Como todo brasileiro, tenho um estilo de dirigir descolado, as - TopicsExpress



          

Como todo brasileiro, tenho um estilo de dirigir descolado, as leis são interpretativas, e eu sempre sei mais do que o vizinho. Muito ágil que sou, não suporto enrolação, gente que para em fila dupla, ou que vai muito devagar. Estão no topo da minha lista negra aqueles que andam bem devagarinho na minha frente até o sinal ficar amarelo. Aí eles aceleram, passam o sinal na hora “H” e me deixam com cara de pateta no vermelho. Ai que óóóódio!!!!! Tem os que acham que dar o pisca-pisca não é apenas um aviso de que você está querendo virar o carro para um lado ou para outro, mas um salvo conduto para cortar na sua frente. É claro que, se eu buzino e não dou passagem, repleta de razão, eles me olham com uma cara abestalhada e dizem “mas eu dei o pisca”. E aqueles que passam a vinte por hora na lombada eletrônica, sendo que o limite especificado é de 50km/h? Sim, porque, segundo esses gênios, “é tudo armação do Detran”. A placa é de cinqüenta, mas na verdade é só uma pegadinha porque o limite é quarenta e “eles” querem te multar para ganhar mais dinheiro. Mesmo sem saber direito quem são “eles”. O Detran? O Governo? Paranoia é que não falta no trânsito. Assim como “eles” estão sempre aí para te pegar, as leis nasceram para serem interpretadas. Elas existem para poder te multar melhor, ainda mais se tem um “amarelinho” na esquina. As leis são passíveis de análise. É claro que só estamos falando das leis que “pegaram”, como, por exemplo, parar em fila dupla e usar o cinto de segurança. Aquelas que não pegaram, como, por exemplo, aquela… Ou aquela outra… Bem, sei lá, não importa, elas não pegaram, mesmo. Mas voltando à “interpretabilidade” das leis, e a minha clara capacidade de interpretar as leis melhor do que qualquer outro motorista, vejam estes exemplos: se o imbecil do táxi para em fila dupla para uma velhinha, ele é um cretino e merece buzina na fuça, mas se eu preciso ir ali no prédio da minha tia pegar um negocinho com o porteiro, um segundinho só, tudo bem parar no meio da rua. Afinal, é só por um segundo. Ou se o idiota na minha frente fizer uma conversão proibida em baixo da placa de “proibido virar à esquerda” ele é um filho de uma égua castrada. Mas se eu preciso ir a um jantar na casa de minha mãe, já estou atrasada e não tenho tempo de dar tooooda volta no quarteirão, então a placa de “proibido virar à esquerda” está ali só como sugestão. Afinal, eu sou uma cidadã consciente e sei quando estou atrapalhando o trânsito e quando não. Acredito que já deu para perceber que não me considero má motorista. Ouso até dizer que sou bem hábil ao volante. Tanto é que me vejo no direito de xingar muito. Esbravejar, chamar os outros de burros, idiotas, energúmenos, buzinar e dar finas. – Que imbecil! – vocifero para meu co-piloto imaginário, aquele que está sempre lá para me dar razão em momentos de estresse automobilístico. E, lógico, para meu co-piloto, eu estou sempre certa. É verdade que sou distraída, muito. Afinal sou uma mulher trabalhadora, dona de casa ocupada cheia de responsabilidades, afazeres e listas mentais. E quer lugar melhor para verificar as listas mentais e ticar os itens cumpridos além o carro? Vejam bem, eu sou filha da mulher que se maquiava no espelho retrovisor com o carro andando, portanto, acredito que constituo uma bela evolução. Dito tudo isso, nas raras vezes em que me distraio e faço barbeiragens, aceito que me xinguem e gritem comigo. É claro que, educadamente, também sempre respondo com uma carranca e outra xingada em alto e bom som. Mesmo se estiver completamente sem razão. Afinal, etiqueta do trânsito é para ser respeitada. A única coisa que me deixa completamente aflita, angustiada e transtornada é a “cabecinha”. Aquela em que o sujeito (ou a sujeita) te olha, dá uma risadinha e balança a cabeça como quem diz “muito bem, sua idiota”. Como responder a uma agressão tão passiva? Afinal eles só estão sorrindo e dizendo que sim ou que não com a cabeça?! Com um ar de superioridade que me desarma completamente. Nesse caso começo a perceber a idiotice que fiz e minha vontade é de ir lá e contar para eles que eu sou uma boa motorista. Dizer que eu sou ótima pessoa e que minha família e meus amigos me amam. – Por favor, seu motorista, eu sou legal, sou muito boa pessoa! Mas é tarde demais, e eles já foram embora, carregando consigo toda a razão do mundo. Autora:Alessandra Blocker.
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 14:24:58 +0000

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