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Crônica da Cidade por Severino Francisco >> [email protected] Publicação: 22/07/2013 04:00 A farra dos shows Brasília vive uma situação de teatro do absurdo: de um lado, sob a alegação de falta de recursos, o circuito de espaços culturais (no Plano Piloto e cidades da periferia) está caindo aos pedaços — e de outro, suas Excelências distritais (em conluio com as administrações regionais) patrocinam uma farra com o dinheiro público por meio da promoção de festas e shows (supostamente) superfaturados ou, no mínimo, suspeitos. É graças a esses expedientes que boa parte deles se elegeu e se reelege: uma política de curral eleitoral digna de arraiais provincianos do início século passado, na contramão da onda dos movimentos de rua do século 21, clamando por moralidade pública e por serviços de transporte, de saúde e de educação com qualidade. Em face dos desmandos, felizmente, o próprio GDF, por meio da Secretaria de Cultura, resolveu tomar uma atitude, impondo regras mais rígidas para a seleção dos projetos e suspendendo novos contratos, informa matéria do repórter Almiro Marcos, no caderno Cidades. Segundo a reportagem, em 2012, as festas e os eventos culturais dragaram R$ 34,25 milhões dos cofres públicos. E, em 2013, suas Excelências distritais se empenharam em brindar R$ 58 milhões precisamente a emendas para a área sob suspeição, contra determinação do próprio GDF no sentido privilegiar, no mínimo, 40% dos recursos, a investimentos em setores prioritários. O escândalo mais recente envolveu o cantor goiano Amado Batista, contratado pela Administração Regional do Itapoã por R$ 400 mil. O pior de tudo é ver o prejuízo debitado na conta da “cultura”. Permitam-me discrepar. Na verdade, a maioria desses shows envolve uma subcultura dominante graças ao chamado jabá, outra instituição nefasta, que contribuiu (e contribui) decisivamente para a destruição da rica diversidade musical brasileira. Do jabá ao superfaturamento é um pulo. É precisamente a ausência de cultura e educação de qualidade que abrem espaço para tais trambiques. A experiência revela que só essa dupla tem conseguido retirar as crianças e os adolescentes da rota da violência, do tráfico de drogas e do tráfico de asneiras midiáticas. Não é por acaso que os traficantes do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, determinaram o fechamento da ONG Afroreggae, que, há várias décadas, desenvolvia um magnífico trabalho de arte educação com os jovens da favela. Os traficantes sabem onde mora o perigo. Como diz o José Damata, coordenador do Cinema Voador: “É cultura ou crack”. Se alguém inserisse a Câmara Distrital do DF no Guinness, o livro dos recordes, como a pior do mundo, qualquer pessoa de boa fé teria dificuldades em negar a evidência. Ela acumula uma larga folha de desserviços prestados à imagem de Brasília. Espero que o Ministério Público entre em campo, urgentemente, e coloque a sua lupa na farra das festas e dos shows patrocinados com o nosso dinheiro. A consciência social de boa parte das Excelências distritais é o Ministério Público, a Polícia Federal e o Bope.
Posted on: Mon, 22 Jul 2013 10:57:10 +0000

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