Jornal. O pleito foi recusado. Em seguida, o jornal passou a argumentar que ceder uma cópia seria quebrar o sigilo da fonte – mesmo que nunca tivéssemos demonstrado qualquer interesse na autoria, e sim na íntegra do conteúdo. Deliberadamente o Novo Jornal fundava assim, no RN, o “jornalismo kafkiano”, aquele que acusa mas não mostra a peça de acusação. Diante desse quadro é natural que a assessoria de comunicação do Ibama orientasse a direção do órgão a não comentar o assunto, uma vez que tinha todas as características de um factóide urdido unicamente para viabilizar as queixas dos empresários autuados pelo Ibama. E é natural também que acionasse a divisão jurídica para que, através da Justiça, obtivesse uma cópia do citado “Relatório Ibama” e assim pudesse responder detalhada e adequadamente a todas as queixas levantadas pelos cinco setores empresariais. Se o tal documento acusatório existia – e o jornal alardeou isso amplamente – nada mais justo que o acusado tomasse conhecimento de seu texto original. Esse foi também o entendimento da Justiça Federal que, através do juiz Magnus Delgado, determinou ao Novo Jornal que entregasse uma cópia do suposto relatório e concedesse igual espaço, inclusive na primeira página, para que o Ibama respondesse às acusações sofridas. Mas o Novo Jornal não cumpriu a decisão judicial: preferiu recorrer e, numa inversão de valores escandalosa, lançou novas acusações contra o Ibama afirmando que o órgão cerceia a imprensa, impõe censura, desrespeita o direito à manifestação do pensamento. Chegou a dizer que a decisão judicial “abre um perigoso precedente contra a liberdade de imprensa no país”. E com essa argumentação invertida – afinal, quem cerceou direitos e informações foi o próprio Novo Jornal - foi granjear apoios entre suas fontes empresariais, parlamentares, associações de classe e alguns poucos jornalistas que, incautos, sem conhecer os detalhes dos fatos, defenderam a artimanha. Como pano de fundo – insólito e cínico – tentou criar uma atmosfera de medo, apoiada na argumentação de que o Ibama busca ferir o sagrado direito da liberdade de imprensa. Nesse clima, as acusações levianas contra o Ibama prosseguiram e devem prosseguir ainda por mais alguns dias. O Novo Jornal encontra-se enredado no artifício que criou – o “Relatório Ibama” – e, para não cumprir a decisão judicial que removeria a máscara da falcatrua jornalística, afirma estar publicando diariamente, em reportagens seriadas, o conteúdo do referido documento. Está claro que o Novo Jornal não quer revelar o “Relatório Ibama” porque, muito provavelmente, esse documento nunca existiu. Ou teve uma redação arbitrária, forjada unicamente para criar um “gancho” jornalístico que viabilizasse os ataques ao Ibama. Como a Justiça se convenceu de haver fumus boni iuris, a fumaça do bom direito, deu ganho de causa ao Ibama. Na verdade, deu ganho de causa ao direito da sociedade de saber da existência do relatório e também do posicionamento do órgão de meio ambiente sobre o assunto. Assim, só restou ao Novo Jornal prosseguir na mentira, aumentando o tom dos ataques e invocando rotamente os sagrados direitos da liberdade de expressão e da manutenção do sigilo da fonte. Tudo para tentar intimidar e confundir autoridades judiciais que poderão, em instâncias superiores, derrubar a decisão que deu ao Ibama o direito de se defender do “jornalismo kafkiano”. Nos referimos aqui, várias vezes, ao Novo Jornal, como se esse veículo tivesse o condão de produzir por si só mentiras e induzir, população e autoridades, a um mau entendimento sobre o Ibama. Mas sabemos que quem faz um jornal são os jornalistas. De antemão pedimos vênia, então, aos inúmeros bons jornalistas que atuam no Novo Jornal – e temos certeza de que são muitos – para que não tomem nossas palavras contra si. Cremos que eles também devem estar se sentindo envergonhados pelas páginas acintosas que seu jornal vem produzindo. Somos, portanto, solidários a esses trabalhadores que empenham seus esforços pela ética na lida diária com a comunicação. Voltamos, sim, nossa mensagem à direção do Novo Jornal, aos mentores desse jornalismo deslavado e falacioso, para dizer que os tempos do coronelismo já se foram. Suas velhas práticas, autoritárias, arrogantes, tão moralistas quanto cínicas, já não surtem mais efeito. Em nosso trabalho como servidores do Ibama o dinheiro não nos seduz, o poder não nos corrompe, o mau jornalismo não nos intimida. Conosco, o “você sabe com quem está falando?” não funciona. Por isso, não compactuamos em nenhuma hipótese com o teor das últimas edições do Novo Jornal que conferem ao Ibama essa mesma aura ditatorial, de querer usurpar o poder da imprensa, de devassar sigilos, de usar de forma espúria a Justiça para impor opiniões. Da mesma forma, não compactuamos com a ideia de que o Ibama trava investimentos no estado ou age discricionariamente. Não afugentamos ou impedimos negócios ambientalmente corretos no RN. Podemos ter impedido – isso sim – negociatas ou especulações feitas à custa da paisagem, dos recursos naturais e da opressão de comunidades carentes de nosso estado. Mas nem fomos nós quem impediu: foi a lei. Porque temos lei em nosso país, senhores diretores do Novo Jornal. E norteados pela lei é que agimos. A pressão dos interesses escusos, seja de quem for, não nos suplantará. Endossamos aqui as palavras da Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, proferidas durante o evento “Motores do Desenvolvimento” e publicadas no caderno especial da Tribuna do Norte em 25 de agosto passado: Repórter: Os empresários reclamam muito da atuação do Ibama na liberação de licenças. Como a senhora avalia isso? Ministra Izabella Teixeira: É uma pena. Não vai ter liberação. Os empresários querem ocupar dunas, áreas de preservação permanente, ser contra a lei e eles não querem ter licença ambiental adequada. Se regularizem perante a lei e o Ibama vai trabalhar junto com eles sem nenhum problema. O recado é claro: os tempos do coronelismo já se foram. Se algum dia, sabe-se lá por que razão, o Ibama no RN foi dócil, hoje não somos nem dóceis nem amargos. Somos servidores públicos cumprindo a lei e assim continuaremos sendo, nem que seja necessário empenhar nossas vidas para isso. E que a mão pesada da Justiça se faça sentir se nos desviarmos desse caminho. Por isso, senhores diretores do Novo Jornal, não toleramos mais suas acusações e mentiras. Exigimos que restaurem em suas páginas o bom jornalismo. Não envergonhem mais seus pares, não enganem mais a sociedade do Rio Grande do Norte, não tentem intimidar o Poder Judiciário. A crítica será sempre bem-vinda, dissemos isso já no começo de nossa carta. Mas a falta de ética, a mentira e as tentativas de intimidação serão sempre escorraçadas. Não temos medo e não temos preço. Os tempos, agora, são outros. Natal, 02 de setembro de 2013 Os analistas ambientais, agentes de fiscalização e servidores do Ibama RN abaixoassinados: Airton De Grande Alexandre Rochinski Alvamar Costa de Queiroz Carlos Alberto de Oliveira Carlos Montevaldo Ricarte Cardoso Claudius Monte de Sena Edilson Ribeiro de Andrade Edmilson Ramos Fabíola Patrícia da Silva Rufino Francisco Gilvanis Praxedes Frederico Fonseca Galvão de Oliveira Frederico Moreira Osório Genildo Henrique da Silva Iana Carmen de Souza e Silva Ivanildo Clementino da Fonseca Jean Franco Schmitt Juliana Ramos Zagaglia Jussara da Câmara Mariz Liliana Lincka Luiz Eduardo Carvalho Bonilha Marcelo Gomes de Lira Marcos Brainer Marlova Intini Mizael Rodrigues de Menezes Neusa Donizete Melin Nakamura Pedro Luiz Ribeiro dos Santos Ridalvo Batista de Araújo Robson Lopes de Santana Ronaldo Douglas Pereira do Rego Tiago Saulo Freire Costa Walber Feijó Wellington Guedes Ferreira Zenildo Augusto de Lima * O documento original, com as devidas firmas, encontra-se no prédio da Superintendência do Ibama no RN.
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 15:25:01 +0000

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