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Crítica a formação no ensino superior – posicionamento do Fórum de Executiva e Federações de Curso Partimos do pressuposto que existem concepções antagônicas de formação, consequentemente estarão em disputa. Defendemos a formação humana, propondo que ela não deve ser limitada a formação profissional, pois compreendemos que a constituição do homem enquanto sujeito histórico parte de diversas dimensões - política, cultural, filosófica, técnica - que se relacionam dialeticamente e constituem uma totalidade como humanidade. Enquanto ser genérico, sujeito histórico, o homem é ser que possui múltiplas potencialidades a serem desenvolvidas, sejam elas no campo profissional, no campo das artes e cultura, no campo da política, enfim em diversas dimensões que podemos pensar que nos constituem como seres humanos. Ao falarmos de formação no ensino superior, não podemos cair no recorrente erro de também olhar para o ser humano de forma fragmentada, somente a partir do viés profissional. Na sociedade capitalista, a contradição trabalho x capital esconde esse debate. Superficialmente não identificamos mais o ser humano como ser de múltiplas potencialidades. A educação em geral e a formação superior reforçam e partem disso, pois estão imersas na lógica capitalista que insiste em nos distanciar de nossa essência. Vivemos numa sociedade capitalista, que tem como um dos seus pilares a desigualdade social, os indivíduos não partem de condições iguais para forjar sua existência. No modo de produção capitalista tudo vira mercadoria, nossa força de trabalho é vendida, tratamos os seres humanos como seres capazes de vender sua força de trabalho e para isso é necessário formar sujeitos que atuem nessa realidade desigual. A educação enquanto um fenômeno social sofrerá influências diretas e indiretas da sociedade de classes e servirá para atender aos objetivos daqueles que dominam os meios de produção. Essa caracterização é essencial para compreendermos que a formação está vinculada com a sociedade e que não alcançaremos uma formação emancipatória, transformadora por completo, numa sociedade capitalista. Nosso papel é trazer elementos críticos, organizar a luta em defesa de uma educação de qualidade, de uma formação omnilateral, que supere os problemas que apresentamos, mas sempre vinculada a uma luta mais geral, de transformação social. Caracterizamos o modo de produção que organiza nossa vida e estabelecemos o neoliberalismo como uma reação teórico e política dos anos 40 e implementada a partir da crise do Petróleo na década de 70. O ideário neoliberal propõe um Estado Mínimo, ou seja, cada vez menos intervenção do Estado na economia, na política, mas verificamos que essa ideia é contraditória, pois vemos que o Estado é mínimo para os direitos sociais e máximo para o capital. Grande exemplo disso é injeção de dinheiro para bancos e grandes empresas saírem de suas crises e o corte de verbas para a educação pública, falta de investimento na saúde pública, etc. Compreendemos, a partir de Harvey (2004), que uma das formas do capital acumular atualmente é através da despossessão - acumulação através de privatizações, reformas do Estado, retirando direitos da classe trabalhadora, principalmente no campo dos direitos sociais e humanos. O neoliberalismo no Brasil vem em contraposição ao desenvolvimentismo da década anterior - esse ideário surge em contraposição ao estado de bem-estar social que ocorreu na Europa - com Collor, FHC com a Reforma do Estado em 1995, e intensificada por Lula/Dilma/PT. Partimos da reestruturação do mundo do trabalho para atender ao ideário neoliberal, sendo necessário formar um trabalhador flexível. A lógica do capital é destrutiva, sendo assim a educação passará por um processo de precarização, de privatização, pois necessita (de) formar trabalhadores sob a perspectiva de distanciamento do ser humano de sua ontologia - o Trabalho. Se precisamos formar um trabalhador flexível que atenda as demandas do mercado de trabalho e até mesmo que tenhamos trabalhadores qualificados desempregados, se implementamos uma reforma do Estado será necessário mexer na Educação. A partir da reforma do Estado de 1995, cria-se Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) que indica a criação de um Plano Nacional de Educação (PNE), que previu a extinção dos currículos mínimos e criação de novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de ensino superior. Na formação pelos currículos mínimos tínhamos grades fechadas, um currículo mínimo padrão para todo o país, que deveria ser seguido para que o curso fosse reconhecido pelos órgãos nacionais. Essa forma já não estava servindo para as necessidades de formação de trabalhadores no país, pois eram estruturas fechadas e não maleáveis as demandas do mercado, então a partir da lógica de acumulação do capital e das reestruturações produtivas também precisa-se alterar a formação dos trabalhadores para superar as crises, se o mundo do trabalho necessita de transformações, a educação também passará por processos de reformas e adequações a essas necessidades. A partir de novas DCN possibilita-se maior flexibilidade, pois elas são orientações a serem seguidas, logo, mais fácil de serem flexibilizadas e de serem postas a serviço do mercado. As novas DCN dão maior flexibilidade para os currículos, e partem de uma perspectiva de formação a partir da pedagogia das competências, é onde se intensifica a divisão curricular entre licenciatura e bacharelado. A lógica é formar capital humano (homem + educação). Para a teoria do capital humano a educação é como um investimento, então é necessário ter determinadas habilidades e competências para atingir determinado grau de desenvolvimento, para vender melhor a sua força de trabalho. Essa teoria não compreende o homem enquanto um sujeito histórico que deve ter acesso à gama de conhecimentos produzidos historicamente, ter acesso à ciência, a cultural, a tecnologia, mas sim um sujeito que deva saber o mínimo necessário ou se especializar em determinada área, não tendo a noção de totalidade. A tendência para além dessa fragmentação são os bacharéis interdisplinares, que já existem na UFBA desde 2009, são cursos rápidos de dois a três anos, esses cursos formam para “nada”, são eles: humanidades, saúde, artes, ciência e tecnologia. Após cursar um desses cursos, o estudante deverá passar por novo processo seletivo, esse diploma em bacharel interdisciplinar habilita o estudante a seguir os estudos e após ser aprovado em nova seleção, no chamado Curso de Progressão Linear, prepara o sujeito a um trabalho flexível e desregulamentado, além de colocar mais um empecilho para a sua chegada no mundo do trabalho. A partir dessa contextualização, iremos elencar alguns problemas que verificamos nos cursos de formação no ensino superior, compreendendo que esses problemas estão relacionados e somente por uma forma metodológica iremos separa-los: a) Fragmentação do Conhecimento/Formação unilateral - os bacharelados e as licenciaturas, os bacharelados interdisciplinares, os cursos de formação que caracterizam uma especialização precoce e uma fragmentação do conhecimento. A formação unilateral, pauta somente no viés profissional, excluindo as diversas dimensões da formação humana; b) Desarticulação entre teoria e prática – muita teoria e a prática somente no final do curso através dos estágios obrigatórios, tornando o curso distante da realidade social que iremos encontrar quando nos formarmos; c) Falta de aplicabilidade dos conhecimentos tratados – por estarmos distantes da realidade, tempos um contato limitado com o campo de trabalho, ao nos depararmos com os problemas sociais que nossa especificidade deveria tratar sentimos que determinados conhecimentos foram inúteis e pouco aplicáveis na prática; d) Produção de pesquisa a partir de um trabalho de conclusão de curso – os cursos não garantem que tenhamos acesso, no currículo, de conhecimentos que nos permitam compreender a ciência, os instrumentos, métodos e metodologias de pesquisa. Conhecemos a pesquisa através de um trabalho de conclusão de curso, quando é exigido. Esse problema é grave, pois através da produção de conhecimento conseguimos intervir na realidade de forma mais efetiva; e) Precariedade do tripé ensino, pesquisa, extensão – ao não termos acesso a prática desde o início do semestre e ao não termos a pesquisa garantida em nosso currículo, a articulação entre ensino, pesquisa e extensão fica individualizada e não aparece enquanto uma preocupação da Universidade. Garantir a articulação entre essas três esferas é fundamental para que possamos intervir de forma qualificada e socialmente referenciada no mundo do trabalho, encontrarmos os problemas que a classe trabalhadora enfrente e retornarmos a Universidade, para encontrarmos caminhos de superação e produzir conhecimento socialmente útil; f) Organização do conhecimento se da de forma linear, etapista - temos uma formação pautada no positivismo, na soma de partes, não conseguimos articular os conhecimentos para por em prática, cabe ao indivíduo, mais uma vez, articular os conhecimentos e tentar intervir de forma qualificada no mundo do trabalho; g) Formar a partir de competências e habilidades a partir da teoria do capital humano - cabe ao indivíduo buscar uma formação de qualidade (conhecimentos, pesquisa, extensão), formação individualizada, responsabilidade única e exclusiva desse sujeito, intuito de qualificar a força de trabalho, não caracterizando o sujeito a partir das suas diversas dimensões, somente através do viés mercadológico e seu valor de troca. O movimento estudantil aponta a necessidade de buscar uma formação diferente, colocando sempre os estudantes na luta, as executivas produzindo materiais para debate, para discussão política. O que está posto para nós é a necessidade de uma luta articulada. O debate de formação está vinculado diretamente ao debate de Universidade, pois lutar por uma avaliação de qualidade, lutar por maior investimento, contra os projetos de precarização e privatização da universidade pública é lutar por uma formação de qualidade. Esses problemas não estão isolados dos problemas maiores da organização social, mas cabe ao Movimento Estudantil de esquerda, organizado e classista pensar a formação e seus rumos, compreendendo que é uma luta específica vinculada a uma luta geral, social e de classes. via fenex.wordpress/2013/07/10/critica-a-formacao-no-ensino-superior-posicionamento-do-fenex/
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 03:31:39 +0000

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