Carta de Marques da Costa para a AIT, em 1924, denunciando a - TopicsExpress



          

Carta de Marques da Costa para a AIT, em 1924, denunciando a infiltração de falsos comunistas (bolchevistas), aliados a repressão patronal-policial para destruir a Federação Operária do Rio de Janeiro 1924, Rio de Janeiro, 8 de maio. Prezado Camarada D. Abad de Santillán: O fato de o nosso camarada Domingos Passos (secretário adjunto da Federação Operária do Rio de Janeiro) me mostrar hoje vossa última carta, na qual referis ao Segundo Congresso da AIT e nos concitais a tomar parte nesse importante certame internacional, fez com que eu me decidisse a escrever-vos estas linhas, que eu desejo marquem o início duma troca de correspondência tão constante quanto espontânea e, por isso mesmo, útil à nossa obra de relações e propaganda revolucionária. Conheço-vos desde há muito, através das crônicas e dos brilhantes artigos que enviais a La Protesta, de que sou leitor constante há mais de três anos; e quando soube que havias sido eleito membro do Secretariado da AIT folguei imenso e esperei desde logo poder entrar em relações diretas com o Secretariado, para apressar a conclusão da obra que havíamos iniciado contra os poucos elementos bolchevistas que desde 1922 começaram a minar a velha Federação Operária do Rio de Janeiro . Os meus afazeres, porém, não me deram tempo nunca – e isto desde há oito longos anos!– travar e manter relações com todos aqueles de cujo contato eu desejaria não me afastar jamais! Tenho feito, não obstante, o que hei podido realizar. A FORJ é hoje a mais categórica afirmação do espírito revolucionário – e das tendências caracteristicamente libertárias – dos trabalhadores do Brasil! De nada valeu a campanha divisionista dos falsos comunistas. A atitude decisiva da União dos Operários em Construção Civil, corajosamente secundada pela Aliança dos Operários em Calçados, União Geral dos Trabalhadores em Hotéis Restaurantes e Similares, U G dos Metalúrgicos e outros sindicatos foi o tiro de morte nas pretensões centralizadoras e ditatoriais dos moscovizados. Mantendo a integridade revolucionária do sindicalismo, que desde o primeiro ao terceiro Congresso Operário (1906-1913-1920) foi interpretado e praticado, no Brasil, segundo a concepção que dele têm os anarquistas, a FORJ estava naturalmente destinada a constituir o expoente que hoje é da organização revolucionária dos trabalhadores daqui. Desenha-se agora, no horizonte sindicalista que vinha sendo turvado de nuvens pesadas como chumbo, como que uma nova aurora. E se conseguirmos realizar, como desejamos as duas coisas a que vamos nos votar de corpo e alma, breve poderemos assinalar a completa vitória dos nossos ideais, que esperamos ver triunfar por sobre todas as campanhas do derrotismo e da desmoralização dos estipendiados por Moscóvia. Essas iniciativas, de cujo êxito depende por assim dizer o mediato renascimento da nossa hoje desfalecida COB , são: (1º) uma conferência intersindical –Ou talvez regional– com representação dos sindicatos revolucionários do Rio de Janeiro (Distrito Federal), e do Estado do Rio, Estado de São Paulo, Estado de Minas Gerais e Estado do Espírito Santo; (2º) a representação dos sindicatos revolucionários do Brasil (e contamos como vós mesmos contais, com os do Estado do Rio Grande do Sul e outros, como Pará, Amazonas, etc.) no segundo Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores; e como complemento dessas iniciativas: a realização do nosso quarto congresso nacional. Tudo depende da vontade e da energia dos elementos anarquistas que, apesar da indiferença das massas e do crapulismo dos trânsfugas, nãodeixaram o seu lugar às “moscas” do capitalismo e do oportunismo. E eu tenho as mais seguras esperanças havemos de triunfar. Veremos... Ia terminar já esta carta (?) quando me ocorreu à ideia de vos remeter alguns exemplares de “A Pátria”, onde trabalho como redator-operário. E vou mandar-vos esses exemplares. Vereis por eles, na “Seção Trabalhista”, o que vai por estas terras brasilienses... A organização operária não tem, infelizmente, podido manter o seu jornal A Voz do Povo, que não sei se chegastes a ler alguma vez; era um diário que prestava ótimos serviços à propaganda e organização revolucionária, mas morreu, caiu desastradamente nas mãos daqueles tipos que mais tarde haviam de fugir miseravelmente para as fileiras do comunismo russo, provocando o divisionismo no seio da aludida Federação dos Trabalhadores. Ao abandonar este organismo, nas condições que também já referi em linhas acima, a União dos Operários em Construção Civil – à qual pertenço – fundou um semanário – O Trabalho -, que foi proibido de circular depois de apreendido pela polícia, em pleno estado de sitio (que durou 18 longos meses de terríveis perseguições!), - o fecho de ouro do governo Epitácio Pessoa, contra quem se deu a insurreição militar de julho de 22. [sic]. Fundada a FORJ, quando tudo parecia demonstrar que o país caminhava para um período de paz, de política e de governo menos reacionário, foi ainda a Construção Civil que sugeriu a ideia de fazer circular O Trabalho, sob os auspícios e como órgão da Federação Operária do Rio de Janeiro. Não tínhamos, porém, o que mais precisávamos: oficinas. Recorremos por isso aos prelos burgueses. Estava tudo pronto para que o nosso jornal circulasse aos ventos da propaganda, quando novo obstáculo surgiu. Havia sido arrancada dos arquivos do Senado Federal um dos mais monstruosos projetos de lei contra a liberdade de pensamento: a lei de imprensa. E foi discutida e votada rapidamente, só nos sendo possível publicar o quinto número – primeiro da nova fase -, que foi por assim dizer o último lampejo duma esperança que iluminava o grande esforço que se esvaiu. Mandar-vos-ei também uma coleção de O Trabalho. Agora, felizmente, a nossa teimosia, a nossa intransigência, a nossa tenacidade, para não dizer a nossa vontade e atividade invencíveis, parece terem criado um novo ambiente, novas esperanças... Tem sido na “Seção Trabalhista” de A Pátria que a nossa obra tem se realizado. Nela eu tenho publicado, desde há dezesseis meses que aqui estou (sem deixar minha profissão, que é de carpinteiro), tenho feito todas as nossas publicações, realizando todas as nossas campanhas. É na A Pátria que eu tenho – que nós temos os anarquistas do Rio de Janeiro – feito toda a propaganda da AIT. E por isso eu peço-vos que mandeis, dirigida ao meu nome do Serviço de Imprensa da AIT circulares, boletins, etc., etc., de tudo vos peço a remessas de um exemplar. E basta por a gora. Crede-me camarada e amigo certo. Marques da Costa O meu endereço: Marques da Costa 31 – Rua Chile – 31 (Redação de A Pátria) Rio de Janeiro – Brasil Carta manuscrita de Marques da Costa a Abad de Santillan. Brasil, 1924. Rio de Janeiro, 8 de maio, 9 p. Arquivo Abad de Santillan, Korrespondenz, 1924.(IISG). Adolfo Marques da Costa “....era um dos dirigentes da União dos Operários em Construção Civil, no Rio de Janeiro. Colaborou no jornal A Plebe, foi editor de O Trabalho e de outros jornais. De naturalidade portuguesa, foi preso, com outros militantes, em 7 de julho de 1924 e deportado para Lisboa”. In Pinheiro, Paulo Sérgio. Michael M. Hall A Classe Operária no Brasil1889 – 1930 documentos Volume 1 – O Movimento Operário São Paulo: Editora Alfa – Omega, 1981. Pesquisado por Pietro (boletim operário).
Posted on: Wed, 25 Sep 2013 21:28:30 +0000

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