De Cachoeirinha ao Rio de Janeiro: SOMOS TODOS - TopicsExpress



          

De Cachoeirinha ao Rio de Janeiro: SOMOS TODOS AMARILDOS! Publicado em 19/08/2013 Por D. Aroeira “E a vitória será nossa com certeza, com a aliança operária e camponesa!” Zé Bentão – Bandeira da Revolução “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Esta definição de Euclides da Cunha ficou célebre, talvez porque tenha capitado um aspecto essencial não apenas do camponês nordestino, o qual retrata em seu livro “Os sertões”, mas de todo o povo pobre na história do Brasil. Estão em voga discursos e supostas teorias que buscam justificar a situação de opressão e penúria em que vive o povo brasileiro pela existência de uma suposta “natureza pacífica” de nossa gente. Por este caminho, são “aprovados” nos gabinetes e departamentos da burocracia universitária inúmeros livros que, no torpe objetivo de deturpar a história, entulham as estantes de bibliotecas e livrarias. “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, publicado no final do século XIX e no qual relata a saga dos camponeses pobres do interior da Bahia durante a histórica resistência de Canudos, é uma exceção a esta regra, sendo muito mais coerente, histórica e cientificamente, do que a grande maioria da produção acadêmica contemporânea. Produção esta que peca não apenas pela falta de rigor em suas pesquisas e análises, mas, sobretudo, pela inexistência da imprescindível honestidade intelectual que tão bem caracteriza a obra de Euclides. Falta de honestidade endêmica não apenas na academia, como, também, na imprensa que, no Brasil, se transformou num monopólio controlado por meia dúzia de mafiosas famílias. O que a imprensa e a intelectualidade fizeram com os moradores de Canudos à época, taxando-os de fanáticos monarquistas, continuam a fazer na atualidade com os camponeses pobres em luta pela terra, tratados como criminosos. E contra tantos “Amarildos”, “desparecidos” pelo Estado nas periferias das grandes e médias cidades do país, apresentados como “vândalos”, “bandidos” com “passagem pela polícia”, noticiados como números a serem computados pelas estatísticas oficiais. Todo este discurso busca encobrir a existência de uma luta radical entre classes exploradoras e classes exploradas que percorre toda a história do Brasil desde a chegada do primeiro colonizador e que, pelo seu caráter antagônico, só poder ser resolvida pela via revolucionária, com a destruição de toda a velha ordem e a construção de uma nova e verdadeira democracia. Cabe aqui uma confidência, quando decidi contribuir com a imprensa popular, optei pela alcunha de “Aroeira” porque esta madeira é símbolo da fortaleza do espírito sertanejo anunciada por Euclides, como forma de homenagear nossos Severinos e Amarildos que são a própria razão de existir dos meus textos. Faz poucos dias, conheci uma pessoa incrível que condensa esta força, essa firmeza do cabloco nordestino e que é uma marca de nosso povo. Seu Geraldo Lajeado chegou aqui em Montes Claros, capital política extraoficial do Norte de Minas, para realizarmos uma campanha de denúncia contra a tentativa de expulsão das trinta famílias camponesas que vivem há treze anos na Comunidade Vitória, município de Verdelândia. Passamos por várias salas de aula da Unimontes – Universidade Estadual de Montes Claros – participamos de eventos e reuniões. Em todas as ocasiões, Seu Geraldo, com simplicidade mas muita astucia e bom humor, conquistou os corações de estudantes e professores, declamando seu poema que conta a história do Massacre de Cachoeirinha, ocorrido em 1967, no qual o 10° Batalhão da PM, comando pelo famigerado Coronel Georgino Jorge de Souza, expulsou centenas de famílias camponesas de suas terras: Vou contar uma pequena história dos posseiros de Cachoeirinha… viviam todos tranquilos criando porco, bode e até mesmo galinha viviam todos em seu pedaço de chão criando porco, galinha e até mesmo feijão quando foi um belo dia todos levaram um susto que chegaram a dar um grito de repente, apareceu, o maldito Manoelito Ele chegou fazendo a maior judiação destruindo todos os barracão e queimando toda a alimentação de nossos irmão… alguns lhe pergunto: – qual a sua intenção? Ele respondeu, com a voz mansinha: - “a minha intenção é por todo mundo para correr e ser dono de Cachoeirinha!” Ficaram todos sem alimentação e sem nenhum tostão na gibeira prá acabar de completar, chegou o Coronel Georgino conhecido como Papagaio de Carvoeira Ele chegou protegido, com seu Batalhão E os posseiros protegidos com Jesus no coração Uns foro para a cidade e outros pra debaixo do chão agora nós mandamos um recado: - “se Coronel Georgino viver e Manoelito aparecer em Cachoeirinha eles num entra mais não!” A história de Seu Geraldo Lajeado é a própria história do campesinato brasileiro, saga dos camponeses pobres em luta contra o poder secular do latifúndio semifeudal. Milhares de homens como Seu Geraldo Lajeado, vitimados por incontáveis massacres como o de Cachoeirinha, foram expulsos por coronéis como Manoelito e Georgino. Centenas de milhares de camponeses pobres como seu Geraldo se transformam diariamente em Severinos expulsos de suas terras pela miséria imposta pelo latifúndio, sendo obrigados a migrar do sertão para as capitais, como é descrito magistralmente por João Cabral de Melo Neto em seu livro/poema “Morte e Vida Severina”. Mas, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” e, por ser um forte, migra, não porque esteja fugindo das dificuldades, mas para vencê-las. O sertanejo só abandona o sertão quando já não há a menor possibilidade de lá sobreviver com dignidade e sempre no objetivo de retornar para sua terra natal. Mesmo quando vive na capital ou nas grandes obras do PAC que, impulsionadas pelo capital burocrático, se espalham do Oiapoque ao Chuí, o sertanejo vive como exilado, como um estrangeiro dentro de seu próprio país e nunca tira a sua humilde cidadezinha natal de sua mente e coração, mantendo sempre aceso o sonho de regressar, como contam as músicas de nosso querido Gonzagão que neste ano completaria cem anos. De Severinos milhares se transformam em Amarildos, de camponeses expulsos de suas terras em operários que constroem toda a riqueza que existe mas que, por não terem terras nem dinheiro, são obrigados a viver em morros e favelas, iniciando uma nova saga, ou melhor, uma nova fase da mesma saga iniciada no sertão. A verdadeira história do Brasil, que não é contada na maioria dos livros, escolas e universidades, é a saga destes Severinos e Amarildos. É a história de tantos homens e mulheres que constroem toda a riqueza que existe sob os céus e que vivem na mais extrema e absurda miséria, explorados pela grande burguesia, o latifúndio e o imperialismo, oprimidos pelo velho estado reacionário. Os Severinos do sertão e os Amarildos dos morros e periferias sempre resistiram e lutaram e é por este motivo que estão unidos historicamente em uma aliança que é o próprio símbolo dourado da foice e martelo estampado nas bandeiras vermelhas da nova sociedade que começou a emergir com a Revolução Bolchevique. Um operário da construção civil, armador, chamado Osmir Venuto da Silva, combativa liderança dos operários da construção civil de Belo Horizonte e região, veterano militante revolucionário, falecido recentemente aos sessenta anos de idade, sempre falava nas assembleias do sindicato Marreta, o qual dirigiu durante vinte e cinco anos, que o operário da cidade é o mesmo camponês que foi expulso de suas terras pelo latifúndio e que, portanto, operários e camponeses deveriam fortalecer sua aliança, lutando juntos pela Revolução de Nova Democracia. O companheiro Osmir botou em prática aquilo que dizia. Sua história se liga a de Cachoeirinha e a de Seu Geraldo Lajeado já que Osmir participou ativamente na luta pela retomada das terras griladas por Manoelito e Coronel Georgino. E se liga também a do pedreiro Amarildo, desaparecido no Rio de Janeiro na comunidade pobre da Rocinha e que é procurado pela juventude da capital fluminense, que acusa ter sido o operário assassinado pela polícia. O sindicato Marreta, dirigido por Osmir durante estes vinte e cinco anos, denunciou e segue denunciando a penúria de tantos Amarildos assassinados pelas balas da polícia e pela ganância patronal, em acidentes ocorridos em função da criminosa negligência dos monopólios da construção civil. Hoje, quando o povo se levanta contra toda esta situação de miséria e extrema violência, as máscaras que encobrem os rostos por de trás das barricadas em chamas não são simplesmente uma forma dos manifestantes se protegeram da prisão e perseguição política. Os rostos encobertos dos manifestantes são um símbolo do anonimato de tantos Severinos e Amarildos que formam uma mesma classe de proletários em luta contra esse sistema capitalista apodrecido, construindo a aliança operário-camponesa, base da frente única revolucionária que, dirigida pelo proletariado, edificará um novo mundo de pão, terra, justiça e paz! “Os capuzes são os rostos dos que lutam!” – está escrito nos cartazes. Por de trás de nossas mascaras NÃO SOMOS VÂNDALOS! SOMOS TODOS SEVERINOS! SOMOS TODOS AMARILDOS!
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 23:29:42 +0000

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